Os patamares elevados dos juros continuam tirando o sono da micro e pequena indústria, mesmo com o Comitê de Política Monetária (Copom) tendo iniciado, em agosto, o ciclo de cortes na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 12,25% ao ano.
"Os empresários continuam bastante preocupados com a questão dos juros, porque eles veem piora no quadro macroeconômico, e 10% das empresas correm o risco de fechar nos próximos meses", alerta Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), em entrevista ao Correio.
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Ao citar dados de agosto e setembro da pesquisa Indicador Nacional de Atividade da Micro e Pequena Indústria, encomendada pelo sindicato ao Datafolha, Couri destacou que 45% dos entrevistados disseram que têm capital insuficiente para giro e estão endividados. Para 43%, a principal dificuldade para conseguir financiamento é a alta taxa de juros. Outros 27% responderam que a falta de crédito é a principal dificuldade.
"Houve piora na percepção do quadro inflacionário e, somado a isso, tem falta de crédito, instabilidade do emprego e elevação dos custos de produção. O que estamos assistindo é o aumento da preocupação da retomada inflacionária do setor", destacou o sindicalista. Ele ressalva que os dados foram apurados antes do estouro da guerra no Oriente Médio, entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que tende a piorar o cenário com aumento do preço do petróleo no mercado internacional.
"A expectativa é que o quadro vai piorar com agravamento da crise internacional e com o risco inflacionário voltando, o que significa perda do poder aquisitivo, que também é resultado das taxas de juros elevadas e do acesso ao crédito mais difícil", explica.
Em setembro, a indústria brasileira andou de lado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou variação de 0,1% na produção nacional em relação a agosto, na série com ajuste sazonal. No acumulado do ano foi registrada queda de 0,2%. Isso, apesar de o Copom ter reduzido a taxa Selic nas últimas três reuniões em meio ponto percentual, de 13,75% para 12,25% ao ano.
"A redução da taxa Selic não chegou ainda para os tomadores de crédito. Não existe empréstimo a 13,75%, e, muito menos, a 12,25% ao ano. Quem quer investir precisa tomar crédito com juros de 40%, 50%, até 80% ao ano, o que inviabiliza qualquer negócio e aprofunda o cenário de poucas perspectivas para o setor", lamentou Couri. "Um cenário é a queda da Selic, outro é a redução do custo do dinheiro na ponta", acrescentou.
A queda da inadimplência na média geral, de 35%, entre junho e julho, para 29%, entre agosto e setembro, de acordo com o sindicalista, não chega a ser muito positiva porque reflete, em grande parte, a redução da oferta de crédito devido aos casos recentes de inadimplência de grandes empresas.
Expectativas ruins
Conforme os dados da pesquisa do Simpi, o avanço na avaliação negativa da situação econômica do Brasil passou de 38% para 45%, dado que influenciou para o recuo no Índice de Satisfação Macroeconômica das micro e pequenas indústrias, de 101 para 99 pontos. O indicador varia de 0 a 200 pontos. Segundo o estudo, 32% dos entrevistados esperam melhora na situação econômica nos próximos três meses, abaixo dos 37% contabilizados no bimestre anterior. Além disso, 33% dos empresários acreditam que o quadro vai piorar, dado superior aos 26% registrados entre junho e julho.
A expectativa de que a situação da economia brasileira irá piorar nos próximos meses também cresceu entre agosto e setembro na comparação com o bimestre anterior, passando de 26% para 33%. Em queda desde fevereiro/março deste ano, a expectativa de piora na inflação voltou a subir, de 34% para 44%. Enquanto isso, a perspectiva de melhora dos negócios da empresa nos próximos meses ficou estável entre o bimestre anterior e o atual, com oscilação dentro da margem de variação, de 49% para 47%. O pessimismo aumentou no mesmo período, passando de 8% para 12%.
Couri demonstra preocupação com a Reforma Tributária e o impacto do aumento da carga para os pequenos empresários. "Temos outros riscos pela frente, como o possível aumento da carga tributária para micro e pequena empresa, que não vão poder mais compensar PIS-Cofins. Ainda temos dúvidas sobre o que vai acontecer, pois existe um risco de aumento de carga tributária", frisa.
Investimentos em queda
Diante do elevado custo dos empréstimos, a taxa de investimento recuou de 17% para 13%, menor patamar da série. Conforme os dados do levantamento, 7% dos entrevistados informaram que realizaram investimentos no mês anterior na compra de máquinas e equipamentos, abaixo dos 11% contabilizados no bimestre junho/julho.
A pesquisa mostra ainda que os investimentos na pequena indústria estão encolhendo em ritmo mais acelerado, passando de 34% para 19%, entre os bimestres de junho a julho e de agosto e setembro. Entre as micro indústrias, o percentual de empresas que informaram terem investido no mês anterior passou de 14% para 13% na mesma base de comparação.
O levantamento entrevistou 707 responsáveis por micro e pequenas indústrias nacionais entre os dias 11 e 31 de setembro. A margem de erro é de 4 pontos percentuais.
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