O economista da CM Capital Matheus Pizzani, avalia que, "apesar de ainda ter sido marcado por um tom majoritariamente mais pessimista em termos da leitura da situação atual", a ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (27/6), "deixa evidente que ao menos parte do comitê já enxerga espaço para queda de juros nas próximas reuniões". Segundo ele, as projeções atuais seguem apontando para uma melhora em todas as variáveis acompanhadas pela instituição e tidas como chave para o início do processo de corte nos juros.
Pizzani citou como exemplo as revisões da inflação para baixo verificadas nas últimas semanas por meio do Boletim Focus, que evidenciam a melhora nas expectativas dos agentes econômicos no período tido como relevante pelo Banco Central para a condução da política monetária. "Os dados recentes de concessão de crédito e inadimplência dão pouca margem para a expectativa de novas pressões inflacionárias por parte da demanda, especialmente no que diz respeito ao consumo das famílias", observou.
O especialista mencionou ainda que o encarecimento do crédito deve seguir afetando negativamente o setor produtivo, o que deve se traduzir em maior desaquecimento do mercado de trabalho e aumento do nível de desemprego — mais um elemento que atua no sentido de reduzir a pressão sobre os preços. Além disso, a expectativa de que o novo marco fiscal seja aprovada nas próximas semanas, gera redução das incertezas com relação à dinâmica de crescimento da dívida pública no médio e longo prazo.
"Este conjunto de vetores deixa pouca ou nenhuma evidência que justifique a manutenção da taxa de juros no patamar atual nas próximas reuniões, reforçando nossa perspectiva de que o ciclo de cortes deverá ter início na próxima reunião do Copom, em agosto", disse Pizzani.
Meta de inflação
O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, considerou que a ata do Copom apresentou um tom mais expansionista do que o comunicado feito pelo BC da semana passada, sinalizando fortemente a possibilidade de iniciar o ciclo de flexibilização monetária em agosto, com um corte de 25 pontos percentuais, o que reduziria a Selic para 13,50% ao ano. "Apesar disso, consideramos surpreendente o Comitê ter optado por elevar a estimativa de taxa de juros real neutra de 4,0% para 4,5%, justamente neste momento, o que parece servir de esteio para a ala mais conservadora do BC", ponderou.
Para Goldenstein, a projeção de inflação no cenário de referência continuará declinando, em função, principalmente, da perspectiva de continuidade do movimento de declínio das expectativas. Segundo ele, os agentes financeiros estão com os olhares voltados para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho, que acontece nesta quinta-feira (29/6), e irá definir a meta de inflação para os próximos anos.
Apesar da pressão do governo pela elevação da meta, a expectativa é de que ela seja mantida em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. "A decisão do CMN sobre a meta de inflação será fundamental para a redução das incertezas e do desvio das expectativas em relação à meta", afirmou.
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