A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou e registrou alta de 0,23% em maio, bem abaixo do avanço de 0,61% registrado em abril. A queda do índice, divulgado nesta quarta-feira (7/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou abaixo do 0,37% esperado pelo mercado, em grande parte, devido à queda nos preços dos combustíveis e à forte desaceleração da inflação dos alimentos. No acumulado em 12 meses até maio, o IPCA acumula alta de 3,94%.
Não à toa, analistas voltaram a suas planilhas para revisar as projeções para a inflação deste ano, reduzindo as estimativas para o indicador de carestia oficial. A MB Associados, por exemplo, reduziu a projeção deste ano de 5,5% para 5,2%. O Banco Original revisou a estimativa de 5,7% para 5,2%. A LCA Consultores também mudou as perspectivas do indicador — de 5,7% para 5,4% — e manteve um viés de baixa.
A meta oficial de inflação deste ano é de 3,25%, com teto de 4,75%. Segundo os analistas ouvidos pelo Correio, a tendência é de nova desaceleração em junho, com uma variação do IPCA mais perto de zero.
Conforme os dados do IBGE, sete dos nove grupos pesquisados tiveram alta de preços. Já os de transportes e de artigos de residência apresentaram quedas de 0,57% e 0,23%, respectivamente, o suficiente para aliviar o índice geral. Nos transportes, destacaram-se as quedas de 17,73% das passagens aéreas e de 1,82% nos preços de combustíveis.
Mudanças na Petrobras
No mês passado, a Petrobras anunciou mudanças na política de preços, acabando com a polêmica da paridade internacional (PPI), e reduziu o valor dos combustíveis. A gasolina, sozinha, contribui para uma queda de 0,10 ponto percentual no IPCA do mês passado, de acordo com os dados da pesquisa. A desaceleração do indicador também foi influenciada pelo resultado do grupo alimentação e bebidas — o que mais pesa no índice —, que passou de uma variação de 0,71%, em agosto, para 0,16%, em maio. Os preços de alimentos in natura recuaram de uma alta de 0,66%, em abril, para zero, em maio. Contudo, os custos da alimentação fora do domicílio ainda continuam pressionados, passando de 0,73% para 0,58%, na mesma base de comparação.
Alimentos sobem mais devagar
De acordo com analistas, os alimentos vêm sentindo o impacto da redução dos preços das commodities no mercado internacional. A desvalorização do dólar também ajudou nesse processo. Eles ainda destacaram a queda do índice de difusão da alta de preços de 66%, em abril, para 56% dos itens pesquisados, em maio.
"Se alimentos fora do domicílio ainda seguem pressionados, por efeito renda e residual pós-pandemia, os alimentos no domicílio devem ser a grande surpresa positiva do ano", destacou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Segundo ele, o aumento previso para os combustíveis em junho, por conta da mudança da alíquota do ICMS, não deve ter um impacto relevante no IPCA de junho. "A história positiva desse ano vem dos alimentos que têm impacto maior do que esse dos combustíveis", afirmou Vale. Ele prevê 0,2% de alta no IPCA de junho.
Juros
"O cenário de deflação no atacado ao redor do mundo e a apreciação do real têm contribuído para uma leitura mais otimista da inflação no ano e levado o mercado a antecipar um possível corte de juros. Por outro lado, o comportamento dos serviços e dos núcleos de inflação continua a demandar cautela; no fundo, o que se vê é uma melhora de itens mais voláteis até agora", destacaram os economistas do Banco Original Marco Caruso e Igor Cadilhac, em comentário para clientes.
O núcleo da inflação ainda está pressionado e rodando acima de 6,72% no acumulado em 12 meses, bem acima do teto da meta de inflação deste ano, de 4,75%. Contudo, esse patamar é menor do que os 9,12% registrados no fim de 2022 e o primeiro abaixo de 7% desde outubro de 2021, destacou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.
"A inflação entre os preços livremente determinados está em 5,70% no comparativo anual, primeira impressão abaixo de 6% desde maio de 2021 e abaixo dos 9,39% no fim de 2022 e do pico cíclico de 12,07% em meados de julho de 2022", destacou Ramos. "Esperamos que a taxa de inflação anual caia para cerca de 3% em junho, um reflexo dos altos efeitos de base. Em nossa avaliação, a melhoria das perspectivas de inflação, o fortalecimento do real e a estabilização das expectativas devem sustentar um pivô da política monetária em dois a três meses."
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