Washington — Em palestra num café que ofereceu para empresários e políticos presentes no Lide Brazil Dezvelopment Forum, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, fez um alerta, quase em tom de apelo, aos empresários presentes: "Não tem como avançar com o recurso público que existe. É simplesmente impossível. É preciso trabalhar com o setor privado", disse referindo-se à agenda de investimentos da região da América Latina e do Caribe.
Antes de mencionar a necessidade dessa parceria, o presidente do BID fez um histórico do cenário macroeconômico em que a região se encontra: "Temos demandas sociais crescentes e populações impacientes para mudar. A gente percebe isso com as mudanças políticas de um governo para outro. Protestos na rua, questões sociais, isso a gente está vendo todo mês, toda semana. A sociedade está impaciente e quer mudança. Tem desigualdades demais, desigualdades de gênero, de renda, questões ambientais, o acesso aos bens públicos, saúde, educação, transportes, às vezes, até três horas para chegar ao trabalho. Há uma certa impaciência na região", citou como primeiro ponto a ser levado em conta, para essa parceria.
Espaço fiscal menor
O segundo desafio citado por Ilan foi a restrição de recursos públicos. "Chame-se de restrições fiscais ou não, mas é fato que não há recursos suficientes para tudo o que se precisa fazer", disse ele. Do ponto de vista global, contou o presidente do BID, a conta está em US$ 2,5 trilhões para atender as demandas sociais e ambientais. "Os governos não têm recursos e, depois da pandemia, o espaço fiscal é bem menor. Então, temos demandas crescentes, impaciência e autoridades com menos espaço fiscal para atender", comentou.
A saída muitas vezes citada para resolver essas questões é gerar recursos, ou seja, promover crescimento econômico. "No entanto, América Latina e Caribe não têm crescido, em média. Não estou falando do passado. São décadas perdidas. O produto por pessoa quase não cresce. Então, são quatro desafios, além das demandas crescentes, impaciência, espaço fiscal restrito, há o baixo crescimento", comentou.
Soluções e prioridades
Ilan Godldfajn considera que cabe ao BID buscar as soluções para resolver essa equação. "Do lado social, escolher a prioridade e ver onde a gente pode resolver da melhor forma possível. Do lado dos recursos, trabalhar junto a instituições para trazer recursos, algo que o banco está fazendo", observou. Em São Paulo, por exemplo, conforme explicou o diretor do BID, Morgan Doyle, há projetos com recursos suíços para a área de saúde dentro do SUS.
"A ordem agora, não só para o Brasil como para outros países da região é captar recursos privados, infraestrutura, emprego, a fim de conseguir uma situação fiscal melhor para promover o crescimento", completou Goldfajn.
Busca de parcerias
O presidente do banco fez ainda um paralelo entre a conjuntura global de hoje e aquela vivida em 1958, quando o então presidente Juscelino Kubitschek, num ambiente de polarização política em que qualquer semelhança com a atualidade "não é mera coincidência", escreveu ao então presidente dos Estados Unidos, Dwght Eisenhower, pedindo uma configuração mais sólida para ajudar a resolver os desafios. Assim, surgiu o BID, para atuar nessa direção de resolução dos problemas da região.
"Não dá para trabalhar sozinho, sentado na minha sala, no vigésimo andar, pensando na região. Precisamos de parcerias, e estamos buscando, já fechamos inclusive com o Banco Mundial, que traz a atenção para a região", contou Ilan. "Sozinhos, não vamos conseguir", concluiu.
Flamengo
Logo depois do café oferecido no terraço do BID, Ilan fez um périplo com as autoridades, para mostrar o seu gabinete e o Centro Cultural, que hoje abriga quadros e esculturas de artistas latino-americanos e caribenhos. Na sala de Ilan, além esculturas do time do Flamengo, ele colocou diversas obras de artistas brasileiros, inclusive um quadro de Kika Carvalho, pintora e educadora capixaba. É o BID, pela primeira vez em sua história, com sotaque do português do Brasil.
O café marcou o fim da programação oficial do Lide Brazil Development Fórum, no qual o ex-governador de São Paulo João Doria mandou um recado ao fechar esses dias de discussões e reflexões sobre o Brasil: "Quem quer faz, quem não quer encontra uma razão para não fazer".
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