O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o “Executivo foi eleito e tem o direito de determinar qual a meta de inflação ele quer seguir”. Segundo o chefe da autoridade monetária, já houve procura de parlamentares para ver uma possibilidade de mudar a autonomia de quem decide a meta da inflação, mas que ele foi contra.
“Teve um momento em que vários senadores ligaram perguntando se eu apoiaria um projeto que dizia que a meta só podia mudar com autorização do BC, mas eu disse que não apoiaria um projeto assim”, afirmou durante participação em um evento sobre os dois anos de autonomia do Banco Central, promovido pela Folha de S.Paulo na manhã desta segunda-feira (22/5),.
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Ainda de acordo com Campos Neto, “seria muito conflituoso se o BC determinasse a própria meta”. Quando perguntado sobre os questionamentos do atual presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) sobre a taxa de juros — que está atualmente em 13,75% —, ele respondeu que o petista “tem o direito de entrar num debate sobre taxa de juros”, mas ressaltou que a "personificação [das críticas de Lula] mostra desconhecimento do processo no BC".
O presidente da autarquia observou também que “o Executivo foi eleito e tem direito de mudar a meta de inflação que achar melhor para o país”. Mas afirmou: “Mudar a meta quando está tendo muito questionamento tem fator negativo. Mudança de meta pode ser interpretada pelos agentes financeiros como uma mudança para ganhar flexibilidade. Quando a mudança de meta na Argentina foi feita para ganhar flexibilidade, perdeu-se credibilidade e flexibilidade e a inflação disparou”.
No mês passado, em um café com jornalistas, Lula deixou no ar a possibilidade de futuramente mudar a meta de inflação. E disse ser “humanamente impossível”, com os juros altos, que o empresariado obtenha crédito ou que a economia volte a crescer de forma mais consistente.
“Não sei se foi ao partir de um de vocês, mas ouvi que o presidente do Banco Central teria dito que, para manter 3% [de meta de inflação], teria que ter um juro de 20%. É algo não razoável. Se a meta está errada, muda-se a meta. Não se pode permitir que empresário tome crédito com essa taxa de juros”, disse.