O Brasil está adotando uma postura contraditória ao defender a transição energética e, ao mesmo tempo, estimular o aumento da produção interna de combustíveis fósseis. Essa é a avaliação da coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, Suley Araújo, que participou, nesta terça-feira (19/12) do seminário CB Debate Desafios 2024: o Brasil no rumo do crescimento sustentado, na sede do Correio, em Brasília. Para a especialista, petróleo sustentável é “fake news”.
“A crise climática já chegou”, disse ela, ao apontar a necessidade de priorizar a adaptação ao novo normal da temperatura do planeta em vez de buscar formas de mitigar o problema. “Não há mais tempo, já gastamos nosso orçamento de carbono. A crise está aí e temos que lidar com ela”, alertou Araújo, que participou do último painel do dia, cujo tema foi O clima não pode esperar.
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Ela criticou fortemente a política energética do governo, que estimula o aumento da produção de petróleo com a licitação de novas áreas de exploração, incluindo a Margem Equatorial, que abrange parte do litoral do Nordeste e todo o trecho marítimo da Região Norte.
"Essa opção, em plena crise climática, é complexa. A Petrobras tem tecnologia para reduzir emissões, mas é a queima do petróleo que mais compromete (os esforços de frear o aquecimento global). Não existe petróleo sustentável, isso é fake news" Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima
Suely Araújo lamentou que a atual política energética do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com estímulos à ampliação da produção de petróleo e o recente anúncio de adesão à Opep Mais — versão ampliada da Organização dos Países Produtores de Petróleo, cartel dos maiores produtores globais —, esteja “sombreando” as conquistas “valorosas” do país nas áreas ambiental e de transição energética. Para ela, o Brasil está dando “um tiro no pé ao apostar em um mercado que está em franca redução”.
A especialista lembra que as novas áreas de produção, licitadas neste mês pela Agência Nacional do Petróleo, só vão começar a produzir comercialmente em, n oi mínimo, uma década. Nesse período, o Observatório do Clima prevê que a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global já estará bem reduzida. “Há uma contradição evidente, posicionamentos conflitantes. O anúncio da (adesão à) Opep não faz nenhum sentido”, criticou ela.
Para Suely Araújo, o país precisa “assumir a liderança do enfrentamento da crise climática” e fazer “a ponte” entre os países mais pobres e as nações desenvolvidas. “O petróleo gera dinheiro, mas não gera justiça social, benefícios para a população”, concluiu.
O Observatório do Clima é uma associação de 95 organizações não governamentais envolvidas nas questões ambientais e climáticas. A entidade acompanha e pesquisa, há mais de 20 anos, o aquecimento global e os impactos na sociedade e na economia.
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