MERCADO FINANCEIRO

Dólar sobe e fecha no maior nível desde março com aversão a risco

Com sinal positivo desde a abertura, o dólar acelerou o ritmo de alta ao longo da tarde, acompanhando a deterioração do ambiente externo, e correu até o nível de R$ 5,16

O mercado de câmbio doméstico foi mais uma vez tragado pela onda de aversão ao risco no exterior, com mergulho das bolsas em Nova York, escalada das taxas dos Treasuries e fortalecimento global do dólar. Dados acima do esperado do mercado de trabalho americano reforçaram a perspectiva de alta adicional da taxa básica pelo Federal Reserve e a permanência dos juros em níveis elevados nos EUA por período prolongado.

Com sinal positivo desde a abertura, o dólar acelerou o ritmo de alta ao longo da tarde, acompanhando a deterioração do ambiente externo, e correu até o nível de R$ 5,16. Com máxima a R$ 5,1603, o dólar à vista subia no fim do dia 1,73%, cotado a R$ 5,1543 - maior valor de fechamento desde 28 de março (R$ 5,1648). Nos dois primeiros pregões de outubro, a divisa já acumula valorização de 2,54%.

Lá fora, o índice DXY voltou a superar a linha dos 107,000 pontos, mas teve seu ímpeto em parte contido pela valorização do iene à tarde. Operadores especularam que a mudança de rota estaria associada à intervenção de autoridades do Japão, após o dólar atingir o maior nível em relação à moeda japonesa desde outubro de 2022. A moeda americana subiu em bloco em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real apresentou perdas similares a dos pesos mexicano e colombiano, as duas divisas que ainda lideram os ganhos na comparação com o dólar em 2023.

"Vemos um movimento global de valorização do dólar. A cesta de moedas DXY acumula alta de 7,35% desde meados de julho e não parece querer se acalmar. Essa força do dólar deve-se, basicamente, à escalada das taxas dos títulos das Treasuries, que vem renovando máximas atrás de máximas", afirma o diretor de tesouraria do Braza Bank, Bruno Perottoni. "Os dados econômicos que têm sido divulgados mostram uma economia aquecida e, pelo menos na retórica, um Fed disposto a usar as armas da política monetária para resolver a situação"

Divulgado pelo Departamento do Trabalho americano, o relatório Jots mostrou que a abertura de postos de trabalho nos EUA cresceu para 9,61 milhões em agosto, bem acima das expectativas dos analistas (8,9 milhões). Esses dados aumentam a cautela em torno da divulgação da pesquisa ADP de emprego privado amanhã, 4, e do relatório oficial de emprego (payroll) de setembro, na sexta-feira, 6.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que as taxas dos Treasuries já abriram com sinal positivo e ganharam ainda mais fôlego após a divulgação do relatório Jolts. "A aversão ao risco está alta em todos os mercados, com o dólar ganhando força. Ontem, o real foi a melhor moeda emergentes, a que menos de desvalorizou, e hoje anda junto com o peso mexicano", afirma Weigt. "Talvez o Fed suba mais os juros. Dizem que vão ficar com taxas por bastante tempo. Por isso, a curva longa lá ficou menos invertida".

As taxas longas do Treasuries avançaram com força. O yield da T-note de 30 anos subiu mais 3%, tocando o nível de 4,94% na máxima, enquanto o retorno da T-note de 10 anos avançou mais de 2% e superou na máxima o nível de 4,80% pela primeira vez desde agosto de 2007. Monitoramento do CME Group mostra aumento das apostas em alta adicional da taxa básica de juros pelo Federal Reserve.

"O relatório Jolts mostrou mercado de trabalho bem aquecido, o que tem reflexo na inflação. Isso levou a mais um dia de alta dos Treasuries, pressionando divisas emergentes. Temos fluxo de dólar saindo daqui porque existe perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

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