As emissões de gases de efeito estufa derivado da pecuária na América Latina não contabilizadas corretamente, além de ter um impacto muito menor no aquecimento global. Isso é o que revelou o estudo, refletido no documento Pecuária bovina e mudanças climáticas nas Américas: rumo a modelos de desenvolvimento de baixo carbono, de autoria do cientista Ernesto Viglizzo, que foi apresentado no pavilhão do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na COP28, no domingo (3/12), em Dubai.
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O documento faz alerta nas publicações que atribuem parte significativa da responsabilidade pelas mudanças climáticas à pecuária bovina são contabilizadas de forma equivocada, pois concede emissões que não correspondem a outros setores da economia, como industrial, transportes, residencial, distribuição ou consumo doméstico.
Segundo o texto, as atividades pecuárias são as que se limitam ao período de criação dos animais, e não deveriam ser atribuídas às cadeias da carne bovina. "Um pecuarista, indica, não pode carregar nas costas emissões que não dependem estritamente das suas atividades, mas de outros setores."
Assim, o relatório do IICA detalhou setores como processamento, transporte e distribuição de carne na sequência da atividade pecuária, que geram uma quantidade elevada de emissões, uma vez que consomem combustíveis fósseis — sendo o principal responsável pelas alterações climáticas. Ao atribuí-lo à pecuária, aumenta-se a pegada de carbono — instrumento que será usado pelos países importadores de alimentos para levantar barreiras comerciais de produtos que entram de países terceiros.
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Por meio disso, o documento traz a incidência do gado nas emissões globais de carbono que tem diminuído persistentemente nos últimos 60 anos. Isso significa que as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis cresceram a um ritmo significativo mais rápido do que a taxa de aumento das emissões biogênicas do gado.
O cálculo do Balanço de Carbono analisa a economia de carbono no sistema propriedade e não por tonelada de carne produzida. O balanço de carbono apresenta-se como uma opção mais adaptada que a pegada de carbono à pecuária extensiva de base pastoril. Seu cálculo implica estimar anualmente não apenas as emissões, mas também a captura e armazenamento de carbono no sistema analisado.
“Se apenas as suas emissões biogênicas (produzidas pelas vacas) fossem atribuídas ao gado, seria fácil verificar que o impacto no clima global é muito inferior ao estimado. Atualmente, esse valor não ultrapassa 5% das emissões globais e tende a diminuir percentualmente quando comparado com as emissões globais de carbono de todos os setores da economia e da sociedade”, afirma o trabalho de Viglizzo.
O estudo também faz uma análise sobre os pacotes de tecnologias climaticamente inteligentes aplicados na pecuária, por meio de simulação matemática, que, em escala agrícola, é possível capturar dezenas de carbono anualmente e gerar saldos positivos beneficiando todas as cadeias agroalimentares. Esses pacotes incluem desenho de diferentes configurações silvo-pastoris, utilização de corretivos orgânicos, intemperismo de rochas por meio de britagem de silicato que produzem captura inorgânica de carbono atmosférico e outros exemplos citados no documento.
Para a pesquisa, os resultados mostram que é possível diferenciar, por meio de métodos relativamente simples, os produtores que geram créditos de carbono daqueles que não o fazem. Assim, abrindo uma porta para valorizar os primeiros, como uma solução para as alterações climáticas.
Chefe de gabinete da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Renata Miranda indicou que “quando falamos de pecuária e mudanças climáticas devemos falar em redução de emissões e adaptação, porque se não nos adaptarmos não conseguiremos produzir alimentos no futuro”.
O ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, elogiou o documento do pesquisador. “Nas últimas décadas temos sido vítimas de ataques muito prejudiciais à imagem do setor agrícola, tentando nos responsabilizar como um dos maiores causadores das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Mas é o único sector produtivo da economia que é essencial para a segurança alimentar e deve ser interpretado pelo que é: um sector que captura carbono", disse.
O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, destacou que a pecuária explica metade do PIB agrícola da América Latina e do Caribe. “A pecuária na região tem feito progressos importantes no sentido da transformação de sistemas pecuários sustentáveis, com estratégias para reduzir os impactos na água, no solo e nas emissões, incluindo o desenvolvimento tecnológico e a adoção de boas práticas. Temos que demonstrá-lo perante os diferentes fóruns internacionais e é isso que estamos fazendo”, disse.
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