O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou ontem para a Índia, logo após as celebrações do 7 de Setembro, para a 18ª Cúpula de chefes de Estado e governo do G20, o grupo que reúne 19 das principais economias do mundo e a União Europeia. A agenda oficial ocorre neste sábado e domingo. A previsão é de que a comitiva brasileira chegue a Nova Déli, capital indiana, no fim da noite desta sexta-feira, pelo horário oficial de Brasília, manhã de sábado no país asiático.
No fim do encontro, que será marcado pela ausência de importantes chefes de Estado, o Brasil receberá pela primeira vez a presidência rotativa do G20. O país ficará à frente da instituição de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024 e será responsável por organizar a próxima cúpula, marcada para 18 e 19 de novembro do ano que vem, no Rio de Janeiro.
Em nota, o governo brasileiro destacou que, no período em que estará à frente do grupo, pretende aproximar os grupos técnicos que discutem políticas públicas daqueles que debatem questões de financiamento, “de forma que se coordenem entre si e trabalhem de forma mais integrada”.
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Na Índia, Lula vai participar de três reuniões de trabalho do G20 e deve receber líderes de outras nações para reuniões bilaterais. No sábado, estão previstas duas reuniões temáticas. Uma falará de desenvolvimento sustentável, transição energética, mudanças climáticas, preservação ambiental e emissões de carbono. Outra abordará crescimento inclusivo, progresso nos objetivos de desenvolvimento sustentável, educação, saúde, e desenvolvimento liderado por mulheres.
No domingo acontece a terceira sessão da cúpula, intitulada “Um Futuro”. O painel terá como temas transformações tecnológicas, infraestrutura pública digital, reformas multilaterais e o futuro do trabalho e emprego. No mesmo dia haverá a cerimônia de transferência da presidência do G20.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fará um balanço sobre a presidência da Índia em 2023. Já o presidente Lula vai encerrar o evento, apresentando as prioridades e os desafios da futura presidência brasileira, que começa efetivamente a partir de 1º de dezembro. A presidência rotativa vai até o fim de 2024, quando uma nova cúpula será realizada no Brasil.
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem se esforçado para tirar a maior economia da América do Sul do isolamento diplomático provocado pelo seu antecessor, participando de vários eventos multilaterais. Segundo o presidente, esta será uma oportunidade para debater a pauta da desigualdade no mundo.
“Vamos presidir o G20 ano que vem, os Brics em 2025 e ainda realizar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), em Belém. São três megaeventos que vão dar ao Brasil uma visibilidade diferente da que ele teve nos últimos anos. O país volta a fazer com que o mundo nos respeite, pela seriedade com que a gente trata as pessoas e a questão do clima”, argumentou o presidente.
O grupo responde por cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 75% do comércio internacional. O G20 é considerado o principal foro de cooperação econômica e financeira internacional, com grande capacidade de influenciar a agenda de organismos multilaterais e de mobilizar o setor privado.
Biocombustíveis
O presidente Lula pretende assinar no domingo um acordo global de incentivo aos biocombustíveis. A ideia é que, durante sua participação, ele apresente argumentos em defesa do etanol como instrumento para a descarbonização energética mundial e destaque a experiência brasileira com a utilização do combustível.
Durante o programa Conversa com o Presidente, na terça-feira, Lula indicou que um acordo com a Índia envolvendo combustível renovável terá destaque nos diálogos do fim de semana. “Brasil e Índia vão discutir a questão do etanol como combustível alternativo, que é extremamente importante, e nós temos que discutir com os outros países uma luta contra a desigualdade”, afirmou.
Às vésperas da partida, o mandatário recebeu em seu gabinete um grupo de empresários do setor automotivo e lideranças do setor energético para uma espécie de preparação para sua participação na Cúpula. Durante a conversa, Evandro Gussi, presidente da Unica, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Bioenergia, defendeu que o encontro do G20 sirva para que o governo trabalhe para estimular a criação de um cinturão verde de biocombustíveis entre mais de 100 países.
Segundo Gussi, a medida beneficiaria mais de 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo com a descarbonização. “O Brasil domina a tecnologia do etanol do campo à indústria automobilística. E essa tecnologia pode ser compartilhada com outros países, de tal forma a criarmos um cinturão verde de biocombustíveis entre mais de 100 países do chamado Sul Global”, disse o executivo, após o encontro.
Ausências podem esvaziar reunião
A falta de alguns dos principais líderes globais na Cúpula do G20 ameaça esvaziar o encontro e será um desafio para as discussões do bloco. O presidente chinês, Xi Jinping, será uma das principais ausências do evento, em meio a crescentes tensões comerciais e geopolíticas com Estados Unidos e a Índia, com a qual a China compartilha uma fronteira longa e conflituosa.
O governo chinês não deu explicações para a falta, limitando-se a dizer que o primeiro-ministro Li Qiang o representaria na reunião das grandes economias. A ausência de Xi terá impacto nos esforços de Washington para manter o G20 como o principal fórum para a cooperação econômica global. Segunda maior economia do mundo, a China passa por uma difícil recuperação pós-covid, com demanda interna fraca, aumento do desemprego entre os jovens e uma crise no setor imobiliário.
Assim como nos últimos encontros internacionais, o presidente russo Vladimir Putin também não comparecerá no G20 e será representado pelo ministro das Relações Exteriores do país, Serguei Lavrov. Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra Putin por acusações de crimes de guerra relacionados à deportação ilegal de crianças ucranianas. Ele corre o risco de ser detido, caso saia do país.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve aproveitar a ausência dos governantes da China e da Rússia para tentar promover alianças em um bloco fortemente dividido. Impasses sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e a reestruturação da dívida dominarão as negociações e poderão complicar acordos durante a reunião.
Biden estará acompanhado pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, que visita a Índia pela quarta vez em 10 meses, no âmbito dos esforços de Washington para reformar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, a fim de atender melhor os países em desenvolvimento.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, serão alguns dos representantes da União Europeia.
O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou que também não viajará após testar positivo para a covid-19. Madri será representada pelo ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, e pela vice-presidente e ministra da Economia, Nadia Calviño. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador também não vai comparecer.
Profundamente dividido por causa da guerra na Ucrânia, o G20 terá dificuldade em obter avanços ante a tensão entre os dois grupos antagônicos de aliados: EUA-União Europeia e Rússia e China. A conjuntura econômica global assombra o grupo das maiores potências mundiais. A Alemanha, o país mais rico da Europa, entrou em recessão e todo o continente caminha no mesmo sentido à medida que a crise se aprofunda.