CB.AGRO

Carlos Lopes: 'De 10 casas, alimentamos sete'

Presidente da Confederação dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais mostra a importância do pequeno produtor, que, conforme diz, é pouco mais de 10% do PIB brasileiro e emprega 77% dos trabalhadores rurais

Por Henrique Fregonasse* — A agricultura familiar abrange, atualmente, mais de 90% das propriedades rurais do Brasil. Ao CB.Agro — parceria entre Correio Braziliense e a TV Brasília — de ontem, o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), Carlos Lopes, destrinchou a atuação da entidade para garantir melhores condições de produção aos agricultores. Afirmou, ainda, que é a atuação do produtor familiar que garante comida no prato do brasileiro, perfil diferente do agronegócio — que tem por objetivo gerar divisas para o país. A seguir, os principais pontos da entrevista.

No que a Conafer tem contribuído para fortalecer a agricultura familiar?

A confederação tem como missão conseguir "linkar" nosso setor produtivo à contemporaneidade. Entre esses dois polos, o que cabe? Mercado, tecnologia, espaço político, segurança jurídica e também a imagem do nosso setor. Trabalhamos para que as pessoas nos reconheçam pela importância que temos como produtores de alimentos. E produzimos pela continuidade da vida como uma vida boa, com mais saúde, com menos doenças nos alimentos e com menos contaminações.

Vocês defendem que "o Agro familiar é o verdadeiro Agro brasileiro". Por quê?

Em 2019, a gente fez uma pesquisa para identificarmos nossos recortes e nossas importâncias de setor. Começamos com a seguinte informação: 77% dos trabalhadores rurais que prestam serviço a proprietários rurais quem emprega é a agricultura familiar; 10,1% do PIB somos nós; 85% das propriedades rurais no Brasil são nossas. A cada 10 casas, sete nós alimentamos. O perfil do médio e grande (produtor) é trazer dólar para dentro, mas quando se trata de produzir alimento para consumo, foi por esse recorte que fizemos essa autoafirmação.

Não existe a pretensão do agricultor familiar de concorrer com o agronegócio?

Jamais. Tínhamos que ceifar isso no Brasil, de sermos concorrentes de nós mesmos. Essas divisões nos empobrecem, porque enquanto ficamos debatendo quem é maior ou menor, perdemos oportunidades de negócios.

O agricultor familiar está representado no Congresso?

Me vejo representado porque me faço representar. O representar no Congresso não é pelo senador ou pelo deputado, é pela responsabilidade do cidadão de estar lá pelos seus institutos e organizações, cobrando ou acompanhando seus interesses.

O agricultor familiar sozinho é pequeno, mas, unido, tem grande força?

O Brasil é rural, temos que aceitar isso. Também temos que aceitar que existem povos de floresta. Se começarmos a não nos enxergar, o que que vai ocasionar? Oportunismo e casuísmo. A floresta é "trilhardária". O que será que, hoje, na métrica econômica, produziria mais: um hectare de floresta ou um hectare de soja? Vamos saber com a política do crédito de carbono. É na aceitação dessa realidade que vamos começar a tomar decisões inteligentes.

O projeto do crédito de carbono, aprovado agora no Senado, tira obrigações do agro?

Acho que moderniza. Temos um Código Florestal maravilhoso, robusto, firme. O Brasil é o maior rebanho comercial de bovinos do mundo. O Brasil é um país de 200 e poucos milhões de brasileiros que alimenta seis bilhões de pessoas no mundo.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi


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