RECURSOS TRIBUTÁRIOS

Governo apresenta projeto de lei que restabelece voto de qualidade no Carf

Novo texto substitui medida provisória enviada ao Congresso, no início do ano, mas que pode caducar até o fim deste mês. Mudança no Carf deverá incrementar em R$ 59 bilhões a arrecdação dos cofres da União

O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional o projeto de lei que restabelece o voto de qualidade em caso de empate nos julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). "O novo texto vai substituir a Medida Provisória 1.160/2023, editada no começo do ano e que tem por finalidade disciplinar a proclamação de resultado e ampliar o limite de alçada do contencioso administrativo fiscal de pequeno valor", de acordo com comunicado do Ministério da Fazenda divulgado na noite desta sexta-feira (5/5).

A MP fazia parte do pacote para ampliar a arrecadação do governo apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A expectativa do chefe da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era arrecadar R$ 59 bilhões com a volta do voto de qualidade no Carf, pois o governo federal voltava a ter a última palavra em caso de empate na votação. Contudo, devido ao atraso na tramitação das pautas no Congresso, a medida corria o risco de caducar.

A mudança nos julgamentos do Conselho, ocorrida em 2020, permitiu que, quando os votos dos conselheiros representantes do setor privado e público resultarem em empate, a decisão era, por padrão, favorável às empresas. Após o julgamento, o governo, não podia mais recorrer. "A alteração da lei estava suspensa por força da medida provisória que, se não apreciada pelo Congresso Nacional, perderia validade ainda neste mês", destacou a pasta.

De acordo com a Fazenda, a proclamação do resultado favorável ao contribuinte no caso de empate de votos, no âmbito do Carf, "provocou a reversão do entendimento do tribunal em grandes temas tributários. Considerando que o empate nos julgamentos passou a favorecer os contribuintes, estima-se que cerca de R$ 59 bilhões, por ano, deixarão de ser exigidos".

A medida, segundo o ministro Haddad, é essencial. “O fim do voto de qualidade foi uma anomalia, uma distopia”, afirmou o ministro no comunicado da pasta. Ele acrescentou que as mudanças buscam a resolução de um quadro avaliado como “insustentável”. O prejuízo é agravado pelo fato de a União ficar impedida de questionar judicialmente decisões que lhe são desfavoráveis. 

Carta da OCDE

O ministério informou que, em abril, o ministro da Fazenda recebeu uma carta da direção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontando a oportunidade de melhoria nas regras do Conselho.

"No comunicado, o órgão salientou que a prática brasileira não encontra precedentes em outras jurisdições ao redor do mundo, principalmente no que diz respeito ao grau de participação dos entes privados nas decisões", acrescentou.

O governo pede urgência na tramitação do projeto de lei. O despacho que oficializa o envio foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira (5).

Segundo a Fazenda, o PL também prevê a inclusão de um artigo que dispõe sobre o contencioso administrativo fiscal de baixa complexidade cujo lançamento fiscal ou controvérsia não supere mil salários-mínimos. "A ideia é que, a partir de agora, essas questões sejam resolvidas, em duas instâncias, nas delegacias de julgamento da Receita Federal, para dar agilidade e eficiência ao órgão nos processos de maior repercussão. Atualmente, há um passivo médio de cerca de 100 mil processos administrativos no Carf. A medida visa, também, reduzir o tempo do julgamento e assim, prestar um melhor serviço ao contribuinte", completou o comunicado.