O resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, abaixo das expectativas do mercado, deverá ajudar a consolidar os motivos para o Banco Central iniciar uma queda na taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. Muitos analistas, porém, esperam que isso ocorra somente no segundo semestre, porque o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne novamente nos dias 20 e 21 deste mês, ainda vai esperar o encontro do Conselho Monetário Nacional (CMN), do próximo dia 29, para confirmar ou não mudanças na meta de inflação, como tem sinalizado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Neste momento, os dados reforçam as expectativas de que o corte dos juros comece na reunião do Copom de agosto", destacou Fábio Romão, economista sênior da LCA. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, manteve a estimativa para o início do ciclo de queda da Selic em setembro.
A equipe econômica tem sinalizado que pretende alterar o sistema de metas, criado em 1999, adotando uma espécie de meta móvel, não vinculada ao calendário anual.
Marco Caruso, do Banco Original, reforçou que um aumento da meta de inflação agora só ajudaria a piorar as projeções de inflação, o que obrigaria o Copom a manter a Selic no atual patamar, na melhor das hipóteses. Ele prevê queda da Selic apenas na penúltima reunião do Copom, entre 31 de outubro e 1º de novembro.
Otimismo
"O cenário de deflação no atacado ao redor do mundo, somado à apreciação do real por aqui, tem contribuído para uma leitura mais otimista sobre a inflação do ano e isso tem levado o mercado a antecipar um possível corte de juros. Por outro lado, o comportamento dos serviços e dos núcleos continua a demandar cautela, especialmente em um contexto de pleno emprego. No fundo, o que se vê é uma melhora de itens mais voláteis até agora", destacou Caruso, em relatório do banco.
O consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, não acredita que haverá mudança da meta. Para ele, apesar de já poder reduzir os juros diante do cenário inflacionário menos pressionado, o Copom ainda não deverá cortar a Selic na próxima reunião. "A questão na mesa é que não se pode dar 'um cavalo de pau' na comunicação, logo, o que espero é ver sinalizações claras, na próxima ata, de que há espaço para algum afrouxamento monetário no segundo semestre, e isso já vai ajudar muito o humor empresarial e a retomada da economia", afirmou.
Para ele, o governo precisa ter a sabedoria de "dar os parabéns" ao Banco Central pela queda da inflação, mesmo que não tenha sido só a política monetária a jogar os preços para patamares mais civilizados. "A hora é de refazer pontes, especialmente porque as notícias são boas e um clima melhor entre as instituições pode ajudar no processo de acomodação das taxas de juros", destacou.