Agenda econômica

Preocupação com deficit zero toma políticos e empresários no Lide

Participantes de encontro empresarial questionam como o Executivo vai conseguir receita para cumprir meta de deficit zero em 2024, prevista no o arcabouço fiscal

Rodrigo Pacheco defende acordo entre Poderes para fazer avançar propostas legislativas que ajudem o governo a equilibrar as contas -  (crédito: LIDE Brazil Development Forum )
Rodrigo Pacheco defende acordo entre Poderes para fazer avançar propostas legislativas que ajudem o governo a equilibrar as contas - (crédito: LIDE Brazil Development Forum )
Denise Rothenburg
postado em 02/09/2023 03:00

Washington — Nos bastidores dos debates no Lide Brazil Development Forum, na capital dos Estados Unidos, a preocupação das autoridades presentes era como o governo irá fazer para cumprir a meta de deficit zero no ano que vem. Até aqui, todos os presentes avaliaram que a situação é positiva, que o Produto Interno Bruto cresceu acima do esperado no segundo trimestre deste ano, mas que é preciso atenção. Não por acaso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem repetido à exaustão, e o fez novamente no evento do Lide, que "a batalha da inflação em termos globais, não está ganha, mas o Brasil tem buscado um pouso suave". Ele mencionou inclusive a necessidade de ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a cumprir a meta (fiscal, de deficit zero) em 2024. "O governo precisará de arrecadação extra para cumprir o que está no arcabouço. É importante que se ajude o ministro", mencionou, em palestra-almoço para empresários e políticos, nesta sexta-feira (1/9), em Washington.

Pela manhã, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já havia defendido que os Poderes da República se sentassem para discutir propostas que levem o Brasil a cumprir esse objetivo de deficit zero. "Temos que nos sentar e analisar as propostas legislativas inteligentes e justas para que o país possa cumprir a meta", afirmou, citando projetos que já estão em debate na Casa, como a taxação das offshores e das apostas esportivas.

Relações com a China

Em sua fala inicial, Pacheco mencionou as conversas que teve nos Estados Unidos: "Há uma grande apreensão nos Estados Unidos sobre o comportamento do Brasil. O desenvolvimento das relações se dá sob a liderança do presidente da República, mas não só", disse Pacheco, referindo-se ao encontro que teve, na quinta-feira, com brasilianistas do Instituto Wilson Center, no qual uma das preocupações foi a relação do Brasil com a China. "O Brasil é um país que negocia com todos os países e isso não significa excluir ninguém", afirmou o presidente do Senado.

A agenda econômica, tanto na opinião de Pacheco quanto dos demais palestrantes, está intrinsecamente relacionada à agenda ambiental. E, nesse sentido, o senador mineiro considera que o Poder Executivo não pode decidir sozinho as questões nacionais, e que deve haver equilíbrio entre preservação e desenvolvimento. "Defesa do meio ambiente não pode ser intransigente. E possível conciliar. Não podemos permitir o radicalismo do explorador voraz e irresponsável nem o ambientalismo intransigente", afirmou, num discurso marcado pela defesa do equilíbrio político e econômico. "E isso não será feito só pelo Executivo."

Meio ambiente

Pacheco ressaltou que o Brasil não pode abrir mão de suas riquezas naturais e disse que o Senado estará atento aos projetos. Citou, por exemplo, o marco legal do saneamento. "Nós atuamos para fazer prevalecer o marco legal do saneamento, quanto houve a tentativa de mitigá-lo", disse o presidente do Senado, ao lembrar que o Congresso estará presente na análise das propostas na área ambiental, tratamento de resíduos sólidos, crédito de carbono, e fará isso com os olhos voltados para o equilíbrio de ações que levem à transição energética, sem viés ideológico.

Outro que também está pronto para ajudar o Brasil nessa transição energética é o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ilan Goldfajn. O dirigente deixou claro que o banco tem como ajudar nesse caminho. Porém, é preciso ter bom projetos. "O Brasil é o principal cliente do BID", afirmou, referindo-se aos 80 projetos que a instituição financia no país, num total de R$ 82 bilhões. Goldfajn frisou que, ao longo dos anos, a filosofia está mudando. Antes, o banco levava mais em conta o volume de recursos desembolsado para os países. Hoje, está no radar o impacto que os projetos podem ter no desenvolvimento dos países. "Não se trata apenas de repasses de recursos e sim de levar uma vida melhor para as pessoas", afirmou.

Avanços

Do presidente do Banco Central ao do BID, passando por senadores, governadores e prefeitos, há uma boa vontade geral de influir e ajudar a construir o projeto de crédito de carbono. Pelos debates deste primeiro dia do forum, passaram 11 governadores, inclusive o do DF, Ibaneis Rocha, dois vice-governadores, de Minas Gerais, Mateus Simões, e o do Espírito Santo, Ricardo Ferraço.

A avaliação geral é a de que o país não pode perder a oportunidade de desenvolvimento que surge com a energia limpa, renovável e a sustentabilidade na produção dos mais variados insumos e produtos. "Temos uma visão otimista, de uma sequência de vitórias. A lista de reformas de três governos distintos é impressionante", comentou o CEO do Itaú, Milton Maluhy, referindo-se a várias delas, tais como lei do gás, marco do saneamento, open finance, Pix, reformas trabalhista e tributária, cuja análise ainda está em curso, e a autonomia do Banco Central, muitas vezes criticada pelo governo Lula. Maluhy ressaltou ainda o resultado do PIB, anunciado ontem, como algo acima das expectativas. Porém, não deixou de mencionar que espera um crescimento um pouco menor este ano, em relação à expectativa anterior.

Lula não perdoou críticas

Nenhum integrante do governo federal foi ao Lide Brazil Investment Forum ouvir as contribuições de tantas autoridades que, embora tenham uma visão diferente do governo federal em relação a alguns aspectos econômicos, querem contribuir no debate e têm poder de influenciar as decisões. No Planalto, a avaliação é a de que o presidente Lula não perdoou as críticas que recebeu de João Doria, fundador do Lide, quando o empresário ainda governava São Paulo. Porém, se o governo não vai ao Lide, os presentes ao evento — com votos no Congresso e presença forte no setor produtivo e econômico do país — estão preparados para influenciar as soluções.

"Terminamos com o sentimento de que estamos navegando com o mesmo destino, de ajudar o Brasil. Aqui, não há os que são de esquerda, de direita, aqui estão aqueles dispostos a caminhar pelo bem do país", disse Doria, que tem feito vários eventos de discussão mundo afora. A maratona de exposições do dia terminou com a música de Ivan Lins "Um novo tempo". Hoje, as autoridades têm encontro marcado no BID, em Washington.

 

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