O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 14, em baixa de 1,14%, cotado a R$ 4,8068 - no menor valor de fechamento desde 6 de junho de 2022 (R$ 4,7962) e perto da mínima do dia, registrada na reta final dos negócios. À onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, após decisão do Federal Reserve de manter a taxa de juros inalterada e sinalização amena do chairman Jerome Powell, somou-se o fato de a S&P Global ter anunciado mudança da perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil de estável para positivo.
Em seu comunicado, a S&P afirma que essa alteração reflete uma certeza maior de que a política monetária e fiscal possa beneficiar as projeções para o PIB brasileiro, que ainda são baixas. A combinação de crescimento continuado da economia com o novo arcabouço fiscal pode levar a um endividamento menor que o esperado, segundo a agência de classificação de risco.
Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse que a alteração na perspectiva da nota brasileira representa uma validação das políticas adotadas pela pasta. No Twitter, o ministro Fernando Haddad afirmou que "a economia já demonstra grande capacidade de apresentar resultados positivos", com "dólar caindo, PIB crescendo, inflação sob controle e classificação de risco melhorando"
Após o anúncio da S&P, a moeda no mercado à vista, que já vinha em queda firme, renovou sucessivas mínimas, descendo até R$ 4,8058. Com baixa em oito dos nove pregões de junho, o dólar acumula desvalorização de 5,25% no mês. Depois do fechamento do mercado spot, o dólar futuro para julho acentuou o ritmo de baixa e também bateu novas mínimas, com giro expressivo, acima de US$ 16 bilhões - o que sugere mudanças relevantes de posições de investidores e pode abrir espaço para mais apreciação do real.
"O Brasil está super bem posicionado entre emergentes. E a decisão da S&P vai nessa linha. O real tende a se valorizar mais", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, lembrando que a moeda brasileira ainda está depreciada em termos reais na comparação com outros emergentes.
Oliveira observa que as medidas de risco do país já estavam melhorando. O CDS (Credit Default Swap) de 5 anos do Brasil, espécie de seguro contra calote da dívida, havia caído abaixo de 200 pontos, algo não visto desde o segundo semestre de 2021. Houve também uma queda expressiva da volatilidade implícita do real, que atingiu nesta semana o menor nível desde 2019.
"Devemos ter aumento do fluxo nos próximos meses, seja comercial ou financeiro. Mesmo com a provável queda da Selic, o juro real ainda vai ser alto. E o Brasil oferece oportunidade para investimento direito, já que vai crescer mais do que se esperava", afirma o economista-chefe do Pine.
No exterior, o índice DXY operou em baixa firme a maior parte do dia, rompendo o piso dos 103,000 pontos nas mínimas. A moeda americana também caiu em bloco na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com destaque para o rand sul-africano e o real.
Antes do anúncio da S&P, a dinâmica da formação da taxa de câmbio estava atrelada basicamente ao comportamento do dólar no exterior. Pela manhã, a divisa desceu até a casa de R$ 4,83, com a deflação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) alimentando as apostas de que o Federal Reserve adotaria uma postura mais construtiva em relação à inflação, limitando o espaço para nova altas de juros.
Como esperado, o BC americano interrompeu o processo de aperto, anunciando manutenção da taxa básica na faixa entre 5,00% e 5,25% ao ano, e manteve a porta aberta para uma alta em julho. Houve desconforto, contudo, com o aumento das projeções do Fed para a taxa de juros neste e nos próximos dois anos. Na contramão da expectativa do mercado de redução dos FedFunds no quarto trimestre, o chamado gráfico de pontos mostrou que a maioria dos integrantes do BC americano projeta taxa básica 50 pontos-base acima do nível atual no fim do ano.
O dólar voltou a perder fôlego em seguida, à medida que investidores digeriam declarações mais amenas de Powell, em entrevista coletiva. Reiterando que a instituição precisa avaliar os efeitos defasados do aperto monetário, o presidente do BC americano afirmou que não houve um "debate inicial" sobre decisão de julho nesta reunião e que "as opções estão em aberto".
"Powell suavizou o discurso e amenizou o risco de ajuste nos juros. Ele reiterou que a próxima decisão é 'data dependent'. E os dados americanos na margem, excluindo o mercado de trabalho, parecem sinalizar que a inflação vai ceder", afirma Oliveira, do Pine, para quem o aumento da projeções de juros no 'gráfico de pontos' pode ter sido um recado do Fed de que, diferentemente do aventado pelo mercado, não há espaço para corte da taxa básica neste ano.