O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro perdeu fôlego, mas ainda cresceu 0,1% no terceiro trimestre do ano, percentual próximo à estagnação. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na terça-feira (5/12), foi a terceira taxa positiva consecutiva. O desempenho superou as projeções da maioria dos analistas de mercado, que esperavam uma retração da atividade econômica. No trimestre anterior, o indicador havia registrado alta de 1%.
Com o resultado, a soma dos bens e serviços produzidos no país, alcançou novamente o maior patamar da série histórica, ficando 7,2% acima do nível pré-pandemia, registrado no quarto trimestre de 2019. Em comparação ao mesmo trimestre do ano passado, o avanço foi de 2%. Em valores correntes, foram gerados R$ 2,741 trilhões no período. De janeiro a setembro, o PIB acumulou elevação de 3,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.
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O dado surpreendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que culpou os juros altos praticados pelo Banco Central (BC) pelo fraco desempenho. "O PIB surpreendeu positivamente, porque cresceu, e o mercado estava esperando uma retração. Mas quero alertar para o seguinte: a taxa de juros real (descontada a inflação) atingiu seu patamar mais alto em meados de junho, e o Banco Central só começou a cortar os juros em agosto", comentou o ministro, em Berlim, onde acompanha a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Alemanha.
Cobrança ao BC por juros
Haddad mandou ainda um recado para a autoridade monetária ao dizer que "o Banco Central precisa fazer o trabalho dele" para que a economia termine o ano com crescimento de 3%, conforme as projeções da pasta. "Nós tivemos um PIB positivo, mas fraco. Com os cortes nas taxas de juros, esperamos fechar o PIB com crescimento de 3% neste ano, e de 2,5% no ano que vem", declarou.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, foi mais otimista e afirmou que o PIB brasileiro deve superar a média mundial. "Com a informação do terceiro trimestre, o PIB de 2023 deve crescer 3,1%, caso a economia fique estável no último trimestre do ano. Isso é mais do que a média mundial."
Sob a ótica da produção, dois dos três grandes setores econômicos avançaram no trimestre: a indústria e os serviços, ambos com alta de 0,6%. Das sete atividades analisadas no setor de serviços, que representa 67% da economia, seis ficaram no campo positivo. Já entre as atividades industriais, o único crescimento foi registrado pelo segmento de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (3,6%), influenciado pelo aumento no consumo de energia.
Preocupação da indústria
Mesmo diante do crescimento do setor, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considerou o dado "preocupante". "Apesar do início do ciclo de queda dos juros no país, os efeitos positivos ainda não se refletiram de maneira substancial na economia", destacou a entidade, em nota. A Firjan mencionou ainda um cenário externo desafiador, devido aos recentes conflitos bélicos e à persistência de taxas de juros elevadas nas principais economias do mundo. "Essa conjuntura tem impactado diretamente a economia brasileira, evidenciando a interdependência dos mercados globais", diz o comunicado.
Após cinco trimestres com taxas positivas, a agropecuária apresentou queda de 3,3%, que já era esperada com o fim da safra. "O setor atingiu o seu maior patamar no trimestre passado, e, neste, há a saída da safra da soja, que é concentrada no primeiro semestre", explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Consumo cresce
Na ótica da demanda, o consumo das famílias aumentou 1,1%, enquanto o do governo avançou 0,5%. "O crescimento do consumo das famílias é explicado por alguns fatores, como os programas governamentais de transferência de renda, a melhora do mercado de trabalho, a inflação mais baixa e o crescimento do crédito. Por outro lado, apesar de terem começado a diminuir, os juros seguem altos e as famílias, endividadas. Houve também queda no consumo de bens duráveis", avaliou a pesquisadora.
Queda de investimento compromete crescimento futuro
Dois dados importantes chamam a atenção negativamente. A taxa de investimentos da economia, nomeada de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), voltou a cair — um sinal de baixo potencial de crescimento futuro. O indicador, que estava em 17,2% do PIB no segundo trimestre, patamar já considerado bastante tímido, ficou em 16,6% no terceiro trimestre. A taxa de poupança também caiu, de 16,9% para 15,7%.
Para Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, a leitura geral revela um número benigno, mas não desejável, pois ratifica a desaceleração econômica. "O consumo das famílias é positivo, porém proveniente de incentivos fiscais. Tais medidas de caráter assistencial são também responsáveis pela tendência declinante da formação bruta de capital fixo, devido à menor confiança na trajetória das finanças públicas. Ou seja, mais consumo e menos investimento", avaliou.
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