O Fundo Monetário Internacional (FMI) atualizou as projeções econômicas e fez um alerta sobre os desafios para o crescimento global, indicando que a tendência é de desaceleração de forma generalizada. Conforme dados do relatório Panorama Econômico Global, divulgado nesta terça-feira (10/10) durante evento do FMI e do Banco Mundial em Marrakech, Marrocos, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverá crescer 3% em 2023, abaixo dos 3,5% do ano passado.
A estimativa não mudou em relação à previsão anterior, de julho, mas, para 2024, o Fundo reduziu de 3% para 2,9% a expectativa de avanço do PIB global. Além disso, o organismo multilateral fez um alerta para os riscos da inflação em diversos países, que continuará acima das metas até 2025, o que exigirá juros elevados por mais tempo, reduzindo a capacidade de crescimento das economias.
"Temos uma economia global que continua se recuperando da pandemia e da guerra na Ucrânia, mas com um crescimento que frágil em comparação com os dados históricos", afirmou o economista-chefe do Fundo, Pierre-Olivier Gourinchas, em entrevista a jornalistas.
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De acordo com o organismo multilateral, o Brasil crescerá 3,1%, neste ano, acima da projeção de 2,1% feita em julho. Para 2024, a expectativa passou de 1,3% para 1,5%.
O relatório do FMI foi elaborado antes da eclosão da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Na entrevista, Gourinchas foi cauteloso ao comentar os efeitos do conflito na economia. No entanto, mencionou o aumento dos preços do petróleo como um complicador. Segundo ele, uma alta de 10% nos preços do petróleo reduziria o crescimento do PIB mundial em 0,15% e elevaria a inflação global em 0,4%. Desde o início do conflito, no último sábado, o barril do petróleo tipo Brent subiu 4%.
Campos Neto faz alerta sobre contas públicas
Também em Marrakech, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, alertou que os países devem prestar mais atenção às contas públicas para evitar novas turbulências diante de um cenário de maior incerteza global, com tensões geopolíticas e juros elevados para conter pressões inflacionárias.
"Os governos precisam começar a abordar a questão fiscal. Estamos bem coordenados na política monetária, mas não na política fiscal. Isso está começando a afetar até as economias desenvolvidas", disse ele, durante o 2023 Global Meeting, evento organizado pelo Emerging Markets Forum.
O chefe da autoridade monetária lembrou que o aumento do endividamento global, após a pandemia da covid-19 e a elevação das taxas de juros ao redor do mundo, está começando a impactar as economias mais desenvolvidas, como os Estados Unidos.
"Se não formos capazes de resolver isso de forma que as pessoas olhem para o futuro e vejam que teremos um equilíbrio, pelo menos a médio prazo, pode haver um distúrbio nos mercados antes de alcançarmos o processo de desinflação", destacou.
Endividamento privado é problema
O presidente do BC chamou a atenção, ainda, para o endividamento do setor privado, que, segundo ele, pode ter dificuldade de sustentar pagamentos com os juros globais em patamares elevados. "A liquidez pode secar, e há um risco grande, que não estamos seguindo de perto, que é a dívida privada", afirmou.
Para Campos Neto, o Brasil está melhor do que outras nações, com revisões para cima nas perspectivas de crescimento e aprovação do novo arcabouço fiscal.
Ele mencionou também o impacto sobre o preço do petróleo em meio ao conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, e chegou a brincar: "Não podemos mais passar seis meses sem uma crise". Além disso, destacou o alto custo de transição energética, incerteza no mercado de energia com as questões geopolíticas, além dos efeitos das mudanças climáticas sobre os preços dos alimentos, citando o impacto das chuvas na produção de arroz na Região Sul.
Petróleo vai ficar mais caro
"Daqui para a frente, de onde vai vir a desinflação? O petróleo vai ficar mais caro, a transição verde custa dinheiro, a produtividade não está aumentando, acho que está diminuindo", questionou. "O processo de desinflação pode parar em níveis mais altos globalmente? Se for verdade, o que vai acontecer? Viveremos com altas taxas de juros por mais tempo? O que isso vai significar para a economia emergente?", emendou.
O presidente do BC continua em Marrakech para a reunião anual do FMI, que começa hoje e vai até a sábado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, embarcou ontem para o encontro para representar o Brasil. Na agenda, Haddad terá nove encontros bilaterais para tratar de comércio e preparar a cúpula do G20, que será realizada no Brasil em 2024, após o país ter assumido a presidência do grupo.
Inflação cai lentamente
O FMI prevê que a inflação global deve diminuir de 8,7%, em 2022, para 6,9%, em 2023, e para 5,8%, em 2024. "Não se espera que a inflação regresse às metas até 2025 na maioria dos casos", alertou o relatório. "A inflação está diminuindo, mas de forma menos rápida, e a inflação subjacente [que exclui alimentos e energia] é persistente. As projeções antecipam cada vez mais uma aterrissagem que não será suave", afirmou Gourinchas.
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