O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou ontem a indicação do secretário-executivo da pasta, Gabriel Galípolo, para o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central. Durante coletiva de imprensa no gabinete do ministério em São Paulo, Haddad também indicou o servidor de carreira Ailton Aquino dos Santos como diretor de Fiscalização da autarquia. Se for aprovado pelo Senado Federal, será o primeiro diretor negro a ocupar cargo de direção do banco.
Os mandatos dos atuais diretoras terminaram em 28 de fevereiro. Segundo Haddad, os nomes foram chancelados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Galípolo será substituído na Fazenda pelo advogado Dario Durigan, que já trabalhou com o ministro quando ele estava à frente da prefeitura paulistana.
Parte do mercado financeiro reagiu negativamente à indicação de Galípolo, para uma das diretorias mais sensíveis do BC, responsável pela execução do principal instrumento de controle da inflação e dos mercados. O dólar comercial acelerou a alta após a divulgação dos nomes, terminando o dia com avanço de 1,38%, cotado a R$ 5,011.
Apesar de o nome de Galípolo já circular há vários dias, a oficialização gerou um movimento de proteção dos investidores no dólar, o que impulsionou as cotações. Analistas avaliam que, com o braço-direito de Haddad no BC, o governo terá mais força para interferir na taxa básica de juros (Selic), alvo de críticas de Lula, em função do nível atual de 13,75% ao ano. Como diretor, caso aprovado, Galípolo participará do Comitê de Política Monetária (Copom), que define o patamar de juros.
Haddad afirmou que a indicação visa aproximar as visões da Fazenda e da autoridade monetária, que estão em conflito pela alta taxa Selic. Ele negou, porém, que Galípolo seja um "homem forte do PT" colocado na autarquia para alterar a taxa de juros. O ministro frisou que o economista não é filiado ao partido e nunca teve militância partidária, e classificou como "uma forçação de barra" os questionamentos sobre sua influência. Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que Galípolo será "a voz do governo federal" dentro do BC.
"Não é um nome novo, no entanto, sua indicação representa provavelmente uma maior presença das ideias e das estratégias da Fazenda dentro da autoridade monetária", avaliou Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos. "Ele deve seguir os direcionamentos da Fazenda e de Lula, sendo mais um componente que, certamente, vai ter voz em consonância com o governo frente à taxa de juros", acrescentou.
O economista-chefe da Necton, André Perfeito, ponderou que a escolha de Galípolo não fará os juros caírem antes do que a atual diretoria do Banco Central imagina como adequado, "mas sem dúvida abre o contraditório dentro do Copom". "O mercado pode até especular que essa mudança irá tornar a política monetária mais expansionista, mas há evidências de sobra de que o novo diretor não age de maneira monocrática. Haverá muita negociação e parcimônia na sua gestão", avaliou, lembrando que o Copom possui nove membros.
"Salvo alguma nova evidência de que a inflação corrente está cedendo mais rapidamente que o esperado ou as expectativas se ancorem mais firmemente que o previsto, tudo indica que cortes na Selic acontecerão apenas no segundo semestre de 2023", concluiu Perfeito.
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Sucessor
O banco norte-americano Goldman Sachs afirmou que Galípolo é visto como um substituto em potencial do presidente do BC, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no fim de 2024. "Vemos espaço para um aumento potencial no ruído de comunicação no curto prazo. Não nos surpreenderíamos ao começar a ver decisões divididas do Copom e visões diametralmente opostas dentro do órgão sobre qual deveria ser a postura política adequada. Além disso, a percepção de que Galípolo acabará substituindo Campos Neto tem o potencial de gerar alguns atritos no Copom", destacou a instituição.
Aquino e Galípolo precisarão passar por sabatina no Senado Federal e, se aprovados, terão mandato até fevereiro de 2027, com direito a uma recondução. O governo acredita que eles serão aprovados com tranquilidade, já que são técnicos e têm bom trato com os parlamentares. No entanto, nos bastidores, os nomes renderam algumas críticas.
No caso de Galípolo por ser heterodoxo, crítico às políticas exageradas de austeridade fiscal. Já no caso de Aquino, interlocutores do BC afirmaram que receberam o nome com certo ceticismo, por ele não fazer parte da área de fiscalização.
As duas diretorias do BC são as primeiras alteradas pelo presidente Lula. Até o final do ano, o petista indicará outros dois nomes, para as cadeiras de Relacionamento, Cidadania e Supervisão e Conduta e de Assuntos Internos e de Gestão de Riscos Corporativos. Até o fim do mandato, o chefe do Executivo poderá mudar os nove membros da cúpula do BC indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).