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'Precisamos de conectividade no campo', diz consultor agroambiental

Para o consultor agroambiental Ronaldo Trecenti, ações conjuntas entre pequenos produtores agrícolas colaboram para o aumento da acessibilidade a tecnologias e inovações de produção sustentável

A conectividade continua sendo uma das dificuldades quando o assunto é inovação no campo, pois dificulta que tecnologias cheguem ao acesso do pequeno produtor. É o que explicou o consultor agroambiental Ronaldo Trecenti, convidado do CB.Agro — parceria entre Correio Braziliense e TV Brasília —, desta sexta-feira (20/10), com os jornalistas Roberto Fonseca e Marcelo Agner. Trecenti disse que levar a produção sustentável aos 4,5 milhões de pequenos produtores brasileiros é um desafio, e pontuou como empecilhos o pouco acesso a investimentos, conectividade e crédito, mas que a solução está no associativismo e no cooperativismo.

Trecenti explicou que as tecnologias desenvolvidas com foco em tornar a produção agropecuária mais sustentável são destinadas a todos os produtores, e defendeu a necessidade de existirem mais formas de se facilitar a obtenção de crédito pelos pequenos produtores, para que todos possam ter acesso a essas inovações. Confira a entrevista completa: 

“A tecnologia gerada pela pesquisa não chega, às vezes, por essa questão do acesso. Precisa de investimentos para ter acesso a esse produto, a esse serviço, comprar uma máquina nova, comprar um insumo novo. Felizmente, no Brasil, nós temos uma política de crédito, que é o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que financia o acesso da pequena propriedade, do agricultor familiar a essas inovações. Então ele tem a possibilidade de acessar esse crédito e a essas tecnologias que são mais sustentáveis. No Brasil se tem um conjunto de tecnologias que são chamadas ‘boas práticas para agricultura de baixa emissão de carbono’, que passa pelo plantio direto, pela fixação biológica de nitrogênio, pela integração lavoura-pecuária-floresta, e agora chegando também aos bioinsumos”, afirmou.

O consultor defendeu a necessidade de se restabelecer a assistência técnica para o campo, que disse ter sido “desmantelada”, e reforçou os benefícios de ações realizadas de forma coletiva pelos pequenos agricultores, afirmando que o associativismo e o cooperativismo são a grande solução para a inserção de pequenos e médios produtores no mercado sustentável.

“O pequeno produtor precisa de assistência técnica. Esse elo da assistência técnica no Brasil, em geral, foi desmantelado. Nós precisamos resgatar a assistência técnica no Brasil, e precisamos pensar no mercado e precisamos produzir, então eu vou investir e vou gerar um produto. Para quem eu vou vender esse produto? De forma individualizada fica muito difícil. Os problemas são grandes e eu só vou conseguir enfrentá-los e superá-los se eu estiver pensando de uma forma coletiva. Então o associativismo, o cooperativismo, na minha visão, é a grande solução para a inserção do pequeno e médio produtor a esse mercado e a essas inovações”, destrinchou.

Trecenti ressaltou, ainda, a importância de se expandir a conectividade do campo brasileiro, pois ela traz maior autonomia e dinamismo aos produtores. Para ele, a inovação possibilitada pelo tripé — formado pelo acesso ao crédito, pela assistência técnica e pela conectividade — será responsável por uma grande revolução no Brasil nos próximos dez anos.

“Precisamos de conectividade no campo. A pandemia (de covid-19) escancarou isso. O pequeno produtor, com acesso a um celular e a uma rede social, conseguiu vender o produto direto para o consumidor. Agora nós precisamos fazer isso acontecer em todo o Brasil. Eu vi isso acontecendo aqui em Brasília. Aqui o território é pequeno e isso facilita um pouco pra gente, mas nesses rincões do Brasil, onde você não tem estrada ainda, nós precisamos fazer essa oportunidade chegar. A grande revolução do Brasil, nos próximos dez anos, vai ser através da inovação, possibilitada pelo crédito, pela assistência técnica e pela conectividade”, ressaltou.

Visão do campo sobre as mudanças climáticas

O Brasil tem sofrido grande efeito das mudanças climáticas, tendo registrado — em boa parte do território — temperaturas médias recordes, enfrentando enchentes na região Sul e, ainda, uma enorme estiagem e aquecimento das águas nos rios amazônicos. Trecenti argumentou que, apesar das mudanças climáticas representarem uma ameaça ao campo — colocando em risco a atividade agropecuária e possibilitando prejuízos ao produtor —, a solução também está no campo, com a agricultura de baixa emissão de carbono.

“Sim, isso pode causar um prejuízo para o produtor. Por outro lado, a solução está no campo, com a adoção de boas práticas para a agricultura de baixa emissão de carbono. Quando você trabalha na recuperação de pastagens degradadas, na implantação do sistema de plantio direto, na integração ‘lavoura-pecuária-floresta’, no reflorestamento. São práticas que vão promover o sequestro de carbono.(...) Hoje, nós temos a convicção, e as pesquisas têm mostrado isso, que nós aumentamos a infiltração de água no solo, nós reduzimos erosão e assoreamento, nós sequestramos o carbono com uma pastagem bem conduzida, com o plantio direto, com reflorestamento. Tudo isso pode ajudar o planeta a mitigar esses efeitos das mudanças climáticas, do aquecimento global, e trazer uma produção mais sustentável de alimentos e agroenergia”, defendeu.

O consultor afirmou, também, que a crise hídrica pela qual o país vem passando mostrou aos produtores a necessidade de se trabalhar com práticas de uso racional da água no campo e, no Distrito Federal, da importância de se reservar água.

“Isso mostrou que nós temos que trabalhar com práticas de uso racional da água no campo. Quando a gente tem sistemas de irrigação por aspersão, como pivô central e outros sistemas, há uma perda de água para o ambiente, por evaporação, principalmente. Eu posso trabalhar com o que chamamos de sistemas racionais, a irrigação por gotejamento, a microaspersão. Eu coloco a água exatamente onde a planta vai absorver, próximo ao sistema radicular, não há desperdício. A água não se perde, a água é cíclica, e o que nós temos que fazer é com que toda a água da chuva infiltre no solo para recarregar os aquíferos e, depois disso, brotar lá numa nascente numa mina. E nós temos que fazer a reservação de água da chuva aqui. Nós somos uma área de Planalto, aqui não tem rios caudalosos, aqui é área de nascentes”, afirmou.

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori 

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