BANCO DE TEMPO

As pessoas que estão transformando tempo em dinheiro

O banco de tempo é uma forma mais sofisticada de troca. Você não paga alguém em dinheiro por um trabalho, você dá créditos de tempo que ela pode usar para obter um serviço sem pagamento financeiro por meio de outra pessoa


Depois de passar 10 anos como monja budista em Mianmar, Coral Sunone percebeu que precisava de ajuda para se vestir quando voltou ao mundo exterior.

Mas com a situação financeira apertada, contar com os serviços de um personal stylist profissional estava simplesmente fora de cogitação. Ou será que não?

Coral, que mora na Malásia, ouviu falar de um site chamado TimeRepublik, que se descreve como "um banco de tempo na era da internet".

O banco de tempo é, em sua essência, uma forma mais sofisticada de troca. Você não paga alguém em dinheiro por um trabalho que essa pessoa faça para você.

Em vez disso, você dá a essa pessoa créditos de tempo que ela pode usar para obter um serviço sem pagamento financeiro por meio de outra pessoa.

No site TimeRepublik, Coral conseguiu se conectar com Cherish Cullison, uma figurinista e stylist de moda profissional de Nova York.

Via Zoom, Cherish foi capaz de ajudar Coral a encontrar o guarda-roupa moderno mais apropriado para ela.

"Ela encontrou meu estilo muito bem", diz Coral.

"Nenhum dinheiro pode pagar por este tipo transação, não tem preço, é baseado na confiança."

As duas mantiveram contato depois que se conheceram no TimeRepublik alguns anos atrás. Isso incluiu Coral retribuir a ajuda, dando a Cherish algumas aulas de meditação.

Cherish acredita que é bom que "a expectativa de dinheiro esteja fora do caminho".

"Em vez disso, você realmente chega ao cerne das coisas e descobre algo, eu acho, que é maior e meio que não tem preço."

Arquivo pessoal
A stylist profissional Cherish Cullison ganha créditos de tempo dando conselhos de moda

Relacionamentos e confiança

O TimeRepublik é uma criação dos suíços Gabriele Donati e Karim Varini, cofundadores da plataforma. Eles lançaram a primeira versão na Suíça em 2012, mas a expansão internacional ocorreu nos últimos dois anos.

O site é de uso gratuito para membros do público. Os usuários que oferecem um serviço ganham um crédito de "TimeCoin" (algo como "moeda de tempo").

Isso equivale a 15 minutos, independentemente do trabalho que você oferece, seja cortar a grama de um vizinho ou dar aula de matemática por meio de uma videochamada.

Você simplesmente anuncia o que está oferecendo e quanto tempo levaria em TimeCoins.

"Queríamos nos distanciar das transações financeiras e encontrar algo que pudesse criar relacionamentos entre as pessoas", diz Donati.

"Porque realmente acreditamos que somente por meio dos nossos relacionamentos, você pode ganhar a confiança de outra pessoa."

A TimeRepublik tem sede hoje em Lugano, na Suíça, e em Nova York, nos EUA, e afirma ter mais de 100 mil usuários em todo o mundo. Eles ganham dinheiro vendendo o serviço para empresas que o oferecem a seus funcionários por meio de seus sites internos.

O conceito de banco de tempo existe desde por volta do século 19. Donati diz que queria levá-lo a um público mais jovem e com mais experiência digital.

Outra organização que ajuda a criar bancos de tempo online é a instituição beneficente Timebanking UK.

Ela oferece assistência e software para ajudar comunidades e organizações em todo o Reino Unido a estabelecer seus próprios sistemas de banco de tempo.

As plataformas permitem que os usuários postem ofertas e solicitações, registrem horas e deixem comentários.

A diretora-executiva do Timebanking UK, Sarah Bird, destaca os recursos de proteção integrados, como a possibilidade de os usuários sinalizarem qualquer problema.

"Portanto, se algo der errado com o banco de tempo local, podemos simplesmente dar um pulo lá e ver se podemos consertar as coisas", diz ela.

Divulgação/Timebanking UK
O Timebanking UK ajuda comunidades e organizações a criar programas de banco de tempo

Bird também explica que, embora o banco de tempo não substitua serviços profissionais ou programas governamentais, ele pode servir de apoio e engajar pessoas que normalmente não fariam voluntariado tradicional.

Ela acrescenta que o Departamento de Trabalho e Previdência do Reino Unido permite que quem está à procura de emprego reivindique as horas do banco de tempo como tempo gasto procurando emprego remunerado.

"O banco de tempo pode ser o primeiro passo que alguém vai dar do desemprego prolongado antes de se tornar voluntário ou fazer um curso de treinamento, porque é um método de fazer com que a pessoa se sinta mais confiante em relação a si mesma", diz Bird.

O Timebanking UK também criou esquemas semelhantes no exterior, em países como China, Rússia, Índia, Coreia do Sul e Tailândia.

Divulgação/Timebanking UK
Os participantes podem usar os programas de banco de tempo para mostrar que estão prontos para um emprego

No Tempo Time Credits, com sede em Cardiff, no País de Gales, o modelo de compartilhamento de tempo é um pouco diferente.

Em vez de os participantes ganharem créditos que podem resgatar por meio de outra pessoa que faça um trabalho para eles, eles obtêm créditos que podem resgatar em empresas afiliadas, como academias locais, cinemas, lojas de comida e atrações turísticas.

Rachel Gegeshidze, diretora-executiva da Tempo Time Credits, diz que seu sistema online é uma forma de atrair e recompensar voluntários.

É usado por autoridades locais em todo o Reino Unido para ajudar a desenvolver projetos voltados para melhorias importantes na comunidade, como lidar com a solidão ou combater a pobreza.

"Isso realmente ajuda a população a fazer coisas novas e viver novas experiências... mas também temos programas para conectar moradores com suas comunidades e melhorar a saúde e o bem-estar", ela explica.

O Relatório de Impacto de 2022 da instituição beneficente mostrou que havia 10.731 participantes ativos e cerca de 1.100 organizações envolvidas. O estudo também descobriu que 84% das pessoas que participaram se sentiram mais otimistas sobre seu futuro.

Quanto ao TimeRepublik, o site diz que não deseja ser visto como um substituto às economias monetárias — e que, na verdade, foi "criado para coexistir" com elas.

Com base em sua própria experiência, Cherish Cullison afirma que "todos ficaram muito felizes com as trocas, e eu conheci algumas pessoas realmente interessantes".