Com nomeação já cercada por polêmicas, o economista Marcio Pochmann chega à presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para substituir o interino Cimar Azeredo em uma movimentação que destaca uma disputa interna no governo federal entre os representantes da ‘frente ampla’ e a ala mais atrelada ao Partido dos Trabalhadores (PT). O anúncio do novo comando foi feito nesta quarta-feira (26/7) pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta.
Pochmann assumirá o posto que está ocupado, desde janeiro, por Cimar Azeredo, funcionário de carreira do IBGE desde os anos 1980 e nome apontado como favorito da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB) para o comando do instituto.
Tebet está à frente da pasta a qual o IBGE é vinculado, mas declarou não ter sido previamente informada sobre a escolha do novo presidente do instituto. A nomeação de Pochmann é vista como uma vitória do PT na organização do governo, já que o economista é filiado ao partido desde os anos 1980.
Pochmann formou-se em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e é doutor pela Universidade de Campinas (Unicamp), onde também leciona. O economista concorreu à prefeitura da cidade do interior paulista em 2012 e 2016, mas não conseguiu se eleger em nenhuma das oportunidades.
O comando do IBGE não será a primeira participação de Pochmann em gestões petistas. Ele foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2007 e 2012, no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Planalto.
Em 2018, Pochmann coordenou o programa econômico da candidatura presidencial de Fernando Haddad (PT). Dois anos depois, o economista assumiu a presidência do Instituto Lula e teve sua primeira participação no atual governo quando integrou a equipe de transição de Lula no fim do ano passado, no grupo de Planejamento, Orçamento e Gestão.
Alinhamento ao petismo
O economista de 61 anos tem um histórico de atuação acadêmica associado à linha desenvolvimentista do PT e da defesa das classes trabalhadoras. Pochmann coleciona declarações e artigos que tratam, por exemplo, sobre a correção da tributação no Brasil e a necessidade de taxar os mais ricos do país.
Pochmann teve espaço midiático em 2020 quando, às vésperas do lançamento do PIX, fez críticas ao método simplificado de transferência bancária. À época, o economista escreveu em seu perfil no Twitter que: "com o Pix, BACEN concede mais um passo na via neocolonial a qual o Brasil já se encontra ao continuar seguindo o receituário neoliberal. Na sequência vem a abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar. Condição perfeita ao protetorado dos EUA"
A nomeação de Pochmann ao IBGE repercutiu positivamente dentro do partido. Em menos de 24 horas, diversas lideranças petistas se manifestaram publicamente em apoio ao correligionário. "Indicação de Marcio Pochmann pro IBGE é muito bem-vinda. Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo. Em tempos de profunda desigualdade, é a escolha ideal para o cargo. Na torcida aqui", escreveu Gleisi Hoffmann, presidente da legenda.
"Boa notícia. Marcio Pochmann confirmado na presidência do IBGE. Economista, especialista em desenvolvimento e políticas públicas, já presidiu o Ipea na gestão Dilma e a Fundação Perseu Abramo. Boa sorte, Márcio!", escreveu o deputado federal mineiro Rogério Correia (PT).
Cimar Azeredo deixa o comando do IBGE após a divulgação do Censo de 2022, processo dificultado pelo atraso e falta de verbas destinadas ao órgão durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
O IBGE tem quase quatro mil funcionários no país. O instituto é responsável pela realização de levantamentos que norteiam políticas públicas e a destinação de verbas. Além disso, o órgão é responsável pela realização de pesquisas sobre inflação (IPCA), comportamento da atividade econômica (PIB), dados do mercado de trabalho e Censo.
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