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"Temos café de qualidade aqui hoje", diz cafeicultora sobre produção do DF

Segundo a produtora de cafés especiais Núcia Cenci, a qualidade do café do Distrito Federal vem rivalizando com estados tradicionais devido ao avanço da tecnologia no campo

A produtora de café, Núcia Cenci -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
A produtora de café, Núcia Cenci - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
postado em 27/10/2023 18:51

O volume da produção de café no Distrito Federal cresceu 11% em 2022, rendendo mais de mil toneladas do grão na região, segundo a Emater-DF (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal). Ao CB.Agro — parceria entre Correio e TV Brasília — desta sexta-feira (27/10), a professora e produtora de cafés especiais, Núcia Cenci, explicou que a produção do DF tem atingido níveis de excelência em qualidade e já rivaliza com estados como Minas Gerais e Espírito Santo — que têm tradição centenária na cafeicultura. Segundo Núcia, a qualidade do café local se deve à aplicação de pesquisas e tecnologias na produção, como estudo do solo e do clima, seleção de variedades produzidas e seleção de grãos, que garantem, também, uma produção rentável, se aplicados corretamente.

“Você precisa escolher a terra, o local onde você vai plantar, com bastante cuidado, (assim como) o próprio tipo de café, porque hoje em dia as tecnologias vêm para agregar valor. Aquilo que é muito produtivo em Minas, pode não ser aqui. As grandes empresas investem nisso, tudo isso tem que ser observado: que tipo de grão você vai plantar, que tipo de café você vai cuidar e qual café você quer ofertar. Isso é extremamente importante para que você, num futuro, tenha produtividade", pontua.

A produtora ainda completa sobre o longo período em que o café precisa para ser colhido. "O café você não planta como a soja, que planta hoje e daqui 4 meses está produzindo, não. Você trabalha com ele (durante) três a quatro anos para que ele te dê um retorno. É um investimento alto, e esse investimento tem que dar um retorno. Já pensou, plantar uma variedade e ela não produzir? E daqui quatro anos você descobrir que ela não te dá rentabilidade, que não é adequada para o clima e solo do Distrito Federal? Então isso precisa ser estudado, e você tem empresas e pessoas capacitadas e gabaritadas que você precisa consultar”, explicou.

 

Produtora de café desde 2014, Núcia contou que, apesar de trabalhar com grãos de classificação “gourmet” (segundo maior nível), atingiu atingiu também a classificação de “café especial” (nível mais alto e acima de 80 pontos dentro da escala de qualidade dos grãos) seguindo rigorosamente as etapas de seu processo produtivo.

“A gente faz um controle rigoroso para saber tudo o que usa. (O café) é irrigado, então a gente faz um controle hídrico, o controle de pragas é feito. Nós temos o período de plantio, depois o de colheita, o de secagem, depois vai para um processo de seleção dos grãos, que são várias etapas. Eu só trabalho com os melhores grãos da minha safra, porque quando você colhe, você vai colher de tudo, e aí as suas máquinas é que vão fazer essa separação dos melhores grãos, no caso, especificamente para a minha marca. Então essas etapas têm que ser obedecidas, têm que ser rigorosas para que a gente realmente chegue a uma pontuação boa”, defendeu.

Apesar de ter empresas privadas como os maiores contribuintes em tecnologias, Núcia ressaltou o trabalho da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no desenvolvimento de variedades de grãos específicas para o desenvolvimento no Cerrado, buscando maior qualidade da produção.

“A gente precisa bater palmas para a Embrapa, porque ela é precursora nessa questão de busca de qualidade e de melhorias. Os estudos deles devem ser extremamente valorizados. A Emater-DF dá aquela assistência técnica, mas especificamente na parte do café, o nosso maior contribuinte são as empresas privadas, que estão sempre trazendo tecnologias novas para auxiliar nessa produtividade, investimentos em pesquisa, e aí a Embrapa tem esse papel importante também”, afirmou.

Para a produtora, as feiras e exposições agrícolas no DF são imprescindíveis para aproximar a população da realidade agrícola da região, que afirmou ser muito mais vasta e distribuída do que normalmente se imagina. Para ela, esses eventos têm um importante papel de disseminação da cultura agrícola do DF e da produção de café.

“Essas feiras, a Agrobrasília, a Coffee Week, que vêm acontecendo, trazem produtores, baristas, entre outros, mas dão visibilidade e mostram para a população de Brasília que a cidade tem mais a oferecer do que só a parte administrativa. Ela tem uma agricultura forte, uma cultura forte e tem mulheres por trás desse trabalho”, ressaltou Núcia.

Representatividade feminina

Apesar de ainda ser um ramo de predominância masculina, Núcia contou que a agricultura, e mais especificamente a cafeicultura, tem despontado na representatividade feminina.. Ela explicou que as mulheres têm conquistado maior respeito e reconhecimento no meio por conta de resultados, os quais atribuiu ao que chamou de “olhar clínico diferenciado” delas.

“Às vezes eles (homens) têm um pouquinho de resistência em aceitar algumas sugestões, acham que não vai dar certo, e de repente eles começam a perceber que esse nosso olhar diferenciado pode surtir efeito. Você está sempre tentando provar que é boa. A gente conquistou muita coisa, graças a Deus, mas é uma conquista diária, sabe? Você precisa estar sempre provando que vai fazer bem feito, e tanto é verdade que eu consegui alavancar a nossa marca e ela está progredindo. Estamos participando de feiras, o nosso café está entrando no mercado, as pessoas estão começando a conhecer e a gostar do café local”, disse Núcia.

*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes

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