São Paulo – Em dia em que o Banco Central sinaliza que pode começar a reduzir a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em agosto, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, destacou que os juros altos são consequências de problemas na economia.
“O crescimento econômico não surge por geração espontânea. É necessário condições para que isso aconteça. Investimentos não dialogam com desequilíbrio fiscal, com falta de ambiente de negócios, com insegurança jurídica e com incertezas”, afirmou Sidney, nesta terça-feira (27/6), em palestra de abertura da Febraban Tech, evento da entidade voltado para a área de tecnologia, realizado na Zona Sul de São Paulo, em uma área de 13 mil metros quadrados do Transamérica Expo Center, com 250 expositores. É o maior evento de tecnologia da informação bancária da América Latina.
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De acordo com Sidney, existem formas certas para um crescimento duradouro e sustentável "e os bancos estarão sempre do lado correto, independentemente das políticas governamentais". O executivo reforçou que a inflação e os juros altos são resultados de políticas fiscais e de elementos tributários e estruturais do país que travam os negócios.
“A inflação nunca é uma fatalidade; tem causas concretas”, afirmou. “Os juros (altos) são consequências de problemas da economia. Investimentos não dialogam com desequilíbrio fiscal, com falta de ambiente de negócios, com insegurança jurídica e com incertezas”, destacou.
O presidente da Febraban ressaltou que o grande desafio do país para crescer no longo prazo depende de ampliarmos, “de forma substancial, o nível de investimentos, tanto os públicos como os privados”. “E os bancos serão, sempre, catalisadores da atração de investimentos. Outro vetor importante de crescimento é o crédito. O crédito é uma das alavancas mais importantes para o desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
De acordo com Sidney, “existem formas certas para o crescimento econômico duradouro” e, nesse sentido, os bancos estarão no lado certo, independente das políticas governamentais, focando no desenvolvimento da agenda sustentável, conhecida como ESG, um dos principais temas do evento
“Como um setor estratégico da sociedade, os bancos não ficarão de braços cruzados e não seremos omissos na agenda da sustentabilidade. Vamos continuar participando ativamente e nos sentimos, inclusive, com legitimidade para criticar e reivindicar medidas concretas para o Brasil ser protagonista da agenda verde”, afirmou. Segundo ele, nesse sentido, é fundamental não esquecermos que os aspectos ambientais, sociais e de governança impactam diretamente o desempenho financeiro das organizações.
“Fico feliz em perceber que os bancos são parte da solução e não do problema, seja na economia, seja no aspecto ambiental. Temos um papel importante para direcionar recursos a projetos e atividades que contribuam para o desenvolvimento sustentável. Esse caminho não aceita atalhos. O atalho na economia é como uma presa que atrai predadores de plantão: inflação, desequilíbrio orçamentário, pouco investimento, juros altos, custos elevados, desemprego”, afirmou, durante a palestra.
Sidney, inclusive, defendeu a redução do custo do crédito no mercado, e, segundo ele, baratear o custo do crédito e isso não se faz apenas com a força da vontade, “mas atacando-se as causas. Nesse sentido, é preciso procurar saídas alternativas “para resolver problemas conhecidos é um atalho já experimentado e comprovadamente ineficaz”. “Ir contra a racionalidade econômica é repetir erros passados”, acrescentou.
“O setor bancário é estratégico para a sociedade. Os bancos não vão ficar omissos na agenda da sustentabilidade”, afirmou. “Os bancos têm sido parte da solução e não do problema para direcionar projetos que contribuem para o desenvolvimento sustentável e esse caminho não aceita atalhos que atrai os predadores de plantão na condução da economia, como inflação, desequilíbrios orçamentário e fiscal, juros altos, custo alto, pouco investimento e desemprego.
No início da fala, Sidney defendeu os grandes bancos e lembrou que muitas vezes, eles são qualificados pela concorrência recém-chegada como instituições tradicionais, os “bancões”, “geralmente acompanhados de um tom de demérito, quase acusatório”, e ainda ressaltou que eles estão preparados para a concorrência. “Aqui cabe uma reflexão: o tom jocoso da concorrência revela algo que aqueles que nos criticam não têm: eles não têm história. Nós temos uma bela história. Não é depreciativo ter história, bases sólidas, presença física em todos os estados do país, fazer parte da vida de gerações de brasileiros e estar no dia a dia de milhões de empresas e pessoas”, disse.
