O Movimento Brasil Competitivo (MBC) apresenta nesta quarta-feira (16/5) o novo valor do custo Brasil, calculado em R$ 1,7 trilhões em estudo realizado em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). O montante representa o quanto as empresas brasileiras gastam a mais para produzir no país em comparação com a média de custo dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O estudo será apresentado em detalhes na primeira edição do Fórum de Competitividade, em Brasília, realizado pela Frente Parlamentar Brasil Competitivo. O evento terá a presença de um dos fundadores do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab.
Divulgado pela primeira vez em 2019, o valor antigo do custo Brasil era de R$ 1,5 trilhão. Ao Correio, o conselheiro executivo do MCB, Rogério Caiuby, explicou que o aumento do número ocorreu principalmente pelas questões monetárias dos últimos anos, e não significa um aumento real do custo. Na avaliação dele, alguns pontos medidos pelo indicador tiveram melhoras, como o acesso da população à banda larga, mas outros “andaram de lado” ou pioraram. Para o movimento, há uma abertura do governo federal para atacar os principais problemas que levam ao custo excessivo às empresas brasileiras, como a realização de obras de infraestrutura e melhoria da educação básica e da qualificação da força de trabalho.
Confira a entrevista completa com Rogério Caiuby:
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O sistema tributário é um dos principais elementos do custo Brasil. Como você vê a discussão atual sobre a reforma?
Essa questão da importância da reforma tributária não é recente. Tem, pelo menos, 15 anos. Então esta proposta de agora é resultado da discussão que a gente vem tendo há muito tempo. Ela tem enormes desafios para que seja aprovada, mas a gente acredita que existe um ambiente possível (para a aprovação). Já se chegou a alguns consensos. Há uma enorme complexidade no sistema tributário, o que dificulta em muito e faz com que algumas empresas não consigam pagar os tributos. Tornar o sistema mais simples é um consenso. Só para tangibilizar a questão da simplificação, o setor produtivo gasta em torno de 62 dias por ano para honrar os seus compromissos com a tributação. Na média dos países da OCDE, são seis dias. Isso é custo Brasil na veia. Agora, talvez, a discussão que esteja travando [a proposta] são as alíquotas para cada setor. É natural que o setor produtivo fique receoso. Se a gente errar na medida, pode ter um impacto relevante.
Quais outros fatores contribuem para o cálculo desse indicador?
Se a gente olhar para os principais capítulos do custo Brasil, os tributos são um deles. Outro é empregar o capital humano, o que sozinho representa quase 20% do custo Brasil. O fator que mais contribui, mais dificulta, é a questão da baixa qualificação da mão de obra, que é um fator super importante. A baixa qualidade do ensino que a gente tem no Brasil, no básico, fundamental, e médio. Só esse item representa 8% do custo Brasil, R$ 158 bilhões por ano são o quanto as empresas têm que investir nos seus profissionais. E a falta de um ensino técnico também. Na Inglaterra, Alemanha, a penetração (do ensino técnico) chega a 45%, 50%. No Brasil, mal chega a 11%. Essa é uma oportunidade enorme de poder avançar. Outro capítulo é crescer em ordem de 3,5%, 4% o PIB (Produto Interno Bruto). Atualmente, o desemprego está em 9%, que é quase pleno emprego. Mas temos 40% da economia na informalidade. Reinserir essa força de trabalho enorme por capacitação, então é um olhar no ensino brasileiro como um todo. É de fundamental importância.
Na infraestrutura, são dois aspectos. Um de acesso à banda larga. Isso a gente conseguiu avançar nos últimos quatro anos. Saiu de 14%, 15%, para quase 20%. Agora, com o 5G, isso pode continuar crescendo. Esse fator é fundamental para provocar a transformação digital do setor produtivo, não só do governo. No custo logístico, o Brasil andou de lado. Muito se fez na contratação de novos projetos, mas isso leva tempo para efetivar. Temos aprovado recentemente [em 2022] o Plano Nacional de Logística que, se conseguir tirar do papel suas métricas, trará maior participação do setor ferroviário, marítimo, e hidrovias.
Há abertura do atual governo, com a mudança de gestão, para tratar dos temas que vocês levantam?
Viemos conversando com o governo, e ele abriu todas as portas. Entende a importância de atacar o custo Brasil. A prova disso é que, no evento, vamos comunicar em conjunto esse novo número do custo Brasil junto com o Mdic.
O que representa esse aumento no número do custo Brasil, originalmente de R$ 1,5 trilhão e agora de R$ 1,7 trilhão?
A gente não gosta de falar que aumentou nem que reduziu. Grande parte desse número vem da questão monetária. Quando se olha os indicadores por dentro, alguns melhoraram – como o caso da banda larga – a grande maioria andou de lado, e alguns tiveram uma leve piora. Não dá para falar que nada foi feito. E temos também que ajustar as nossas expectativas. Esses fatores não vão ser resolvidos da noite para o dia. Eles têm um tempo de implementação até conseguir os benefícios, de quatro, cinco, dez anos. É o caso da própria reforma tributária.
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