Limpar o nome e quitar as dívidas tem se revelado ser uma tarefa cada vez mais difícil para a população mais pobre. No último mês de setembro, a proporção de famílias com contas em atraso e que recebem de zero a três salários mínimos aumentou de 79,1% para 79,4%, na comparação com agosto, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta quarta-feira (11/10) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em relação ao mesmo mês de 2022, houve queda de 0,8 pontos percentuais.
Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o aumento do endividamento nas faixas de renda mais baixas é um cenário que preocupa. “Inclusive, com tendência de aumento da inadimplência dessas famílias”, afirma. Para Tadros, os juros elevados no cartão de crédito, que é de longe a principal modalidade de pagamento em que os brasileiros se endividam, é um dos desafios que ainda persistem.
- 3 em cada 10 brasileiros não conseguiram pagar as contas em agosto
- FMI: endividamento mundial caiu, mas ainda supera nível pré-pandemia
- Inadimplência registra novo recorde em agosto, segundo a CNC
“Uma pesquisa inédita da CNC revelou que 90% do varejo tem suas receitas provenientes de compras parceladas sem juros no cartão de crédito, pelo menos parcialmente, o que evidencia também a inclusão das pessoas de renda média e baixa no mercado de consumo”, aponta o presidente. José Tadros ainda reforça a necessidade em se manter o parcelamento sem juros, sem intervenção nas condições de mercado, além da racionalização da taxa de juros do rotativo.
Estabilidade na população, em geral
Mesmo com o cenário de aumento entre as camadas mais pobres, o número de endividados no Brasil, em todos os segmentos, se manteve estável nos últimos dois meses, em 77,4%. Além disso, na comparação com setembro do ano passado, houve uma queda de quase 2 pontos percentuais no último mês, segundo a pesquisa da CNC.
Um dos milhares de brasileiros que deixaram a inadimplência em setembro foi Frankson Oliveira, de 43 anos. Com o nome sujo durante dois anos, o homem conseguiu regularizar a situação financeira no Serasa há apenas duas semanas. “Geralmente as contas ficam no atraso. Só de passar um mês e não ter nenhuma conta no atraso é um milagre. E isso acaba virando uma cultura nossa, de deixar a conta no atraso, para pagar, porque às vezes as contas não batem e aí tem que fazer uma conta, fazer uma dívida”, revelou.
Oliveira conta que deixou de usar o cartão de crédito após as dívidas. Segundo ele, o melhor jeito de se evitar o endividamento é deixar de lado a modalidade. “A melhor coisa que você pode fazer é evitar cartão. Que aí cartão você vicia, e aí cortei meus cartões tudinho, para poder entrar no zero, começar tudo de novo. Graças a Deus não tenho mais cartão nenhum, o que já evita a dívida”, completa.
Cartão de crédito
Amplamente popular entre os brasileiros, o cartão de crédito apenas cresce entre as modalidades de pagamento que mais geram dúvidas na população. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve um aumento de 85,6% para 86,2% nas dívidas com o crédito.
Entre os consumidores de renda média e baixa, o endividamento no cartão de crédito avançou 0,3%. em relação a setembro de 2022, enquanto caiu o mesmo percentual entre a população de renda mais alta. “No mês, no entanto, o uso do cartão implicou na alta do volume de endividados em todos os grupos de rendimento”, analisa Izis Ferreira, economista da CNC e responsável pela pesquisa.
*Estagiário sob a supervisão de Ronayre Nunes
Saiba Mais
-
Economia Conselho da Previdência aprova queda de juros de consignado do INSS
-
Economia Justiça manda Rappi assinar carteira de trabalho de entregadores de todo o Brasil
-
Economia Concurso MCTI: novos editais com 117 vagas são publicados
-
Economia Inflação sobe 0,26% em setembro, puxada novamente por aumento na gasolina