O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem a entrada do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), durante sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023, a COP28, em Dubai. O evento é a maior conferência mundial sobre o clima, e reúne chefes de Estado de todo o globo. Segundo o petista, o papel do Brasil no grupo será o de convencer os produtores de petróleo sobre o fim do uso de combustíveis fósseis, medida considerada essencial para conter as mudanças climáticas. Ele visa também incentivar que os países invistam em iniciativas para produção de energia limpa, especialmente na América do Sul e na África.
Sem direito a voto
A entrada do Brasil na Opep+ já havia sido sinalizada pelo governo durante a conferência do clima. Lula está em Dubai desde quinta-feira. Ele recebeu o convite durante visita à Arábia Saudita, um dos maiores exportadores de petróleo do mundo. A possibilidade de adesão recebeu críticas, por exemplo, sobre a contradição de o país se aliar ao órgão que define os rumos do uso do petróleo enquanto defende a transição verde no cenário internacional. Integrantes do governo, porém, negam que esse seja o caso do grupo estendido. Enquanto a Opep reúne os 13 maiores produtores e vota para definir políticas petrolíferas mundiais, os aliados da Opep participam das discussões, mas não têm direito a voto.
"O Brasil não vai participar da Opep, vai participar da Opep+. É que nem eu participar do G7. Eu participo do G7 desde que ganhei (a eleição) para a Presidência da República. Vou lá, escuto, só falo depois que eles tomam a decisão, e vou embora. Eu não apito nada", explicou. "Acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis", acrescentou o presidente. Ele comentou o assunto durante reunião organizada com representantes da sociedade civil, como indígenas, quilombolas e jovens.
Segundo Lula, a ideia é convencer os produtores de petróleo a investir na produção de combustíveis renováveis, especialmente o hidrogênio verde. O combustível é uma das apostas do Brasil para a transição energética. Ontem, durante a COP28, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, participou da assinatura de um memorando de entendimento entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Mundial para financiar a cadeia de produção do hidrogênio de baixo carbono. Para ele, a medida pode "acelerar a transição, de uma maneira justa e inclusiva". Além disso, a Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira, o marco legal para produção do hidrogênio verde.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por sua vez, negou que a entrada na Opep+ vá afetar a produção brasileira de petróleo. Os 13 membros da Opep votam cotas de petróleo, limitando a produção do combustível para poder vendê-lo a preços mais elevados no mercado internacional. "Jamais participaríamos de uma entidade que estabelecesse cotas para o Brasil, ainda mais com a Petrobras, que é uma empresa aberta no mercado e não pode ter cota", disse.
Mesmo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, garantiu que a entrada no grupo expandido não é contraditória à posição ambiental do Brasil. "É exatamente para levar ao debate o que precisa ser enfrentado nos âmbitos daquele espaço, que são os grandes produtores de combustível fóssil, o grande responsável pelo aquecimento do planeta", enfatizou.