JUDICIÁRIO

123milhas: entenda a recuperação judicial pedida pela empresa

Empresas solicitam essa condição à Justiça para ter mais tempo para negociar as dívidas junto aos credores. Confira detalhes de como funciona recuperação judicial

A agência 123milhas comercializa passagens de avião e pacotes de viagens -  (crédito: Tudo Viagem/ Divulgação)
A agência 123milhas comercializa passagens de avião e pacotes de viagens - (crédito: Tudo Viagem/ Divulgação)
Francisco Artur
postado em 30/08/2023 16:58 / atualizado em 30/08/2023 16:59

A agência de viagens 123 Milhas entrou com pedido recuperação judicial, na terça-feira (29/8), à 1ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte. No pedido, estavam inclusos o CNPJ da empresa Art Viagens e a Novum, holding com 100% do capital da 123milhas. A empresa Hotmilhas, que pertence aos donos da 123milhas, também consta no pedido enviado à Justiça.

A solicitação de recuperação judicial ocorreu após a empresa comunicar o cancelamento de passagens e pacotes da linha promocional da empresa previstos para o período de setembro a dezembro deste ano. Diante disso, a empresa adotou medidas para reparar os clientes, por meio da entrega de vouchers para ser trocados por passagens, hotéis ou pacotes, e para ajustar a operação por meio do pedido de recuperação judicial.

O que é recuperação judicial

Para o professor de recuperação judicial, do Instituto de Direito Público (IDP) Marlon Tomazette, empresas solicitam essa condição à Justiça com o objetivo de terem mais tempo para negociar sua dívidas junto aos credores. 

"No caso da 123milhas, as dívidas acumulam R$ 2,6 bilhões. Então, caso o pedido de recuperação judicial seja acatado pela Justiça, a empresa terá mais chance de negociar com os credores. Então, a recuperação judicial é uma renegociação no meio de um processo", afirmou o professor, especialista em direito empresarial.

A lei que discorre sobre recuperação judicial de empresas é de 2005 e foi alterada em 2020. A norma não prevê o tempo que a Justiça terá para conceder ou não o direito à recuperação judicial. Sobre isso, Marlon estipulou que uma determinação deve sair entre "dois a três dias". 

Quanto aos critérios, a lei prevê que apenas as empresas que estejam funcionando no momento do pedido e que tenham pelo menos dois anos de operação podem solicitar a recuperação judicial como uma forma de renegociar suas dívidas.

"A 123milhas, por exemplo, teve de apresentar à Justiça uma lista de documentos que a lei exige para mostrar como está a situação financeira, quais são as dívidas e em quais processos a empresa já está envolvida", explicou o professor.

Esses documentos abrangem, por exemplo, a contabilidade da empresa, os bens, a lista de credores, as dívidas com a Receita Federal e detalhes sobre os empregados. "Basicamente, esse documentos mostram como está a situação financeira da empresa e quais pessoas podem ser afetadas", resumiu Marlon.

"A proposta aos credores tem de ser feita em 60 dias. Uma ano e meio é, em média, o período em que ela (a proposta) será negociada com os credores", especificou. 

Embora o professor tenha citado o período de 18 meses como uma média à empresa apresentar a proposta aos credores, há exemplos, no Brasil, de pessoas jurídicas que demoraram menos tempo. "A cervejaria Petrópolis, por exemplo, deram entrada no processo de recuperação judicial em março deste ano e já vai apresentar a proposta aos credores amanhã (31/8)", contou. 

Após fechamento do acordo com credores

O período de um ano e meio, em média, se refere à negociação da proposta com os credores. Caso seja aprovado, a recuperação judicial continua vigente. 

"Depois que tem o acordo fechado, o processo pode durar mais de dois anos. Então, um período para fechar o acordo e outro, para os credores fiscalizarem o cumprimento do acordo", disse o professor do IDP.

Recuperação judicial não é falência

Embora tanto a crise da 123milhas quanto o seu pedido de recuperação judicial causem discussões sobre o futuro da empresa, o ato de acionar a Justiça para ter mais tempo de negociação da dívidas não pode ser confundido como uma declaração de falência. "Apesar de serem tratadas pela mesma lei, a recuperação é uma renegociação de dívidas para tentar manter o negócio funcionando, é uma facilitação para manter a operação. Já a falência significa o fim do negócio", pontua Marlon.

O advogado, no entanto, afirmou que, mesmo após a recuperação judicial, a empresa pode decretar falência. 

Primeira empresa digital a pedir recuperação judicial

Pedidos de recuperação judicial são mais comuns do que parecem no Brasil e abrangem grandes empresas. No início deste ano, as Lojas Americanas relataram um rombo de R$ 20 bilhões. Esse prejuízo a levou a pedir uma renegociação das dívidas.

A empresa de telefonia Oi, também neste ano, ajuizou um pedido de recuperação judicial. Esse caso, foi o segundo processo que abrange este tema enviado pela Oi.

No caso da 123milhas, entre o histórico de recuperações judiciais no mercado, a agência de viagens foi a primeira empresa digital no país a solicitar a renegociação das dívidas por vias judicias. 

 

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