Cúpula do Brics

Ampliado, Brics terá 36% do PIB global

Grupo de países em desenvolvimento deverá ganhar mais seis membros no próximo ano e estuda "moeda de referência" para trocas comerciais

Lula, ao lado dos líderes de China, África do Sul, Índia e Rússia, celebra conclusão da cúpula; para analistas, chineses levaram mais vantagem -  (crédito:  Ricardo Stuckert/PR)
Lula, ao lado dos líderes de China, África do Sul, Índia e Rússia, celebra conclusão da cúpula; para analistas, chineses levaram mais vantagem - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Ingrid Soares
postado em 25/08/2023 03:55

O grupo Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul terá, em janeiro de 2024, mais seis integrantes: Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (24/8) pelo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa que destacou que o "Brics inicia um novo capítulo". Com a mudança, o bloco, que tem como objetivo a cooperação econômica e o desenvolvimento dos países-membros, ganha uma face ainda mais heterogênea, o que aumenta os desafios na formulação de políticas do grupo.

A ampliação do número de integrantes foi um dos principais temas discutidos na 15ª Cúpula do Brics, ocorrida em Joanesburgo, na África do Sul, desde o início da semana. A entrada dos novos membros foi impulsionada, sobretudo, pela China. Em discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o interesse de outros países em aderir ao bloco "mostra o quão relevante é a busca por uma nova ordem econômica mundial". Ele destacou que o Brics passará a representar 36% do PIB global, em paridade de poder de compra, e 46% da população mundial.

Lula teve papel importante no convite à Argentina, e dedicou uma mensagem especial ao presidente do país vizinho, Alberto Fernández, a quem chamou de "grande amigo do Brasil e do mundo em desenvolvimento". "Continuaremos avançando lado a lado com nossos irmãos argentinos em mais um foro internacional", afirmou. Em entrevista a jornalistas, o presidente brasileiro disse não se importar "do ponto de vista dos Brics, com quem ganhe a eleição na Argentina". O favorito no pleito é o direitista radical Javier Milei, que, por sinal, criticou ontem a entrada do país no bloco. "A Argentina sob o nosso governo não estará no Brics", declarou, em evento em Buenos Aires.

Lula disse que "o Brasil, enquanto Estado, vai negociar com o Estado argentino independentemente de quem seja o presidente". "A responsabilidade que tomamos hoje, e é isso que dá seriedade à escolha da Argentina, é que a gente não está colocando a questão ideológica dentro do Brics. A gente está colocando a importância geopolítica de cada Estado. A Argentina é muito importante na relação com o Brasil e na relação com a América do Sul", emendou.

Moeda de referência

Os atuais membros do bloco se comprometeram também a estudar a criação de uma moeda para facilitar as trocas comerciais entre os países membros. Uma proposta deve ser apresentada na próxima reunião de cúpula, que deve ocorrer na Rússia.

"Essa medida poderá aumentar nossas opções de pagamento e reduzir nossas vulnerabilidades", disse Lula. "Ninguém quer mudar a unidade monetária dos países. O que nós queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócios sem precisar comprar dólar", emendou.

Maior ganho é da China

A especialista Mariana Cofferri, analista de Relações Internacionais, observou que as seis nações que passarão a integrar o Brics, apesar das diferentes formas de governo, são países geopoliticamente estratégicos e demonstram claramente a intenção chinesa de buscar influência na região do Oriente Médio, principalmente entre os grandes produtores de petróleo.

"A Etiópia, grande surpresa apresentada, foi uma estratégia sul africana para ceder à expansão do grupo. O maior ganho é para a China, que, desde o início, fomentou a ampliação do bloco econômico, e conseguiu. O Brasil, embora tenha apresentado um forte discurso de cooperação, teve que negociar (incluindo uma jogada fadada ao insucesso — a da Reforma do Conselho de Segurança da ONU), a fim de conseguir levar a Argentina para o grupo como um aliado. A Argentina, maior parceiro comercial brasileiro na América do Sul, garante ao Brasil o protagonismo regional", disse.

Pluralidade dificulta processo decisório 

A analista frisou que a pluralidade de um grupo econômico torna mais difícil o processo decisório. "Essa é a razão pela qual a China fomentou a entrada de quatro dos países que aderiram, para que, quando o momento pertinente chegar, o apoio seja facilitado. O fato de serem ditaduras ou democracias dependerá que como o processo de adesão será realizado, quais serão os termos condicionantes. E sabe-se que, num grupo econômico, havendo movimentação financeira, na prática, pouco importa o regime de governo", opinou.

Após o Brics, o presidente Lula desembarcou em Angola, onde fará uma visita de Estado, e depois para São Tomé e Príncipe, para participar da conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

 

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