Após forte oscilação, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou a sessão desta sexta-feira (4/8) em queda de 0,89%, aos 119.507,68 pontos, encerrando a semana com recuo de 0,57%.
O indicador foi afetado, principalmente pelos resultados negativos dos balanços relativos ao segundo trimestre da Petrobras e do Bradesco, que possuem grande peso no Ibovespa.
A petroleira reportou lucro líquido de R$ 28,7 bilhões na noite de quina-feira (3/8), queda de 47% em relação ao trimestre anterior. No caso da instituição financeira, o resultado de R$ 4,5 bilhões recuou de 36% no mesmo período.
Diante do fraco desempenho no balanço, as ações preferenciais da Petrobras caíram 2,66%, cotadas a R$ 30 no fechamento. Os papéis do Bradesco despencaram 6,65%.
- Lula sobre lucro bilionário de acionistas da Petrobras: "Não podemos aceitar"
- Petrobras revê política de preços
O analista da CM Capital, Pedro Canto, atribuiu a queda da estatal também à nova política de dividendos da empresa, que reduziu o patamar de distribuição de rendimentos aos acionistas.
"A gente já vinha em um cenário interno mais negativo por causa do balanço da Petrobras. Na verdade, o balanço não foi tão ruim, o que preocupou bastante foi a nova política de dividendos. E o resultado do Bradesco também não agradou, sofrendo com inadimplência, com receitas e lucros menores que a expectativa", destacou.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, os investidores começam a precificar de forma mais intensa uma possível interferência do governo na Petrobras para segurar os custos dos combustíveis, trazendo desconforto e incerteza em relação ao futuro da empresa.
"Principalmente agora que o fim do PPI (Preço de Paridade Internacional) tem chamado a atenção e a possível alta do petróleo pode acabar sendo um problema, já que boa parte das despesas da empresa está atrelada à precificação do dólar no mercado internacional", observou o analista.
Empresa explica
Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o resultado pior da empresa não tem relação com a nova estratégia de preços de combustíveis, que levou a reduções sistemáticas e a nenhum aumento em sua gestão. De acordo com ele, o lucro menor foi determinado pela queda nos preços internacionais do petróleo e do diesel no referido trimestre, ante um ano atrás. Ele falou em entrevista coletiva sobre o resultado financeiro do período.
"É absolutamente desconexa a linha de raciocínio que atribui a queda no lucro à mudança na política de preços (de combustíveis). Houve queda brutal do (petróleo tipo) Brent. Estamos falando de um período (segundo trimestre de 2022) com o petróleo muito alto e margens de diesel extremamente expressivas. Estamos em outras circunstâncias", disse Prates.
Conforme o ex-senador, a Petrobras teve desempenho melhor que outras grandes petroleiras. "Nós desempenhamos melhor do que as nossas coirmãs e investindo mais", afirmou Prates. "Em termos de fluxo de caixa operacional, essas empresas caíram, em média, US$ 6,5 bilhões, queda de 45% (em um ano). Nós caímos abaixo da média, 35,9%", comentou. Ele destacou ainda que o lucro do segundo trimestre foi o 10º maior da história da Petrobras e que o volume de produção trimestral do pré-sal foi recorde.
Efeito Copom
Por outro lado, a Bolsa frustrou parcialmente parte das expectativas quanto a uma alta mais forte após o corte da taxa básica de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na última quarta-feira.
Apesar de a autoridade monetária ter surpreendido, jogando a taxa 0,5 ponto percentual para baixo, para 13,25%, enquanto a maior parte do mercado esperava 0,25 ponto, investidores optaram pela cautela.
"É importante pontuar que nos últimos quatro meses nós tivemos uma alta de mais de 17% no Ibovespa, já antecipando o corte que ocorreu na última reunião do Copom. A queda dos juros já era esperada e foi sendo precificada ao longo dos últimos meses. Não é no mesmo dia ou na mesma semana que acontece um corte de juros que a bolsa reage", ponderou Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.
Influência política
Entre os fatores apontados por minguarem o otimismo do mercado em relação ao corte de juros está a possibilidade de decisões políticas estarem influenciando o Banco Central e que a instituição passe a aplicar cortes "mais consistentes", como mencionou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"A curva de juros brasileira caiu na ponta mais curta, mas acabou subindo em vencimentos mais longos. Isso mostra um medo em relação às consequências das decisões de política monetária que estão sendo tomadas a médio e longo prazo", avaliou Lelis. De acordo com ele, há uma preocupação quanto a uma inflação mais alta mais a frente. "Ainda não sabemos qual será a consequência desse ciclo de queda de juros", destacou.
Dólar fecha em baixa
Após três dias de alta, o dólar fechou, nesta sexta-feira (4/8), em baixa ante o real, com as cotações sendo conduzidas pelo exterior, onde dados sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos elevaram as apostas de que o Federal Reserve pode não subir mais os juros em 2023. A queda da moeda norte-americana foi de 0,51%, ficando em R$ 4,87. Entretanto, apesar do movimento desta sexta-feira, a moeda norte-americana fechou a semana com alta de 3,03%.