Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que os custos de produção de bens duráveis e alimentos que usamos no dia a dia podem ficar mais baratos gradualmente. O Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado, nesta terça-feira (6/6), que teve um recuo de 2,33% em maio, mostra uma deflação recorde nos últimos 12 meses. O levantamento aponta que a deflação não ficava tão baixa desde 1944.
Segundo o coordenador dos Índices de Preços, André Braz, o IGP-DI já vem desacelerando há muito tempo. “Isso está acontecendo porque o IGP-DI é muito influenciado pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), onde nós acompanhamos a evolução dos preços de grandes commodities, como o minério de ferro, a soja, o milho, o trigo, o boi vivo, o café entre outros”, pontuou. “O movimento atual de boa parte dessas commodities tem sido de queda devido a uma desaceleração de grandes economias, que vivem uma persistência inflacionária maior nesse momento do que no Brasil”, disse.
Braz explicou que devido a valorização da moeda brasileira, quando nós compramos, gastamos menos. “Pois, elas passam a ficar relativamente mais baratas para a gente com a moeda fortalecida”, afirma. De acordo com o economista da FGV, para o consumidor final, se a soja e o milho ficam mais baratos, os produtos derivados, como o óleo de soja, margarina tendem ter uma queda nos preços também. “Além disso, a soja e o milho são usados para ração animal. Então os animais que a gente consome como a carne, o frango e até os ovos têm seus custos de criação reduzidos, e isso também pode favorecer um bom comportamento nos preços da carne em geral”, exemplificou.
“Ter essas commodities com deflação significa que todos os custos de produção de bens duráveis e alimentos que a gente usa no dia a dia podem ficar relativamente mais baratos gradualmente, e isso tende também a chegar no varejo”, afirmou Braz.
Para o economista, o impacto vai chegar primeiro nos alimentos, e depois nos bens duráveis. “Nós temos notado que no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que os grupos de bens duráveis e os alimentos, têm apresentado desaceleração”, disse. “Eles têm subido menos, e quem sabe é daqui a pouco eles apresentam até uma queda. Então, isso é um anúncio de uma pressão inflacionária que tende a perder fôlego e que em algum momento vai chegar ao consumidor. Mas isso é um processo gradual e lento, não vai acontecer da noite para o dia. É uma indicação de que o processo inflacionário vai arrefecer”, frisou.
Taxa de juros
O assessor de Investimentos da Raro Investimentos, Bruno Rocio, ressaltou que essa deflação atual decorrente de uma política mais restritiva do Banco Central me parece algo positivo, pelo menos por enquanto. Segundo ele, por conta desse cenário deflacionário existe uma expectativa de queda na taxa de juros.
“E num cenário de juros baixos existe uma tendência de estímulo ao investimento e consumo, estímulo ao mercado imobiliário e à atividade empresarial em geral, alívio do endividamento para pessoas físicas e jurídicas e até mesmo estímulo ao mercado de capitais. Esse favorecimento ao consumo e a produção pode ter um impacto positivo no nosso Produto Interno Bruto (PIB) ao longo dos próximos anos”, afirmou Rocio.
Para o assessor de investimentos, é importante destacar que esses aspectos positivos são específicos para uma deflação temporária e em um contexto econômico saudável. “A deflação prolongada em um ambiente de demanda fraca pode trazer consequências negativas, como a queda nos investimentos, o aumento do desemprego e a diminuição da atividade econômica geral. Portanto, a duração e o contexto da deflação são fatores importantes a serem considerados ao avaliar seus efeitos”, observou.
Impactos no consumidor final
Rocio pontuou quais são os maiores impactos no consumidor final. Confira:
- Aumento do poder de compra: em um ambiente deflacionário, os preços dos bens e serviços diminuem. Isso pode resultar em um aumento do poder de compra dos consumidores, permitindo que eles adquiram mais produtos e serviços com a mesma quantidade de dinheiro;
- Redução nos custos de empréstimos: se houver deflação, é possível que as taxas de juros também diminuam. Isso pode resultar em custos de empréstimos mais baixos para os consumidores, tornando mais acessível o financiamento de compras de bens duráveis, como imóveis ou veículos;
- Estímulo ao consumo e investimento: a deflação pode encorajar os consumidores a gastar mais em bens e serviços no curto prazo. Se eles acreditarem que os preços continuarão a cair, podem preferir gastar seu dinheiro imediatamente em vez de adiar as compras. Isso pode estimular a atividade econômica e impulsionar setores específicos;
- Incentivo à poupança e ao planejamento financeiro: com a deflação, os consumidores podem se sentir incentivados a economizar mais e a planejar suas finanças com maior cuidado. Isso pode levar a uma maior conscientização sobre a importância da poupança, criação de fundos de emergência e investimentos de longo prazo;
- Benefícios para os consumidores em situação de dívida: se os preços caem durante um período de deflação, os consumidores que estão pagando dívidas podem se beneficiar. O valor real de suas dívidas diminuirá em relação ao seu poder de compra, o que pode aliviar o fardo do endividamento.