Apesar das medidas anunciadas pelo governo para reduzir o preço dos carros populares, há outro obstáculo para quem sonha em comprar um veículo: os juros altos. Poucas pessoas atualmente conseguem se planejar para comprar um automóvel à vista, e quem depende de financiamento viu o custo saltar nos últimos dois anos.
De acordo com o Banco Central, o juro médio para financiamento de veículos foi de 2,10% em abril, o equivalente a 28,32% ao ano. Em 2021, a taxa média das instituições financeiras na modalidade era de 1,63% ao mês, ou 21,75% ao ano. A disparada ocorreu em meio a elevação da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%.
Hoje, os automóveis zero mais em conta encontrados no mercado são os modelos Renault Kwid e Fiat Mobi, vendidos por R$ 68.990. O governo dará descontos em tributos para as montadoras como IPI e PIS/Cofins. As reduções nos preços finais vão variar de 1,5% a 10,96%, a depender de critérios como preço, eficiência energética e densidade industrial.
A expectativa, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é que a redução de impostos baixe o preço inicial de carros compactos com motor 1.0 para uma faixa abaixo dos R$ 60 mil. Considerando o valor projetado e uma entrada de 10% à vista, uma simulação feita pelo Correio mostra que o preço do veículo pode subir 60% com os juros para o parcelamento em 48 meses, opção mais viável, tendo em vista a parcela mensal de R$ 1.891,92.
O motorista de aplicativo Breno Gustavo Frederico de Aguiar, de 25 anos, está há mais de um ano pesquisando preços para comprar um carro próprio. Quando começou a trabalhar como motorista, ele vendeu o seu veículo, que já tinha mais de 10 anos de uso, e, desde então, tem trabalhado com um carro alugado, enquanto sonda os preços no mercado.
"O aplicativo exige que a gente use veículos mais novos, então, eu precisei vender o carro que tinha. Desde então, estou tentando comprar outro, mas os preços estão surreais. Não existe mais essa de carro popular, até mesmo os usados estão com preço altíssimo, não tem vantagem em comprar usado hoje em dia", contou.
Aguiar disse ter se assustado com os valores dos juros ao simular um financiamento. "Obviamente, eu não teria como dar o valor todo à vista, e os juros encarecem ainda mais o que já não está barato. Por mais que seja puxado, eu até acredito que o aluguel tem valido a pena. O preço que eu pago hoje mensalmente poderia estar bancando um financiamento, mas, ao final, o carro com certeza já não teria o mesmo valor de mercado, pois estraga e desvaloriza", afirmou. "Mas, com certeza, se os valores estivessem mais em conta, eu já teria comprado um novo", acrescentou.
Endividamento
O coordenador dos cursos automotivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Jorge Martins, afirmou que a isenção fiscal não garante o repasse ao consumidor, além de aumentar os riscos de inadimplência. "A taxa de juros em patamar elevado dificulta a venda dos veículos. Cerca de 70% a 75% dos consumidores recorrem ao financiamento. Os níveis de risco e de endividamento inibem os bancos de concederem esses empréstimos, tornando o custo do crédito ainda mais elevado", afirmou.
De acordo com Martins, na prática, o incentivo anunciado pelo governo não tem condições de reverter o quadro atual. "Há de se esperar novas medidas, bem como redução da taxa de juros nos próximos meses, pois, dessa maneira, será difícil fazer esse desconto chegar na ponta", avaliou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu, nesta sexta-feira (26/5), com a presidente da Caixa, Rita Serrano, e a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. O tema foi o crédito para compra de carros, com intuito de melhorar a política de juros adotada pelos bancos públicos.
"A taxa de juros continua sendo um empecilho, portanto é importante deixar a emoção de lado e considerar se realmente haverá uma redução real. O governo tem brigado bastante com o Banco Central neste quesito. Sobre o incentivo, ainda não há nada concreto e não sabemos se isso valerá também para os veículos que já estão no pátio da concessionária", observou o analista econômico Caio Mastrodomênico.
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