Os planos do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, de renegociar os termos do Mercosul — o bloco econômico integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — preocupam os setores produtivos brasileiros que mantêm relações econômicas e comerciais com o país vizinho. Um desses setores é a indústria automobilística. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, cerca de 60% dos automóveis exportados pelo Brasil têm a Argentina como destino. No sentido oposto, 80% dos carros importados pela Argentina em 2022 foram produzidos no Brasil.
Na sua proposta de governo, Milei propõe a manutenção dos acordos de livre comércio entre os países do bloco, mas a Tarifa Externa Comum (TEC) — um imposto cobrado pelos membros para importação de países de fora do bloco — seria eliminada. Na prática, isso possibilitaria que cada país estabelecesse acordos de livre comércio com outras nações que não fazem parte do Mercosul. Contudo, a questão é complexa. O próprio documento oficial que especifica a TEC possui mais de 400 páginas, com múltiplos níveis de tributação e normas específicas para cada tipo de produto, valor agregado e índice de componentes locais.
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Atualmente, os argentinos vendem para o Brasil carros de maior valor agregado, enquanto as montadoras brasileiras exportam para lá carros mais baratos. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), declarou que os mercados automotivos brasileiro e argentino são complementares e, até certo ponto, interdependentes, tanto no comércio de veículos como no de peças e equipamentos.
"A Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil no setor e, ao longo dos anos, nossas relações comerciais foram aperfeiçoadas chegando aos atuais importantes patamares de volume. A Anfavea julga que esse fluxo deve continuar a ser fortalecido e incrementado, beneficiando os dois países e as demandas dos seus respectivos mercados", disse a entidade, em nota.
Competitividade
A redução ou eliminação da TEC, porém, causaria problemas sérios. "Isso significa, basicamente, que os carros produzidos em outros países vão ser mais competitivos no mercado argentino do que eram anteriormente", avaliou Leonardo Baltieri, co-CEO da Vixtra, fintech de importação.
O economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), apontou que a relação entre a indústria automobilística brasileira e a política argentina é complexa, dado que a Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil nesse setor. "A eleição de Milei pode trazer implicações que merecem atenção da indústria automobilística brasileira. Se o novo governo argentino adotar políticas protecionistas ou alterar acordos comerciais, isso pode afetar, sem dúvida, o comércio bilateral de automóveis", afirmou, "com impacto não apenas na produção das empresas, mas também nos níveis de emprego e renda da população."
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