A próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em 29 de junho, poderá decidir por uma mudança estrutural no sistema de metas de inflação. A proposta que está na mesa é a de ampliar o período de referência para cumprimento do objetivo. Atualmente, a meta é fixada para o período de janeiro a dezembro de cada ano. No novo modelo, passaria a haver uma espécie de "meta contínua", sem ligação rígida com o calendário.
De acordo com fontes da equipe econômica, a mudança para uma "meta contínua", como a do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), é um assunto "pacificado" entre os integrantes do CMN. O sistema daria mais flexibilidade ao Banco Central (BC) para executar a política de juros.
Nesta quinta-feira (1/6), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contou que teve um almoço com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e admitiu que a meta de inflação foi um dos itens do cardápio. "Conversamos sobre a oportunidade de resolver neste mês essa questão", afirmou. Haddad e Campos Neto são dois dos três integrantes do CMN, que conta, ainda, com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
Tradicionalmente, nos meses de junho, o conselho costuma confirmar as metas dos dois próximos anos e anunciar a do terceiro ano seguinte. Se houver a ampliação do prazo da meta de inflação, será a primeira mudança estrutural do sistema, implementado em 1999.
Alternativa
Outro assunto que deverá estar na pauta do Conselho é o eventual aumento puro e simples das metas de inflação de 2024 e 2025. Elas passariam dos atuais 3% em cada ano para 4%. O objetivo de 2023 é alcançar inflação de 3,25%, com teto de tolerância de 5%.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou interesse em aumentar a meta para, na visão dele, poder ter juros mais baixos. O mercado financeiro já antecipou a medida e elevou as projeções de inflação para os próximos anos. Isso, porém, acabou dificultando o trabalho do BC no combate à carestia.
As medianas das projeções do mercado para a inflação, coletadas no boletim Focus para 2024, 2025 e 2026 estão em 4,13%, 4% e 4%, respectivamente. Analistas alertam que, diante da possibilidade de aumento das metas, dificilmente essas previsões seriam revisadas para baixo, pelo contrário.
Campos Neto tem alertado, sempre que pode, que um simples aumento da meta de inflação traria muito mais incerteza e prejudicaria a credibilidade do regime.
"As projeções estavam convergindo para a meta, mas bastou o presidente criticar o BC e falar em elevar o alvo que o mercado subiu as estimativas", destacou a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Na avaliação dela, as pressões do governo para que o BC baixe a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, vão continuar. "O governo vai continuar querendo que o BC reduza a Selic rapidamente, mas um dos motivos para que isso não ocorra é justamente a desancoragem das expectativas de inflação, porque as previsões mudaram de patamar quando o governo falou em mudar a meta", disse.