A multinacional de origem suíça Nestlé anunciou que vai investir, entre 2023 e 2024, R$ 430 milhões para modernizar e ampliar a fábrica de chocolates Garoto, em Vila Velha (ES), uma das mais importantes plantas do país, e que está entre as dez maiores do mundo. Somados aos investimentos feitos nos dois anos anteriores (R$ 270 milhões), serão R$ R$ 700 milhões voltados ao aumento da produção de chocolates, cujo consumo não para de crescer no Brasil.
A Nestlé, que adquiriu a Garoto em 2002, não informa números de vendas nem de capacidade de produção da tradicional unidade capixaba, empresa criada há 94 anos. Mas, pelo movimento da última Páscoa, a aposta no mercado interno tem se mostrado certeira. Segundo a Nestlé, foram vendidos 12 milhões de ovos de chocolate no período, praticamente empatando com a produção do ano passado, enquanto a demanda por outros produtos explodiu. As vendas via internet (e-commerce) cresceram 27 vezes em relação a 2022, impulsionadas pelas caixas de bombons, kits de produtos para presentes e chocolates em barra.
“A Páscoa foi ótima, não é mais apenas ovos. Aumentou muito a venda de caixas, tabletes. Foi uma Páscoa melhor do que a 2022, que já tinha sido histórica. Há um fenômeno recente do aumento de consumo de chocolate no Brasil”, disse ao Correio o vice-presidente Jurídico e Assuntos Públicos da Nestlé, Gustavo Bastos, após o anúncio oficial do plano de investimentos, na planta de Vila Velha, na manhã desta quinta-feira (4/5), que contou com a presença do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
“Cenário desafiador”
Apesar do cenário econômico incerto - de juros elevados, inflação resistente e pouca clareza com relação a reformas econômicas, especialmente a tributária -, a indústria de chocolates está otimista. “Não diria que temos um cenário amargo”, disse Bastos usando uma metáfora que faz referência a um tipo de chocolate. “É um cenário desafiador, mas temos muito foco no nosso crescimento, que é a palavra de ordem número um. Temos a fortuna de contar com um consumidor muito conectado com nossas marcas, a Nestlé está no Brasil há 102 anos.” Apesar de exportar quase 10% da produção para 20 países dos cinco Continentes, a prioridade da Garoto continuará sendo o mercado interno.
Ao comentar os debates que o novo governo vem patrocinando sobre a reforma tributária, que pode ser votada ainda neste ano no Congresso Nacional, o executivo da Nestlé aponta a carga fiscal sobre o setor de alimentos como um ponto de preocupação. “Nos países da OCDE (Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico), a média de tributação do setor alimentício fica abaixo de 10%. No Brasil, é tributado na casa de 27%, três vezes mais do que a média OCDE. Essa é a preocupação número um”, informa.
Ele também critica o que chama de “vilanização” dos produtos industrializados. “É uma ideia de que produtos industrializados, só por serem industrializados, são nocivos à saúde. Sem os produtos industrializados a gente não conseguiria alimentar a população mundial”, alerta. “Isso também toca a reforma tributária, quando a gente vê alguns movimentos para aumentar tributos de produtos industrializados pelo simples fato de serem industrializados. Esses são os pontos focais do setor de alimentos”, resume o vice-presidente da companhia.
Segundo dados da consultoria NIQ (ex-Nielsen), a venda de chocolates no país cresceu 4,7% em 2022 na comparação com o ano anterior. No mesmo período, o setor de alimentos como um todo teve retração de -2,5%.