O crédito está mais caro e restrito no mercado, tanto para as empresas quanto para os consumidores, principalmente porque os bancos estão mais cautelosos nas concessões, de acordo com a Sondagem Especial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre Condições de Acesso ao Crédito, divulgada nesta quarta-feira (7/6).
O estudo de 26 páginas revela que, entre as empresas com dificuldade de acessar o crédito de curto ou médio prazo, 71% afirmaram que as taxas de juros foram o principal entrave, pois estão muito altas. Outros 25% criticam as exigências de garantias reais das instituições financeiras e 16% apontaram a falta de linhas adequadas à necessidade da empresa.
Para 62% dos empresários com dívidas de longo prazo as taxas de juros elevadas foram o principal entrave, seguido por exigências de garantias reais o maior obstáculo para 32% dos entrevistados. Outros 18% responderam que a burocracia e a lentidão dos processos são as maiores dificuldades.
A sondagem entrevistou 2.022 empresários entre os dias 1º e 9 de março sobre as condições de crédito entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, sendo 808 pequenas, 712 médias e 502 grandes empresas do setor produtivo.
Conforme o levantamento da CNI, a frustração na busca por crédito é mais expressiva para os empréstimos de prazos longos. Enquanto 47% das empresas não buscaram contratar nem renovar seus financiamentos de curto ou médio prazo, 58% não procuraram contratar nem renovar os financiamentos para prazos longos.
Entre as empresas que disseram que fizeram tentativas para contratar ou renovar o crédito de curto ou médio prazos, 19% não conseguiram. E no caso do crédito de longo prazo, o percentual de frustração foi de 37%. “Observamos um cenário mais seletivo e exigente para quem busca recursos financeiros. Isso também explica o fato de cerca de metade das empresas não terem tentado renovar ou buscar novos empréstimos e uma parcela significativa ter renovado em condições piores ou muito piores. Também deve-se destacar que uma parte relevante das empresas que tentou renovar ou contratar crédito não conseguiu”, disse o gerente de Política Econômica da CNI, Fábio Guerra, em comunicado da CNI sobre a sondagem.
“O crédito é fundamental para fomentar o crescimento e o desenvolvimento econômico. É por meio do crédito que projetos se tornam de fato investimentos, que empresas conseguem equilibrar seus fluxos de caixa e que famílias realizam boa parte do seu consumo. Também é por meio do crédito que são financiados projetos inovadores, disruptivos tecnologicamente e que colocam o país na fronteira do desenvolvimento econômico e social”, destacou o documento que aponta um outro estudo da CNI, o Competitividade Brasil – 2021/2022, no qual o Brasil apresenta o pior desempenho no ranking do fator “Financiamento” entre os 18 países pesquisados, sobretudo pela dimensão “custo do capital”.
“Mesmo considerando os 63 países disponíveis na fonte primária dos dados, o Brasil mostrou-se o país com os custos de capital mais elevados”, acrescentou o estudo. A taxa básica da economia (Selic) encontra-se em 13,75% ao ano, desde fevereiro de 2022. E, descontada a inflação oficial acumulada até abril, de 4,18%, os juros reais ficaram em 9,57% no acumulado em 12 meses.
“Isso resulta em crédito mais caro e mais escasso para as empresas e para os consumidores. Dessa forma, é primordial a adoção de uma agenda com medidas voltadas à ampliação e maior eficiência do mercado de crédito no Brasil”, destacou o documento. O estudo reconheceu que algumas medidas bem-sucedidas vêm sendo implementadas, “como a criação do Cadastro Positivo e do Open Finance, ainda em fase de adaptação no Brasil, mas que já estão contribuindo para o aumento da concorrência bancária e para o dinamismo no mercado de crédito”.
“Além disso, também é importante destacar algumas iniciativas que visam transpor o obstáculo das garantias, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), com base no Fundo Garantidor de Operações (FGO), e o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (PEAC), com base no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI)”, complementou.