O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o país precisa focar em promover mais reformas estruturais para reduzir a taxa neutra de juros e aumentar o crescimento potencial da economia. Ele participou de evento organizado pelo BC, ontem, em São Paulo.
"Nós falamos demais, gastamos muito tempo discutindo a taxa Selic, se vai subir, cair, o que vamos fazer. Mas, quando olhamos para além disso, precisamos nos focar nas reformas estruturais", afirmou Campos Neto. Nos últimos meses, ele vem sendo fustigado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta do patamar elevado dos juros básicos, de 13,75%.
Campos Neto voltou a defender o sistema de metas de inflação e afirmou que é preciso levar os preços a convergirem para o objetivo. "As metas serviram bem, e precisamos perseverar e garantir que vamos trazer a inflação às metas", disse.
No mesmo encontro o ministro da Fazenda, Fernando Haddad adotou um tom mais conciliador , reforçou que tanto o Banco Central quanto o Ministério da Fazenda têm trabalhado para "harmonizar as políticas fiscal e monetária". Observou, entanto, que "discutir política monetária não é afrontar o Banco Central".
- "O núcleo de inflação está mais resiliente", alerta Campos Neto
- Campos Neto reforça que a taxa de juros não vai cair por agora
- Sem citar nomes, Lula sobe o tom contra Campos Neto: "Não é intocável"
Crescimento
O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), desacelerou em março e registrou queda de 0,15% na comparação com o mês anterior. No acumulado do trimestre, no entanto, o indicador registrou alta de 2,41% — o terceiro melhor resultado para o período da série histórica.
Os dados, ao lado de outros indicadores divulgados recentemente, como as vendas de varejo e o volume de serviços prestados, mostram que o país está crescendo mais do que o previsto, tanto que uma nova onda de revisões para o PIB deste ano está em curso. As estimativas estão sendo corrigidas para cima, graças ao bom desempenho do setor agrícola e dos estímulos fiscais do governo, como o novo Bolsa Família com valor médio recorde, de R$ 672.
O Itaú Unibanco e o Bradesco elevaram as projeções de crescimento do PIB de 2023, no começo deste mês, respectivamente, de 1,1% para 1,4% e de 1,5% para 1,8%. Ontem, o Bradesco revisou de 1,3% para 1,5% a estimativa para a alta do primeiro trimestre.
A MB Associados elevou de 1% para 1,3% a previsão de crescimento deste ano. Gustavo Arruda, diretor de Pesquisas para América Latina do BNP Paribas, alertou que a economia mais aquecida pode evitar uma queda da Selic neste ano, porque a combinação de atividade mais forte e política fiscal expansionista pressiona o núcleo da inflação para cima. "Prevemos corte de juros só em 2024", afirmou. (Rosana Hessel, com Agência Estado)