Em meio à desconfiança fiscal criada por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne amanhã e na quarta-feira para tomar mais uma decisão sobre a taxa básica de juros (Selic) — atualmente em 12,75%. Há um consenso entre os analistas de mercado de que o índice terá mais uma redução de 0,50 ponto percentual, passando para 12,25%, em linha com o comunicado da última reunião realizada em 20 de setembro.
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Se confirmada, esta será a terceira redução consecutiva e os juros chegarão ao menor nível desde junho de 2022, quando estavam no mesmo patamar. O Boletim Focus, divulgado na semana passada, voltou a reduzir as projeções para a inflação, que deve fechar o ano em 4,65%, de acordo com as estimativas.
Essa deve ser a primeira vez, desde 2020, que será cumprida a meta estipulada para a inflação, que em 2023 é de 3,25% - com 1,5 ponto percentual de tolerância. Ou seja, pode variar de 1,75% a 4,75%. Para 2024, a expectativa passou de 3,88% para 3,87%. Para o término de 2025, foi mantida em 3,50%.
O economista-chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus, reforçou que esse cenário corrobora para as expectativas de corte nos juros. "Não teremos nenhuma novidade na decisão do Copom, a aposta é mais um corte de 0,5 p.p [ponto percentual]. O importante será interpretar o comunicado e em seguida a ata, na próxima semana. Creio que o comunicado deve reconhecer o esforço do governo em avançar na agenda fiscal, não deixando de se mostrar cauteloso sobre sua consecução", avaliou.
Na semana passada, o presidente Lula declarou que a meta fiscal não precisa ser de deficit zero e que esse resultado dificilmente será atingido, uma vez que não quer realizar cortes em investimentos e obras em 2024. A declaração repercutiu mal no mercado e impulsionou a alta dos juros futuros. De acordo com Hegedus, "os ruídos de sempre" do chefe do Executivo contribuem para a cautela da autoridade monetária.
Conflitos externos
Além da reunião do Copom, os Estados Unidos também anunciarão sua decisão sobre as taxas de juros americanas, na chamada "Super quarta". Para Davi Lelis, analista e sócio da Valor Investimentos, existem três fatores no radar que podem modificar a intensidade do corte dos juros agora e na próxima reunião, marcada para os dias 12 e 13 de dezembro.
"O primeiro ponto que pode modificar essa intensidade é o aumento das tensões dos conflitos externos, como a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a invasão terrestre da Faixa de Gaza, no conflito entre Israel e Hamas. Isso aumenta o prêmio de risco mundialmente, além de pressionar os preços do petróleo", disse, ao lembrar que um terço do petróleo consumido no mundo passa pela região da guerra no Oriente Médio.
Segundo Lelis, o Copom também deve monitorar assiduamente o aumento dos juros de longo prazo dos Estados Unidos. "Taxas de juros mundiais mais altas pressionam o Brasil para deixar as taxas aqui mais altas também. Além disso, os juros altos nos EUA sugam capitais de outras moedas, deixando o dólar mais forte e consequentemente aumentando a inflação ao redor do mundo. Como o Brasil importa produtos também em dólar, pressiona a inflação interna", afirmou.
O terceiro ponto é a questão fiscal. O sócio da Valor Investimentos ponderou que as falas de Lula já eram de conhecimento do mercado e não devem ter impacto forte a longo prazo nas quedas de juros, apesar de causar temor no mercado. "O que não pode acontecer é a perda de ancoragem da inflação e do compromisso fiscal em manter as contas públicas dentro do orçamento", destacou Lelis, ao avaliar que mesmo com esses fatores, as duas próximas reuniões devem manter cortes na Selic.
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