“Os bancos têm robustez, solidez e segurança acumuladas em muitos anos de atuação. Citando o exemplo da pandemia: enquanto o Brasil tinha a sua economia despencando, portanto, numa forte recessão, os bancos confiaram nas famílias e nas empresas e deram volumes inéditos e muito expressivos de crédito: mais de R$ 10 trilhões”, destacou o presidente da Febraban. Ele ressaltou que os bancos são “tradicionalmente inovadores” e garantem a vanguarda da tecnologia. “O futuro dos bancos tradicionais não é distante do nosso passado. É o resultado de uma equação que envolve muito trabalho e não aventura; envolve intensidade e não circunstâncias; sempre tivemos foco e menos foto, mais ações concretas e menos falatório”, afirmou.
Ao longo do tempo, ressaltou Sidney, o setor bancário brasileiro foi um dos primeiros do mundo a ter: chip nos cartões de crédito, tokens, biometria, internet banking, mobile banking, entre outros serviços tecnológicos. “A pegada tecnológica dos bancos está em todo o lugar”, frisou. O executivo ainda comentou que existem 180 milhões de clientes bancários em todo o país, com o banco nas mãos, nos bolsos e bolsas de cada brasileiro. “Somos cerca de meio milhão de bancários colaboradores e temos 18 mil agências físicas. Sim, temos como acolher os brasileiros em nossas agências. Não estamos apenas no 0800 e nos links e apps dos players digitais. Somos versáteis e plurais: presentes para quem precisa de amparo e virtuais para quem pode e quer”, complementou.
O presidente da Febraban reforçou que a agenda ESG é uma das prioridades dos bancos. “A agenda ESG é outra marca, outro aspecto inovador dos bancos brasileiros. Não abrimos mão da economia de baixo carbono. Quem apostar contra a nossa postura, vai perder a aposta”, afirmou. E foi além ao alfinetar os concorrentes digitais: “Nessa viagem do tempo, o futuro não existe sem o presente e o presente não existe sem o passado. Quem tem história e tradição, como nós, bancos, possuímos, temos acúmulo de experiências suficiente para evitarmos retrocessos e para sermos ousados e enfrentarmos o futuro.”
Debate de abertura
Durante a palestra de abertura, além de Sidney, participaram os presidentes dos maiores bancos do país reconheceram que o desenvolvimento do país parte por incentivos e crédito mais barato para a energia verde.
O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, por exemplo, reforçou o discurso de Sidney e disse ter orgulho de ser integrante do setor bancário. Destacou ainda que o banco privado conseguiu zerar as emissões por meio de, por exemplo, utilizando painéis solares na agência e abrindo espaço para startups voltadas para o mercado ESG que, hoje, somam 30 voltadas para o desenvolvimento de tecnologia nessa seara.
Maluhy lembrou ainda que, desde 2021, a instituição tem uma linha de crédito para o desenvolvimento econômico sustentável com meta de R$ 400 bilhões a serem atingidos até 2025. “Já completamos a marca de R$ 300 bilhões concedidos. E essa meta de R$ 400 bilhões é móvel. Vamos ampliá-la quando atingirmos”, garantiu.
O diretor-presidente do Bradesco, Otávio Lazari Junior, por sua vez, afirmou que o Brasil tem uma grande oportunidade para atrair investimentos externos porque o país tem “a melhor matriz energética do mundo”, com energia solar e eólica com participação crescente. “Estamos vivendo um momento de oportunidade para buscar a redução da taxa de juros”, afirmou ele, lembrando que o avanço da tramitação no Congresso do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária podem ajudar a ajustar os custos dos juros no país.
Também participaram da abertura a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano, o CEO (principal executivo) do BTG Pactual, Roberto Sallouti, e, virtualmente, o CEO do Santander Brasil, Mario Leão. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, em virtude de sua viagem a Portugal, mandou um breve vídeo elogiando o evento que ocorre até quinta-feira (29), data em que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deverá participar da Febraban Tech.