Após uma série de polêmicas envolvendo sua indicação à presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann assumiu oficialmente, nesta sexta-feira (18), o comando do órgão. No discurso de posse, o economista, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez críticas à gestão anterior, do governo Bolsonaro, e disse que a recuperação do instituto de pesquisas é "urgente e inadiável", diante de um "vendaval tóxico e destrutivo dos anos recentes". E prometeu manter uma postura técnica na direção do órgão.
"O IBGE é um espelho da sociedade brasileira — revela como e quantos somos, como vivemos. É uma espécie de bússola para o país, capaz de mapear trajetórias e apontar soluções", destacou. "Sem concursos públicos e sob rebaixamento salarial e precarização generalizada das condições de trabalho, o IBGE foi submetido a uma de suas piores situações vivenciadas desde o ano de 1936, quando foi constituído", afirmou.
A cerimônia de posse ocorreu na sede do Ministério do Planejamento e Orçamento, ao qual o IBGE é vinculado, e teve as presenças de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra Simone Tebet. Pochmann foi nomeado ao comando do IBGE em 8 de agosto. Sua escolha para o cargo foi anunciada pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, antes que Lula tivesse conversado com Tebet. A situação criou ruídos no governo porque o presidente teria atropelado a escolha da ministra.
- Tebet sobre troca no IBGE: "Acataremos qualquer nome que venha"
- Lula escolhe Marcio Pochmann para presidente do IBGE
Com forte tom político, Pochmann destacou em seu discurso que os resultados entregues pelo IBGE são orientadores das políticas públicas. "Desemprego, pobreza, fome, degradação ambiental, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação são problemas que demandam respostas socialmente responsáveis. Essa tarefa só é possível com o Estado indutor de políticas públicas", afirmou. Ele reforçou: "A hora é de reconstrução e ampliação de horizontes, em sintonia com todos os avanços que a era digital proporciona".
A decisão de escolher o economista filiado ao PT ocorreu em meio a resistências de uma ala do Ministério do Planejamento, que abriga o órgão de pesquisas, e de economistas de visão mais liberal. O novo chefe do IBGE é conhecido por pesquisas em temas como economia social, desigualdade e mercado de trabalho.
Pochmann coleciona visões polêmicas. Ele já fez críticas ao Pix, dizendo que a iniciativa do Banco Central seria "mais um passo na via neocolonial" e uma "condição perfeita ao protetorado dos Estados Unidos". Quando presidente do Ipea, defendeu uma alíquota de 60% no Imposto de Renda para quem recebe mais de R$ 50 mil e também que o Brasil fizesse uma exploração ao "espaço sideral".
Visão ideológica
Quando o nome do indicado de Lula foi divulgado, o economista Edmar Bacha, que presidiu o IBGE nos anos 80, chegou a dizer que se sentia "ofendido" com o sucessor e disse que o órgão de pesquisa teria um problema, pois Pochmann tem uma visão "totalmente ideológica" da economia. Bacha chegou a ajudar Tebet a formular o seu plano para a economia na candidatura à Presidência e se disse inconformado com o novo chefe do instituto.
Lula precisou defender ferrenhamente seu apadrinhado. "Não é aceitável as pessoas tentarem criar uma imagem negativa de uma pessoa da qualificação do Marcio Pochmann. É um dos grandes intelectuais desse país, um rapaz extremamente preparado", disse no início do mês, durante o programa Conversa com o Presidente. "Eu o escolhi porque confio na capacidade intelectual dele, é um pesquisador exímio. Agora, algumas pessoas que possivelmente queriam ir para lá ficam colocando dúvida sobre a idoneidade", emendou.
Em seu discurso, Pochmann não fez nenhuma referência a críticas de alguns economistas de possível influência política e intervenção na forma de atuação do IBGE. Ele destacou, no entanto, suas próprias credenciais acadêmicas para assumir o comando do órgão de pesquisa com o "máximo rigor técnico e científico". Ao mencionar o desafio de comandar o IBGE, o economista disse que a indicação cobrava "a totalidade das energias e competências que quase 40 anos de vida dedicada ao ensino".
Histórico
Pochmann formou-se em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e é doutor pela Universidade de Campinas (Unicamp), onde também leciona. O economista concorreu à prefeitura da cidade do interior paulista em 2012 e 2016, mas não se elegeu em nenhuma das oportunidades.
O comando do IBGE não será a primeira participação do economista em gestões petistas. Ele foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2007 e 2012, no segundo mandato de Lula no Planalto.
Em 2018, Pochmann coordenou o programa econômico da candidatura presidencial de Fernando Haddad (PT). Dois anos depois, assumiu a presidência do Instituto Lula e teve sua primeira participação no atual governo quando integrou a equipe de transição no fim do ano passado, no grupo de Planejamento, Orçamento e Gestão.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.