conjuntura

Passagem aérea puxa para cima variação de prévia da inflação em dezembro

Preços subiram 9,02%, em dezembro, e provocaram o maior impacto individual no IPCA-15, que registrou alta de 0,40% no mês. Haddad disse que os valores dos bilhetes inspiram preocupação porque "cresceram, nos últimos quatro meses, 65%"

O subitem passagem aérea subiu 9,02% e teve o maior impacto individual no índice, se tornando o grande vilão do mês -  (crédito: Bao Menglong/Unsplash)
O subitem passagem aérea subiu 9,02% e teve o maior impacto individual no índice, se tornando o grande vilão do mês - (crédito: Bao Menglong/Unsplash)
postado em 29/12/2023 03:55

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, subiu 0,4% em dezembro ante novembro. Segundo os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado ficou bem acima da mediana das expectativas de analistas de mercado, que esperavam uma alta de 0,25% no indicador.

ipca dezembro
ipca dezembro (foto: pacifico)

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, sete registraram alta nos 30 dias até 15 de dezembro. A maior variação e o principal impacto vieram do grupo de transportes, com avanço de 0,77% e impacto de 0,16 ponto percentual.

O subitem passagem aérea subiu 9,02% e teve o maior impacto individual no índice, se tornando o grande vilão do mês. Em relação aos combustíveis, houve queda de 0,27%, puxada pelos menores preços do óleo diesel, do etanol e da gasolina, enquanto o gás veicular registrou variação positiva de 0,08%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, ontem, que o aumento dos valores das passagens "inspira preocupação", mesmo que os demais preços estejam controlados.

"O que está nos preocupando em relação ao IPCA é um item, que são as passagens aéreas. Elas cresceram, nos últimos quatro meses, 65%. Já estavam caras há quatro meses e subiram 65%, o que está afetando o indicador", comentou.

Haddad salientou que essa "não é uma inflação que afeta de maneira uniforme toda a sociedade, mas afeta efetivamente quem faz uso desse meio de transporte". "Então, é um impacto muito forte no IPCA."

O governo federal e as três principais companhias aéreas do Brasil anunciaram, na semana passada, a primeira etapa do Plano de Universalização do Transporte Aéreo, cujo objetivo é reduzir o preço das passagens no país. Juntas, Azul, Gol e Latam correspondem a cerca de 98% do mercado brasileiro de aviação. As três companhias se comprometeram a estabelecer um número de bilhetes por ano para serem submetidos a um valor máximo, uma espécie de preço-teto.

Cada empresa divulgou uma série de medidas para 2024, incluindo a criação de cotas de passagens a valores reduzidos, cujo teto é de R$ 799, para compras feitas com mais de 14 dias de antecedência. O preço, no entanto, é próximo à média do já praticado.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as passagens em voos domésticos atingiram preço médio de R$ 747,66 em setembro, recorde da série histórica, iniciada em 2010.

No ano, a tarifa média calculada pela agência reguladora foi de R$ 644, valor mais baixo que o estipulado para o teto pelas aéreas.

Alimentação em alta

O grupo de alimentação e bebidas voltou a subir, registrando avanço de 0,54% em dezembro. Com isso, o indicador abandonou de vez o viés de queda que havia registrado no terceiro trimestre do ano. A alimentação em domicílio, que mede os preços de itens primários, subiu 0,55%.

Contribuíram para esse resultado as altas da cebola, da batata-inglesa, do arroz e das carnes no último mês. Por outro lado, os preços do tomate e do leite longa vida caíram. A alimentação fora do domicílio também acelerou e registrou elevação de 0,53%.

Apesar do aumento, a pesquisa apontou que alguns produtos tiveram quedas significativas ao longo de 2023. O subgrupo de alimentos que mais se desvalorizou neste ano foi o de óleos e gorduras, com recuo de 13,74%, na comparação com 2022. Na sequência, o preço médio da carne vermelha também teve forte queda e chega ao fim de 2023 com diminuição de 9,26%.

Também contribuiu para o resultado de dezembro o avanço de 0,48% do grupo de habitação. As demais variações ficaram entre a queda de 0,46% de comunicação e a alta de 0,56% de despesas pessoais.

Apesar da elevação do indicador, o economista André Perfeito, mestre em economia política, ressaltou que houve aumento no índice de difusão em serviços e aceleração dos núcleos de inflação, contrariando as últimas medições.

"Apesar da surpresa negativa, não vejo uma piora significativa, afinal está evidente que à medida em que melhorarem os dados econômicos — em especial a queda do desemprego — é razoável supor alguma elevação de preços, especialmente em serviços", disse Perfeito.

Segundo Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, o resultado da prévia da inflação deve fazer com que o mercado reveja as projeções para o índice cheio de dezembro. "Deve ficar em algo em torno de 0,60%, mas ainda assim se mantendo abaixo do teto da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Ou seja, após dois anos de estouro da meta, o IPCA deve confirmar o retorno ao intervalo-limite", destacou.

O IPCA-15 fechou o ano acumulando variação de 4,72%. Em 2023, o centro da meta perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Por isso, será considerada formalmente cumprida se o índice oficial oscilar entre 1,75% e 4,75% neste ano. A última vez que a inflação oficial fechou o ano dentro do limite foi em 2020. (Colaborou Edla Lula)


 

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