Entrevista

Yaneth Giha: 'Temos muito a aprender com o Brasil'

Diretora executiva da Fifarma e ex-ministra colombiana elogia liderança brasileira na área de inovação em saúde, que pode auxiliar países da América Latina. "Temos muito a aprender com vocês", frisa

Em recente visita ao Brasil, a diretora executiva da Federação da Indústria Farmacêutica da América Latina (Fifarma), Yaneth Giha, comentou ao Correio o estágio de inovação no segmento de saúde. Ex-ministra da Educação na Colômbia, Giha participou de um seminário da MDS Farma sobre saúde, em São Paulo.

Como está o panorama do Brasil na área da saúde e inovação?

O Brasil vai bem algumas coisas, e em outras há desafios. Por exemplo, a pobreza multidimensional. Esse é um grande desafio e tem repercussões nas questões de saúde. Portanto há uma grande tarefa a ser feita. Outra questão é a redução da carga de doenças, porque isso faz com que os resultados em saúde não sejam os esperados. A mortalidade materna, por exemplo, é de 72/100 mil, enquanto a média da América Latina é 53/100 mil. Um tema importante, no caso do Brasil, é a cobertura do sistema de vacinação que realmente é dos mais altos na região - 80% da população tem esquema vacinal completo. Isso também faz com que o país esteja criando uma base adequada para ter melhor saúde no futuro. Nós sabemos o poder da vacinação nesta frente.

Qual a posição do Brasil no campo das pesquisas em saúde?

O Brasil é o líder regional na inovação. Pode ensinar aos demais países da região sobre atividades inovadoras, investimentos, pesquisa e desenvolvimento. Temos muito a aprender com vocês.

Como está a saúde pública brasileira em relação à dos demais países latino-americanos?

Quando elaboramos o recente estudo Panorama de saúde e inovação, o que tentamos observar foi como estávamos nos saindo em cada uma das questões do tema em 11 países da região. Sem dúvida, o Brasil aparece como líder regional em diversos pontos. A primeira coisa é mencionar que, embora tenhamos na região o desafio de aumentar os gastos com saúde, o Brasil é o que tem melhor desempenho quando se olha o agregado público-privado. Sim, é o país que faz mais esforços públicos e privados para ter os gastos adequados em questões de saúde. É o país que mais gasta com o setor na América Latina — 44% da receita federal, enquanto os vizinhos latinos apresentam 22%. Mas, ainda está abaixo do país que menos gasta na Europa, que é a Espanha.

O que é preciso fazer para avançar?

Precisamos fazer um esforço enorme em muitas áreas, não só em ter maiores gastos com a saúde, que acredito ser uma tarefa enorme que todos os países têm, é ver a saúde como um investimento. A pandemia da covid-19 nos permitiu entender que, sem saúde, provavelmente faltarão muitas coisas. Sem saúde, a economia não pode avançar. Então penso que hoje entendemos que investir na saúde traz benefícios, não só para a saúde, mas para muito mais coisas além da saúde. Este relatório ajuda a concentrar esforços.

Onde estão essas inovações?

O Brasil tem um ecossistema de inovação que não temos no restante dos países da América Latina. É um ecossistema de inovação que tem muita investigação nas universidades, mas também em centros de inovação. No caso da saúde, temos o Instituto Butantan, mas também existe na agroindústria, na aeronáutica. Vê-se que o Brasil está realmente fazendo um esforço enorme para pesquisar, inovar e gerar soluções para o país, mas também pode o fazer para a América Latina. Acredito que o Brasil é o país que mais pode nos ensinar como gerar ambientes de inovação adequados.

 

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