MULTILATERALISMO

Haddad fala em re-globalização e defende taxação de riquezas em evento do G20

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforça, na abertura de trabalhos da presidência do Brasil no G20, a agenda do governo brasileiro e defende a tributação de riquezas e a re-globalização para o desenvolvimento sustentável

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou a abertura da Trilha Financeira do G20 -- grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia -- para reforçar a agenda prioritária do Brasil na presidência do bloco.: a luta contra a fome e a desigualdade; o desenvolvimento sustentável e transição energética; e a reforma da governança global.

"Esta é a agenda que o Brasil gostaria de avançar no G20.o discurso de tributação o encontro com representantes do G20. Sabemos que é uma agenda ambiciosa. Sabemos também que fazê-la avançar em circunstâncias desafiadoras como as que enfrentamos atualmente não será fácil", afirmou o ministro,nesta quinta-feira (14/12), em evento no Palácio do Itaramaty. Ele assegurou que o país assume a presidência do G20 "com otimismo, mas também com senso de realismo e pragmatismo".

"Sabemos que o G20 é um fórum orientado para resultados e liderado pelos membros. Na trilha financeira, valorizamos as contribuições dos co-chairs e os legados de presidências anteriores", destacou ele, defendendo, entre outras coisas, maior tributação de riquezas e uma re-globalização como solução para o desenvolvimento sustentável.  "Temos de construir uma nova globalização, baseada em preocupações socioambientais – uma re-globalização socioambiental que funcione para todos e nos ajude a acelerar o desenvolvimento sustentável. Agora, mais do que nunca, construir muros e criar ilhas isoladas de prosperidade é impraticável, para não dizer imoral. Temos de enfrentar juntos os nossos muitos desafios contemporâneos e lutar para criar um mundo justo e um planeta sustentável", afirmou.

O ministro ressaltou que os dois grupos de trabalho propostos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o combate à fome e o combate à mudança climática são um apelo a um G20 unido e ao alinhamento de recursos no nível de ambição esperado pelos nossos líderes. "Essa é nossa chance de reconectar o Sul e o Norte globais em torno de uma agenda positiva de transformação social, econômica e ecológica", disse.

Em relação à transição energética, Haddad disse que todos precisam estar conscientes dos seus impactos distributivos globais e nacionais e de suas consequências socioeconômicas. "Em suma, precisamos de soluções sistêmicas que coloquem as considerações sociais no centro do debate sobre as alterações climáticas. Além disso, os países precisam aumentar o espaço fiscal para apoiar investimentos públicos de qualidade que promovam as transformações estruturais necessárias para combater a desigualdade e impulsionar uma transição energética global justa. Gostaríamos de iniciar aqui uma conversa sobre estratégias para atrair investimentos e acelerar planos de desenvolvimento sustentável, como o plano brasileiro de transformação ecológica", afirmou.

Uma das agendas de trabalho destacadas por Haddad foi a do Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis, que na avaliação dele, é de grande relevância para o Brasil. "Vemos o trabalho a ser feito aqui em 2024 como uma ponte para a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém, em 2025. O Brasil inicia um ciclo de protagonismo ainda maior em termos de financiamento climático", afirmou. "Queremos melhorar a eficiência dos fluxos financeiros para os países que mais necessitam de recursos para proteger ativos ambientais estratégicos e cumprir as suas metas de descarbonização de forma justa e equitativa. Por essa razão, precisamos rever cuidadosamente o funcionamento dos principais fundos climáticos existentes, bem como continuar as discussões sobre o ambiente regulamentar que permitirá fluxos maciços de recursos para o Sul Global", acrescentou.

Ao citar um discurso que fez em Marrakech, no Egito, recentemente, Haddad voltou a afirmar que o mundo está enfrentando uma policrise e admitiu preocupação com o endividamento global.  "A catástrofe ambiental bate à nossa porta. A fragmentação geopolítica está aumentando. O progresso na erradicação da fome e da pobreza extrema estagnou desde a pandemia. A desigualdade global de riqueza e de renda atingiu níveis inaceitáveis. As condições financeiras e monetárias estão mais restritivas, ninguém sabe exatamente por quanto tempo", afirmou. "O aumento da dívida é uma preocupação em todo o mundo. Vários países já possuem dívidas grandes demais, enquanto continuamos lutando para construir um sistema global de resolução de dívida que funcione com a velocidade e a agilidade que deveria. Os nossos bancos multilaterais e organizações internacionais não estão bem equipados para enfrentar os desafios que temos pela frente", adicionou.

No discurso, Haddad afirmou que Na trilha financeira, valorizamos as contribuições dos co-chairs e os legados de presidências anteriores. Não estamos construindo nada do zero, nem reinventando a roda, e nos comprometemos a trabalhar em estreita colaboração com os membros e organizações parceiras. Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer sinceramente à Índia pelo generoso apoio que nos ofereceu na transição para a presidência brasileira. Juntamente com a África do Sul, tenho a certeza de que esta Troika deixará um legado importante para os trabalhos do G20, criando definitivamente espaço para as antigas prioridades do Sul Global na agenda financeira internacional. Haddad ainda reivindicou a necessidae de abordar o peso da dívida dos países de baixo e médio rendimento de uma forma estrutural e preventiva, dando espaço aos países endividados para definirem também a agenda.

Ao comentar sobre reforma tributária, afirmou que os membros empenhados nessas negociações têm a intenção de "reforçar a solução baseada em dois pilares e alcançar um resultado satisfatório para todos". "Ao mesmo tempo, ouvimos vozes cada vez mais altas do Sul Global e da sociedade civil, exigindo uma agenda fiscal internacional mais ambiciosa, incluindo a tributação da riqueza, maior transparência e outras soluções para fazer com que os mais ricos do mundo paguem a sua justa contribuição em impostos. Vindo de um processo de reforma tributária no Brasil, tenho uma convicção particularmente forte sobre a necessidade de reforçar a cooperação global nesta área".

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