São Paulo — Praticamente oito em cada 10 transações bancárias efetuadas em 2022 ocorreram por meios digitais, aponta dados da 31ª edição da Pesquisa de Tecnologia Bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O levantamento, realizado pela Deloitte, foi divulgado nesta quarta-feira (28/6) durante o segundo dia da Febraban Tech, maior feira de tecnologia bancária da América Latina.
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As transações foram realizadas por meio de aplicativos de bancos para celulares, os chamados mobile banking, ou nas plataformas das instituições (internet banking). Os dois canais digitais representam 77% das transações feitas em 2022. O crescimento dos usos digitais também refletiu no volume total das operações bancárias no Brasil: foram 163,3 bilhões em 2022 — o maior número já registrado na série histórica da entidade e um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
Esse resultado, segundo a entidade, é decorrente do crescimento de 54% no número de operações realizadas pelos clientes por meio das plataformas para celular — no total, esse recorte das operações totaliza 107,1 bilhões. Os resultados também refletem o crescimento dos investimentos dos bancos em tecnologia da informação, que cresceu quase 30%, no ano passado, passando de R$ 34,9 bilhões de investimentos para R$ 45,1 bilhões. A expectativa de executivos da entidade é de um crescimento parecido, em torno de 29%, para este ano.
Pix registra crescimento de 105% em 2022
A pesquisa confirma que o Pix, plataforma de pagamento instantâneo que caiu no gosto dos brasileiros, registra crescimentos expressivos ano a ano. “O Pix não cresce, ele salta”, resumiu Rodrigo Mulinari, diretor do Comitê de Inovação e Tecnologia da Febraban, em entrevista aos jornalistas.
Segundo o estudo, em 2021, o PIX foi responsável por 5,7 bilhões de transações, e, em 2022, o volume ultrapassou os 11,7 bilhões — um aumento de 105% no período. Já as transações feitas por TED e DOC, que será extinto pelos bancos no próximo ano, registram quedas de 29% no mesmo período.
Mulinari destacou que o Pix também registrou crescimento expressivo no número de usuários que realizam no mínimo 30 transações instantâneas por mês — os chamados heavy users — tanto para contas pessoa física quanto para pessoa jurídica.
O número de envios via Pix aumentou 131%, totalizando 46 milhões de “heavy users”, enquanto os recebimentos alcançaram 33 milhões – aumento de 106%.
“O Pix comeu uma fatia do que era feito em DOC e TED, porque se popularizou muito. Ele também ajudou a reduzir o volume de papel moeda, reduzindo o volume de saques e depósitos nas agências”, explicou Mulinari.
Whatsapp cresce como canal de operação bancária
O estudo da Febraban apresentou um relatório sobre a utilização do WhatsApp como canal de operação bancária dos clientes, em mais um serviço digital oferecido por 18 bancos ouvidos pela pesquisa. O novo canal registoru um salto de 531% de uso, atingindo 56,2 milhões de transações. Desse total, 37% se referem às operações via Pix e 29% às renegociações de dívidas. A ferramenta também é utilizada para a realização de consultas.
“Os números, mesmo que ainda pouco expressivos, demonstram uma tendência de maior adoção do canal pelos usuários de serviços bancários”, destacou Rodrigo Mulinari, diretor do Comitê de Inovação e Tecnologia da Febraban. A expectativa dele é que a participação do WhatsApp aumente no conjunto de operações bancárias nas próximas pesquisas da entidade.
Tendência digital também é presente em PJs
Sérgio Biagini, sócio-líder da Deloitte para a Indústria de Serviços Financeiros, a digitalização dos serviços financeiros é a tendência do mercado brasilerio diante do avanço da tecnologia e da confiança do consumidor em utilizar os canais digitais.
Enquanto os acessos móveis são os mais utilizados pelos clientes pessoa física, as empresas ainda preferem o internet banking para a maior parte das suas operações. De acordo com o executivo, a partir deste ano, esse quadro vai se inverter porque ficaram muito próximos no ano passado, pois a pesquisa registrou 13 bilhões em transações dos clientes PJ via internet banking contra 12,9 bilhões no mobile. “Se essa tendência se confirmar, possivelmente, como vai esse ano de 2023, vamos falar que o mobile é o canal preferencial também da pessoa jurídica”, ressaltou Mulinari.
Novos produtos
O estudo abordou ainda outras novidades do setor financeiro como o Open Finance, ainda pouco popularizado entre os clientes – que estão bastante reticentes em concordar em abrir seus dados para os outros bancos apesar do aumento de 971% na quantidade de usuários pessoas físicas aderindo à plataforma. De acordo com Mulinari, 20% das instituições financeiras têm de 10% a 20% da base de clientes, consentindo o compartilhamento de informações.
O levantamento ainda constatou que 55,2 milhões de novos produtos de seguro foram contratados em 2022. Desse total, 25% das contas contrataram ao menos um produto de seguridade. “O cenário demonstra a oportunidade de digitalizar o processo de contratação de seguros de ponta a ponta, com a utilização de tecnologias e orquestração de processos”, destacou o estudo.
*A jornalista viajou a convite da Febraban