Guarujá (SP) - Ao encerrar o Fórum Esfera 2023, neste sábado (26/8), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez um balanço da atuação do Conselho de Política Monetária (Copom) e afirmou que a autonomia do BC passa pelo seu grande teste, com a atuação de sua primeira diretoria composta por indicados de diferentes governos. Na avaliação dele, quanto mais diverso for o Copom, melhor, seja para o BC, seja para o governo federal.
"É importante a mistura dos que estão na casa com os que vêm de fora. Pela primeira vez, diretores convivem com quem o governo não indicou. Isso é saudável. Eu acredito na diversidade. Quanto mais diverso for o Copom, melhor ele vai ser. O BC tem se mostrado ser muito técnico, qualificado. As decisões devem ser sempre direcionadas pelos argumentos técnicos", disse Campos Neto, referindo-se à diretoria composta por nomes indicados por Bolsonaro e aos recém-nomeados, Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos, indicados por Lula.
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Campos Neto dividiu o palco com o empresário Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da Península Participações; o ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STF); e Paulo Gala, economia-chefe do banco Master.
Enquanto o diplomático presidente do BC elogiava o governo por tentar melhorar a parte fiscal, Abílio partia para as cobranças diretas: "Está faltando ambição. O presidente Lula diz que quer colocar os pobres no orçamento. Não dá para fazer isso sem crescimento econômico”, diz Abílio. E, ao final, reforçou: “O ministro Fernando Haddad está procurando mais e mais receita para o arcabouço fiscal, A melhor maneira é colocar a economia para funcionar. Vai ter muito mais arrecadação e muito mais imposto”, afirmou o empresário, que quase teve a sua participação no evento comprometida ao levar um tombo, na hora de subir ao palco.
Campos Neto, porém, é cauteloso também ao mencionar o crescimento do país. Ele considera que é preciso observar a capacidade de crescer sem gerar mais inflação. "Tem setores com mais espaço e outros com menos. É preciso observar como está a expectativa quando olhamos para a frente. Quando eu faço uma coisa, ela leva tempo para maturar. Preciso olhar lá na frente para ver se tem uma curva, um obstáculo. Olhamos também a expectativa de mercado. Política monetária leva tempo até impactar a economia."
O presidente do BC reforçou a imagem do "pouso suave", que faz questão de citar em todas as palestras: "Nosso objetivo é fazer um pouco suave, puxando o índice (de inflação) para baixo causando o menor prejuízo possível à sociedade. Eu quero trazer a inflação para baixo com o menor custo possível para a sociedade, com a menor queda do PIB e com o mínimo de ruptura no canal de crédito possível", afirmou. "Poucos países do mundo fizeram o que a gente fez."
Controle de gastos
Em relação ao controle de gastos, tão cobrado pelos políticos no painel sobre reforma tributária, Campos Neto lembrou que o BC não faz a política fiscal e que é preciso trabalhar para que os juros caiam de uma forma mais consistente. "Reconhecemos o esforço que o governo tem feito, mas não depende só do governo, mas também do Congresso. Mas acredito que as coisas estejam caminhando no caminho certo", comentou.
O economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, foi, ao lado do presidente do BC, portador de uma mensagem bastante otimista. "O Brasil tem todas as condições dadas e não pode perder a oportunidade. "Estamos entre os 10 maiores produtores de petróleo, sem falar na economia verde, no biometano, na transição energética. O Brasil ganhou na loteria. Mas não dá para gastar o dinheiro. É preciso transformar em investimento para crescer mais", diz.
Já o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luís Felipe Salomão fez um alerta aos congressistas presentes que analisam a reforma tributária, no sentido de evitar judicialização no futuro. Nas entrelinhas, cobrou um texto bem fundamentado para a reforma: "Se a bola vier quadrada, é difícil de o judiciário não ver o tumulto sendo criado. O juiz atua no limite da lei, mas ele não a cria. É uma parte da segurança jurídica. Temos ferramentas, mas precisamos de uma boa questão legislativa."
*A repórter viajou a convite do Fórum Esfera 2023
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