Após uma manhã de instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista se firmou em alta, embora modesta, ao longo da tarde e emendou nesta quarta-feira, 9, o terceiro pregão consecutivo de valorização no mercado doméstico de câmbio. Com oscilação de cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 4,8748) e máxima (R$ 4,9162), a moeda encerrou cotada a R$ 4,9050, avanço de 0,15%. Com alta em seis dos sete pregões de agosto, o dólar acumula ganhos de 3,71% no mês, o que reduz as perdas no ano para 7,10%.
Segundo operadores, o ambiente é marcado por cautela e ajustes finos de posições, com investidores evitando apostas mais contundentes diante de um cenário externo mais incerto e de ausência de gatilhos locais que suportem uma nova rodada de valorização do real. Além do atraso na votação final do novo arcabouço fiscal, há dúvidas em torno do andamento dos trabalhos da reforma tributária no Senado e do cumprimento das metas fiscais.
No exterior, dados de deflação na China em julho lançam preocupações sobre o desempenho da segunda maior economia do mundo, em parte contrabalançadas pelas expectativas de adoção de mais estímulos por parte do governo chinês para estimular a atividade. Moedas de países emergentes e exportadores de commodities apresentaram sinais divergentes, incluindo pares do real, como peso mexicano e rand sul-africano.
Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY operou ao longo dia em leve queda, ao redor dos 102,500 pontos. Na quinta-feira sai o índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos referente a julho, o que pode mexer nas expectativas em torno da condução da política monetária americana.
"O real apresenta desempenho um pouco pior que outras moedas emergentes desde o início do mês, principalmente em comparação ao peso mexicano. Isso está muito ligado à China. As commodities tinham se recuperado bem, mas nas duas últimas semanas o minério de ferro e a soja caem na comparação com o mês passado", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, para quem a surpresa com a redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic pode ter contribuído para o escorregão do real. "O corte não me surpreendeu porque achava que 0,50 era o mínimo. Mas isso tende a tirar um pouco atratividade do real, embora o carry trade seja feito no dia a dia e a taxa ainda seja alta, de 13,25%."
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que o ambiente externo de pouco apetite ao risco e a perda de fôlego das commodities aumentou a volatilidade entre as divisas emergentes e acabou castigando o real. Ele ressalta que, a despeito de anúncios de estímulos na China, a economia do gigante asiático não dá sinais de reação mais firme. Além disso, o Brasil acaba de embarcar em um ciclo de redução da taxa Selic, enquanto os Estados Unidos tendem a manter - ou aumentar residualmente - seus juros. Esse descompasso acaba levando investidores a ajustar suas posições em reais.
"Aqui dentro temos dúvidas sobre a aprovação da reforma tributária e o cumprimento das metas do arcabouço. Não vejo o dólar indo para R$ 5,00, mas também não acredito que retorne para o nível de R$ 4,70. É mais provável que opere ao redor de R$ 4,85 por um tempo", afirma Velloni.
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