O quantitativo da produção de leite no Brasil deve cair em 2023 — como já ocorreu no ano passado — devido ao aumento da importação de laticínios provenientes de países do Mercosul como Argentina e Uruguai, um desestímulo à produção nacional. É o que explicou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges.
Ele afirmou, em entrevista ao CB.Agro — parceria entre Correio e TV Brasília — desta sexta-feira (15/9), que o Brasil deixou de ser autossuficiente na produção de lácteos e corre o risco de voltar à condição de dependente da importação de outros países.
Segundo o presidente, a produção brasileira de leite vinha sofrendo aumentos gradativos, tendo figurado entre os três maiores produtores mundiais, com mais de 34 bilhões de litros anuais. Porém, o desestímulo à produção e industrialização de leite e a “entrada predatória” de importações do Mercosul fazem com que o setor viva um “momento complexo”, que deve resultar na queda da produção no ano que vem.
“Os países membros do tratado do Mercosul podem colocar mercadorias aqui assim como nós podemos mandar para lá, sem nenhum tipo de taxação ou imposto, e nós estamos sofrendo muito. Desde agosto do ano passado, a cadeia vem sentindo muito, mas principalmente a partir de abril deste ano, com números recordes de importação, o que tem desestimulado o setor. Com certeza, isso vai trazer reflexos e prejudicará não só a cadeia produtiva do leite, mas isso, lá na frente, pode afetar, inclusive, a nossa população, os consumidores”, lamentou.
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Borges contou ainda que a importação de leite no primeiro semestre de 2023 “bateu recorde”, com cerca de 1,3 bilhão de litros importados, saltando de 3% do total consumido pelo país — 459 milhões de litros no primeiro semestre de 2022, segundo estudo do Centro de Inteligência do Leite (Cileite) — para cerca de 12%. Para o presidente, a situação coloca em risco milhões de empregos no campo e nas cidades, além de possibilitar que o país se torne novamente dependente das importações desses produtos, o que resultaria no aumento de preços para o consumidor.
“Consumidores de leite e derivados podem vir a ser dependentes de importações de outros países. O Brasil saiu da condição de autossuficiente na produção de lácteos e pode ficar dependente, como já foi no passado, há algumas décadas, de 30% daquilo que consumia. Se nós já estamos chegando a 12%, é alarmante, é preocupante. E com uma dependência, o que pode acontecer é que a população, o consumidor é que vai pagar mais caro. Na falta do produto teremos que importar e ter esse produto aqui pelo preço de mercado internacional, que se vier a estar alto, com certeza, vai afetar a nossa população”, explicou.
“Freio de arrumação”
O presidente da Abraleite comentou ser imprescindível que o governo federal tome medidas emergenciais que auxiliem na diminuição das importações de lácteos, como um “freio de arrumação”.
“Se nós não tivermos medidas realmente emergenciais que possam, imediatamente, fazer o 'freio de arrumação', nós não conseguiremos nem chegar a estudos e implantação de medidas estruturantes, a médio e longo prazo, que são necessárias (...) Precisamos realmente tornar a cadeia mais competitiva, mas para isso a gente precisa dar uma arrumada na casa. Nós não temos condições de continuar vendo milhares de produtores vulneráveis saindo da atividade e milhões de empregos no campo e na cidade, que a cadeia leiteira gera, vulneráveis. Essa é uma preocupação muito grande”, ressaltou.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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