Energia

Petróleo do Oiapoque ao Chuí

Enquanto o mundo discute alternativas para substituir os combustíveis fósseis, empresas vão ampliar a exploração petrolífera da Amazônia ao Rio Grande do Sul, como resultado do leilão promovido pela ANP

No momento em que, pela primeira vez, uma conferência do clima das Nações Unidas aprova um acordo para reduzir o uso de combustíveis fósseis e acelerar a transição energética, o Brasil amplia a área de produção de petróleo no país. Depois do leilão de petróleo e gás natural, promovido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (13/12), a exploração vai se estender por toda a costa brasileira, com a perspectiva de abertura de poços na costa Sul do país. Das 602 áreas ofertadas no certame, foram arrematadas 192, com arrecadação aos cofres do governo de R$ 421,7 milhões.

A novidade foi o alto interesse dos investidores pela Bacia de Pelotas, que abrange o litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Em consórcio com outras petroleiras, a Petrobras arrematou a maioria dos blocos ofertados. Ficou com 29, enquanto a Chevron (dos Estados Unidos) arrematou 15. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, comentou, após o leilão, que a estatal inaugura “uma área nova, com menos perspectivas de problemas ambientais e de demoras (nos processos de licenciamento)”. “É uma área parecida com as bacias de Campos e de Santos”, comparou.

 

 

"Novas fronteiras, a exemplo dos blocos adquiridos hoje, são essenciais para que a demanda de energia seja atendida”, disse Prates. “Por isso, buscamos a reposição de reservas e o desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias que assegurem o atendimento à demanda de energia durante a transição energética com a menor pegada de carbono possível”, explicou ele, em relação aos objetivos estratégicos da estatal.

Para a Petrobras, a exploração de óleo e gás no Sul do país, além de abrir uma nova frente de produção, também vai ajudar a estatal a implantar sistemas de geração de energia eólica nas plataformas offshore (no mar), mitigando os efeitos da carbonização provocada pela cadeia petrolífera.

Contradição

Na abertura do certame, o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, rebateu as críticas de que o país estaria sendo contraditório ao estimular o aumento da produção de combustíveis fósseis em um momento em que o mundo discute como reduzir emissões de gases de efeito estufa para frear o aquecimento global. Aos investidores, disse que “a contratação de novas áreas para exploração significa um passo muito
importante para evitar a queda da nossa produção já a partir do início da próxima
década”.

“A necessidade de manter a exploração e a produção de petróleo nacional pode parecer uma contradição com o momento em que vivemos, atualmente, no mundo. A transição energética é uma realidade inexorável”, declarou Saboia. A contradição, para ele, “é apenas aparente”, pois uma “eventual paralisação da atividade petrolífera no Brasil não contribuiria para a redução da dependência do petróleo nem para a mitigação das mudanças climáticas, mas, apenas, nos tornaria mais pobres, mais dependentes de outros países que continuarão produzindo com pegadas de carbono mais intensas do que a nossa, e menos capazes de investirmos em tecnologias verdes”.


Exploração na Amazônia

A ANP também ofertou quatro blocos terrestres na região de Manaus, que foram arrematados pela Atem. Em um deles, em consórcio com a Eneva, pagou R$ 7,8 milhões pela licença, um ágio de 360% sobre os preços mínimos. As áreas de exploração estão situadas na Floresta Amazônica, nos municípios de São Sebastião do Uatumã e Urucará, a pouco mais de 200km de Manaus.

A organização ambientalista não governamental Arayara chegou a apresentar à ANP um estudo em que alerta para os riscos da exploração em relação aos povos originários. Segundo a ONG, há ameaça direta a 23 terras indígenas (TI), que estão sob a zona de influência de 15 dos blocos ofertados ontem, com impactos para cerca de 22 mil indígenas. O Ministério Público Federal (MPF) também está questionando a agência reguladora a explicar melhor os impactos da exploração na região.

A ANP também ofereceu aos investidores, ontem, áreas de exploração na Bacia Potiguar, que faz parte da chamada Margem Equatorial, considerada a mais promissora do país, mas que enfrenta fortes reações por parte de ambientalistas por se estender até a foz do Rio Amazonas. Segundo o presidente da Petrobras, a expectativa é que a estatal inicie no ano que vem a perfuração do primeiro poço, nas águas ultraprofundas do Amapá, que já conta com licença ambiental expedida pelo Ibama.

“Estamos com meio caminho andado para a Foz do Amazonas. Já fizemos muito trabalho, atendemos todas as exigências e aguardamos resposta ao nosso recurso”, disse Jean Paul Prates.

 

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