A utilização de usinas eólicas offshore no Brasil é um campo ainda pouco explorado e com muito potencial para os próximos anos. Longe de serem apenas uma fonte mais limpa e sustentável de energias, essas usinas oferecem oportunidades de empregos, além de estímulo ao desenvolvimento tecnológico e científico, com a ampliação da capacidade energética do país a patamares muito superiores do que existe hoje.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem a capacidade de produzir até cerca de 700 GW (gigawatts) de energia elétrica por meio dessa tecnologia. Esse número é 3,6 vezes superior à capacidade de energia já instalada em terras brasileiras, que neste ano ultrapassou o patamar de 190 GW.
O levantamento da CNI, que aborda as oportunidades e desafios para a geração eólica no país, ainda explica que a instalação dessa modalidade de usinas no país é cada vez mais vantajosa, visto que nos últimos oitos anos há uma tendência de redução nos custos de produção de energia por meio do aproveitamento do vento.
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Em 2020, custo nivelado médio de energia para projetos comissionados caiu para abaixo de US$ 95/MWh (megawatts por hora). Segundo a entidade, a queda foi impulsionada, principalmente, pelo aperfeiçoamento da tecnologia e aumento da maturidade da indústria. Mesmo assim, os custos operacionais da energia eólica offshore ainda são maiores do que a terrestre - com valores anuais de aproximadamente US$ 70 a US$ 80/kW para offshore e US$ 30 a US$ 40/kW para onshore.
“Hoje temos no Brasil um potencial de 700 GW totalmente inexplorado, mas que pode mudar radicalmente o panorama energético do Brasil, principalmente quando você conecta com outras agendas como o próprio hidrogênio sustentável, no qual o Brasil tem várias vantagens comparativas de produção e a atendimento à demanda, principalmente em um contexto internacional”, avalia o gerente executivo do Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.
O estudo ainda considerou os locais mais favoráveis para a construção de usinas offshore na costa brasileira. Como afirma o gerente executivo da CNI, os lugares mais propícios para a instalação de eólicas se encontram no litoral do Nordeste (entre Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte), do Sudeste (Rio de Janeiro e Espírito Santo) e no Rio Grande do Sul. Nesses locais, há atualmente 78 projetos de eólicas offshore que ainda não saíram do papel e estão sendo avaliadas pelo Ibama.
Baixo carbono
Entre as metas estabelecidas no Acordo de Paris sobre o Clima - elaborado em 2015 - o Brasil deve reduzir em 37% as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2025 e em 50% até 2030. No ano passado, o país se comprometeu a zerar as emissões líquidas até 2050. “A energia offshore vem para somar, rumo à essa expansão de renováveis e com o objetivo de manter a matriz energética e elétrica do Brasil cada vez mais limpa e sustentável”, afirma Bomtempo.
Estima-se que no mundo inteiro podem ser adicionados 260 GW de nova capacidade eólica offshore até 2030. Com isso, as instalações de usinas nessa modalidade alcançariam 316 GW de capacidade até o final desta década, por meio de investimentos que chegam à casa de US$ 1 trilhão.
No entanto, alguns desafios ainda impedem o Brasil de impulsionar de vez a cadeia de energia eólica nas costas do país. Entre fatores de natureza regulatória, mercadológica, tecnológica, e de infraestrutura, o gerente executivo da CNI destaca a falta de um marco regulatório específico sobre o tema. “Ele (o marco) é importante para orientar todo o desenvolvimento dessa atividade. A gente precisa também de linhas de financiamento, e também agregar valor, por meio de inovação e tecnologia, a essa cadeia produtiva brasileira”, aponta o executivo.
Experimentos
Na semana passada, a Petrobras - em parceria com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) - realizou testes em laboratório com um modelo de tecnologia eólica offshore inédita no país. O objetivo foi avaliar o desempenho de um sistema eólico flutuante em escala reduzida, com base nas proporções da área de pré-sal localizada na Bacia de Santos, no litoral paulista.
Os pesquisadores acreditam que, com o sucesso da tecnologia, ela poderá gerar 15 MW de energia elétrica para plataformas do pré-sal. “Esse projeto demonstra a importância das parcerias da Petrobras com a academia para impulsionar o movimento de transição energética no país, com grande potencial de deflagrar uma onda de inovação sem precedentes no Brasil”, apontou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
*Estagiário sob a supervisão de
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