Mercado

Ibovespa alcança maior nível em 4 meses e dólar fecha abaixo de R$ 5

O Ibovespa obteve o sexto ganho semanal consecutivo, em intervalo sem quebra não visto desde o início de novembro a meados de dezembro de 2020

O dólar à vista emendou o segundo pregão de queda firme no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 2, e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,00 após quatro sessões. Já a Ibovespa alçou aos 112 mil pontos, obteve o sexto ganho semanal consecutivo, e na fechou em alta de 1,80%, atingindo o maior nível de encerramento desde 31 de janeiro, então aos 113,4 mil pontos.

Houve relatos de entrada de fluxos de exportadores e desmonte de posições cambiais defensivas, em meio a forte apetite ao risco no exterior e a uma onda de valorização de divisas emergentes diante da expectativa de medidas de estímulo econômico na China. As cotações do petróleo subiram mais de 2%, com o tipo brent para agosto encerrando em alta de 2,39%, a US$ 76,13 o barril, às vésperas de encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+).

Em baixa desde a abertura, o dólar rompeu a barreira psicológica dos R$ 5,00 na primeira hora de negócios e registrou mínima ainda pela manhã, a R$ 4,9467. No fim da sessão, a moeda recuava 1,07%, cotada a R$ 4,9528. O real, que apanhou mais que seus pares recentemente, hoje apresentou o melhor desempenho entre emergentes. Após ter fechado em R$ 5,0730 na quarta-feira, último pregão de maio, o dólar caiu 2,37% no dois primeiros dias de junho e terminou a semana com baixa de 0,72%. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.

"Os mercados estão mais otimistas hoje, com alta forte das bolsas em Nova York e do Ibovespa. Petróleo e minério de ferro estão subindo com a expectativa de estímulos à economia na China, o que favorece as moedas emergentes como o real", afirma o líder de renda variável da Manchester Investimentos, Marco Noernberg, acrescentando que a aprovação pelo Senado americano, ontem à noite, do projeto para aumento o teto da dívida dos EUA trouxe alívio aos investidores.

Referência do comportamento do dólar frente a seis divisa fortes, o índice DXY voltou a tocar o nível dos 104,000 pontos, com fortes ganhos da moeda americana ante iene, euro e libra. Divulgado pela manhã, o relatório de emprego (payroll) mostrou geração de 339 mil vagas nos EUA em maio, bem acima da mediana de Projeções Broadcast (200 mil). A taxa de desemprego, porém, subiu de 3,5% em abril para 3,7% em maio, ante projeção de queda para 3,4%. Além disso, o salário médio por hora cresceu abaixo do esperado na comparação anual.

Casas como Jefferies, Commerzbank e ING, por exemplo, afirmam que a desaceleração gradual do ritmo de aumento dos salários abre uma janela para que o Federal Reserve adote uma pausa no processo de alta dos juros em sua reunião de política monetária neste mês (dia 14). As atenções se voltam agora para a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de maio, na véspera da decisão do BC americano.

Monitoramento da CME mostra que as chances de manutenção dos Fed Funds seguem acima de 70%. De outro lado, as apostas em redução dos juros no fim do ano deixaram de ser majoritárias. A Oxford Economics afirma que, mesmo com uma pausa em junho, não se pode descartar a possibilidade de que o Fed eleve a taxa básica no segundo semestre, dependendo dos dados de inflação e atividade. A casa vê início de ciclo de afrouxamento apenas em 2024, e de forma bem gradual.

Bolsa de valores

Com o desempenho desta sexta-feira que o alçou aos 112 mil pontos, o Ibovespa obteve o sexto ganho semanal consecutivo, em intervalo sem quebra não visto desde o início de novembro a meados de dezembro de 2020, quando havia enfileirado sete ganhos semanais, saindo então da faixa dos 95,9 mil para a dos 118 mil pontos. Agora, em ritmo gradual de recuperação - com a volatilidade da pandemia já bem para trás -, o Ibovespa iniciou a série semanal positiva, em 24 de abril, abaixo dos 104 mil pontos, e na sessão de hoje fechou em alta de 1,80%, aos 112.558,15 pontos, com giro financeiro ainda reforçado para o padrão recente, a R$ 28,5 bilhões.


