G20

Desigualdade e meio ambiente estão na pauta de Lula em encontro do G20

Lula participa de encontro das 20 maiores economias do mundo, na Índia, com integrantes profundamente divididos sobre temas políticos, como a guerra na Ucrânia. Brasil assumirá presidência do grupo em dezembro

No fim do encontro, que será marcado pela ausência de importantes chefes de Estado, o Brasil receberá pela primeira vez a presidência rotativa do G20 -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
No fim do encontro, que será marcado pela ausência de importantes chefes de Estado, o Brasil receberá pela primeira vez a presidência rotativa do G20 - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Rafaela Gonçalves
postado em 08/09/2023 03:55

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou ontem para a Índia, logo após as celebrações do 7 de Setembro, para a 18ª Cúpula de chefes de Estado e governo do G20, o grupo que reúne 19 das principais economias do mundo e a União Europeia. A agenda oficial ocorre neste sábado e domingo. A previsão é de que a comitiva brasileira chegue a Nova Déli, capital indiana, no fim da noite desta sexta-feira, pelo horário oficial de Brasília, manhã de sábado no país asiático.

No fim do encontro, que será marcado pela ausência de importantes chefes de Estado, o Brasil receberá pela primeira vez a presidência rotativa do G20. O país ficará à frente da instituição de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024 e será responsável por organizar a próxima cúpula, marcada para 18 e 19 de novembro do ano que vem, no Rio de Janeiro.

Em nota, o governo brasileiro destacou que, no período em que estará à frente do grupo, pretende aproximar os grupos técnicos que discutem políticas públicas daqueles que debatem questões de financiamento, “de forma que se coordenem entre si e trabalhem de forma mais integrada”.

Na Índia, Lula vai participar de três reuniões de trabalho do G20 e deve receber líderes de outras nações para reuniões bilaterais. No sábado, estão previstas duas reuniões temáticas. Uma falará de desenvolvimento sustentável, transição energética, mudanças climáticas, preservação ambiental e emissões de carbono. Outra abordará crescimento inclusivo, progresso nos objetivos de desenvolvimento sustentável, educação, saúde, e desenvolvimento liderado por mulheres.

No domingo acontece a terceira sessão da cúpula, intitulada “Um Futuro”. O painel terá como temas transformações tecnológicas, infraestrutura pública digital, reformas multilaterais e o futuro do trabalho e emprego. No mesmo dia haverá a cerimônia de transferência da presidência do G20.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fará um balanço sobre a presidência da Índia em 2023. Já o presidente Lula vai encerrar o evento, apresentando as prioridades e os desafios da futura presidência brasileira, que começa efetivamente a partir de 1º de dezembro. A presidência rotativa vai até o fim de 2024, quando uma nova cúpula será realizada no Brasil.

Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem se esforçado para tirar a maior economia da América do Sul do isolamento diplomático provocado pelo seu antecessor, participando de vários eventos multilaterais. Segundo o presidente, esta será uma oportunidade para debater a pauta da desigualdade no mundo.

“Vamos presidir o G20 ano que vem, os Brics em 2025 e ainda realizar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), em Belém. São três megaeventos que vão dar ao Brasil uma visibilidade diferente da que ele teve nos últimos anos. O país volta a fazer com que o mundo nos respeite, pela seriedade com que a gente trata as pessoas e a questão do clima”, argumentou o presidente.

O grupo responde por cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 75% do comércio internacional. O G20 é considerado o principal foro de cooperação econômica e financeira internacional, com grande capacidade de influenciar a agenda de organismos multilaterais e de mobilizar o setor privado.

Biocombustíveis

O presidente Lula pretende assinar no domingo um acordo global de incentivo aos biocombustíveis. A ideia é que, durante sua participação, ele apresente argumentos em defesa do etanol como instrumento para a descarbonização energética mundial e destaque a experiência brasileira com a utilização do combustível.

Durante o programa Conversa com o Presidente, na terça-feira, Lula indicou que um acordo com a Índia envolvendo combustível renovável terá destaque nos diálogos do fim de semana. “Brasil e Índia vão discutir a questão do etanol como combustível alternativo, que é extremamente importante, e nós temos que discutir com os outros países uma luta contra a desigualdade”, afirmou.

Às vésperas da partida, o mandatário recebeu em seu gabinete um grupo de empresários do setor automotivo e lideranças do setor energético para uma espécie de preparação para sua participação na Cúpula. Durante a conversa, Evandro Gussi, presidente da Unica, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Bioenergia, defendeu que o encontro do G20 sirva para que o governo trabalhe para estimular a criação de um cinturão verde de biocombustíveis entre mais de 100 países.

Segundo Gussi, a medida beneficiaria mais de 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo com a descarbonização. “O Brasil domina a tecnologia do etanol do campo à indústria automobilística. E essa tecnologia pode ser compartilhada com outros países, de tal forma a criarmos um cinturão verde de biocombustíveis entre mais de 100 países do chamado Sul Global”, disse o executivo, após o encontro.

Ausências podem esvaziar reunião

A falta de alguns dos principais líderes globais na Cúpula do G20 ameaça esvaziar o encontro e será um desafio para as discussões do bloco. O presidente chinês, Xi Jinping, será uma das principais ausências do evento, em meio a crescentes tensões comerciais e geopolíticas com Estados Unidos e a Índia, com a qual a China compartilha uma fronteira longa e conflituosa.

O governo chinês não deu explicações para a falta, limitando-se a dizer que o primeiro-ministro Li Qiang o representaria na reunião das grandes economias. A ausência de Xi terá impacto nos esforços de Washington para manter o G20 como o principal fórum para a cooperação econômica global. Segunda maior economia do mundo, a China passa por uma difícil recuperação pós-covid, com demanda interna fraca, aumento do desemprego entre os jovens e uma crise no setor imobiliário.

Assim como nos últimos encontros internacionais, o presidente russo Vladimir Putin também não comparecerá no G20 e será representado pelo ministro das Relações Exteriores do país, Serguei Lavrov. Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra Putin por acusações de crimes de guerra relacionados à deportação ilegal de crianças ucranianas. Ele corre o risco de ser detido, caso saia do país.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve aproveitar a ausência dos governantes da China e da Rússia para tentar promover alianças em um bloco fortemente dividido. Impasses sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e a reestruturação da dívida dominarão as negociações e poderão complicar acordos durante a reunião.

Biden estará acompanhado pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, que visita a Índia pela quarta vez em 10 meses, no âmbito dos esforços de Washington para reformar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, a fim de atender melhor os países em desenvolvimento.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, serão alguns dos representantes da União Europeia.

O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou que também não viajará após testar positivo para a covid-19. Madri será representada pelo ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, e pela vice-presidente e ministra da Economia, Nadia Calviño. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador também não vai comparecer.

Profundamente dividido por causa da guerra na Ucrânia, o G20 terá dificuldade em obter avanços ante a tensão entre os dois grupos antagônicos de aliados: EUA-União Europeia e Rússia e China. A conjuntura econômica global assombra o grupo das maiores potências mundiais. A Alemanha, o país mais rico da Europa, entrou em recessão e todo o continente caminha no mesmo sentido à medida que a crise se aprofunda.

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