Nesta sexta-feira, oscilou dos 110.567,44 aos 113.069,55 pontos, após abertura a 110.568,40, atingindo o maior nível de encerramento desde 31 de janeiro, então aos 113,4 mil pontos. No intradia, também registrou hoje a melhor marca desde 1º de fevereiro. No acumulado da semana, virou para o positivo nesta última sessão, com avanço de 1,49% no intervalo, após leve ganho de 0,15% no período anterior. A recuperação semanal se iniciou ontem, quando o Ibovespa havia avançado 2,06% com retomada nos preços das commodities, que prosseguiu hoje tanto no petróleo como no minério, e a aprovação da elevação do teto de gastos nos Estados Unidos. No combinado dessas duas primeiras sessões de junho, o índice da B3 sobe 3,90%.


Destaque nesta sexta-feira para o salto de Vale ON, em alta de 4,27% na sessão e avanço de 2,43% na semana. Nas duas primeiras sessões de junho, a ação da mineradora acumula ganho de 6,47% - no ano, ainda cede 21,88%. Petrobras ON e PN, por sua vez, subiram hoje 1,20% e 0,82%, respectivamente, encerrando a semana com ganhos de 1,26% e 1,42% no intervalo. As ações do setor financeiro, como as dos demais segmentos de peso no Ibovespa, também foram bem na sessão, com Bradesco (ON +2,62%) à frente entre as maiores instituições.


Na ponta da carteira Ibovespa nesta sexta-feira, Cosan (+7,90%), CSN (+4,91%), CSN Mineração (+4,47%) e Assaí (+4,45%). No lado oposto, Via (-10,36%), Magazine Luiza (-4,68%), Totvs (-4,19%) e Raia Drogasil (-3,60%). "As bolsas já abriram em alta, aqui e fora, refletindo a aprovação, também no Senado dos Estados Unidos, do acordo sobre o teto da dívida americana, uma aprovação já esperada, mas que reforça o otimismo", diz João Victor Britto, especialista da Blue3 Investimentos.


"Reação positiva com a proposta de elevação do teto da dívida americana seguindo agora para sanção, a assinatura do presidente Joe Biden, o que retira do radar a possibilidade de calote e reforça o apetite global por risco", acrescenta Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, mencionando também o otimismo doméstico com relação ao PIB do primeiro trimestre, divulgado ontem. A leitura acima do esperado para a atividade econômica veio no momento em que o mercado já demonstrava ânimo mais favorável quanto às contas públicas desde a aprovação, na Câmara, do arcabouço fiscal, reforçando movimento de ajuste na curva de juros com a perspectiva de Selic menor no segundo semestre, observa a analista.


"Pregão dos sonhos hoje com o kit Brasil, todo, funcionando: Bolsa fechando perto dos 2% de alta, dólar voltando para baixo da barreira dos R$ 5, e DI longo despencando, com os vértices de 2030 e 2031 caindo mais de 1%, voltando a patamares não vistos desde o período pré-eleição de outubro passado", diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. "Pregão muito bom para os ativos brasileiros, com a remoção do risco de cauda relacionado à dívida americana, um problema empurrado com a barriga por mais alguns anos", acrescenta.


Apesar do otimismo que prevaleceu hoje, e considerando o quanto de expectativa positiva já foi para o preço dos ativos, o quadro para o desempenho das ações na B3 no curtíssimo prazo está, de maneira geral, dividido entre alta e estabilidade, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 44,44% esperam ganhos para o Ibovespa na próxima semana e outros 44,44% preveem variação neutra. Apenas 11,12% acreditam que a Bolsa terá perda na semana que vem, mais curta com o feriado de Corpus Christi. No levantamento anterior, 50,0% esperavam ganhos, 37,50%, estabilidade, e 12,50% antecipavam perdas para a Bolsa na semana que agora termina.