INFLAÇÃO

Demanda por seguro de crédito cresce 30% no 1º tri após crise da Americanas, diz Coface

A combinação de variáveis adversas ao bom funcionamento do mercado crédito, como inflação e juros altos, desemprego e escalada da inadimplência fez catapultar no primeiro trimestre a demanda por seguro de crédito no Brasil

Agência Estado
postado em 12/05/2023 20:39
 (crédito: Maurenilson Freire)
(crédito: Maurenilson Freire)

A combinação de variáveis adversas ao bom funcionamento do mercado crédito, como inflação e juros altos, desemprego e escalada da inadimplência, somada aos impactos da crise das Lojas Americanas sobre os segmentos de varejo e financeiro fez catapultar no primeiro trimestre a demanda por seguro de crédito no Brasil.

Só a Companhia Francesa de Seguros de Crédito e Comércio Exterior (Coface), líder mundial no segmento, registrou expansão de 30% na demanda por seguros de crédito nos primeiros três meses deste ano em relação a igual período em 2022, segundo obtidos com exclusividade pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Sabidamente, no Brasil, empresas e empresários não têm a cultura de fazer seguros para suas operações de crédito.

Segundo a CEO da companhia francesa, Rosana Passos de Padua, não dá para afirmar, pelo menos por enquanto, se este crescimento da busca por crédito no decorrer dos primeiros três meses do ano em curso se encerra num aprendizado do empresariado que ditará uma tendência.

Mas é razoável julgar que se trata de uma movimentação provocada pelo incômodo de uma dor muito grande. Afinal de contas, no mesmo período os pedidos de recuperação judicial cresceram 38%, segundo dados que Rosana atribui à Serasa. O efeito Lojas Americanas, segundo a presidente da Coface, acabou por catalisar o processo de deterioração das finanças do setor varejista. Mas não foi só isso. A permanência da taxa básica de juro por muitos meses em 2%, no seu menor nível histórico, contribuiu muito para toda essa crise.

"O que aconteceu naquele período, e estou falando basicamente de 2019, é que com a taxa de juros muito baixa e com a economia crescendo, empresas perceberam que ali havia uma oportunidade de alavancagem para suportar o crescimento. O varejo saiu comprando, todos os grandes ficaram mais robustos com dinheiro de terceiros, com dinheiro de bancos, a 2%, 4%, o que era bastante razoável porque se você pensar que o varejo tem uma margem operacional de 6%, aquilo fazia muito sentido", contemporiza Rosana.

Com 2020 veio junto a pandemia e, com ela, o receio de que viria uma inadimplência muito forte. No entanto, não foi o que aconteceu. A inadimplência ficou muito baixa por causa das ajudas governamentais, pela disparada dos preços das commodities e a consequente enxurrada de liquidez na economia.

"Para dar um número, um indicador interno que temos na Coface e que historicamente fecha mostrando uma inadimplência de 30%, em 2021 terminou em 11%. Mas quando chegou o começo de 2022 este número dobrou. Note que isso aconteceu quando o juro começa a subir. No segundo semestre de 2022, ele dobrou de novo. E neste ano, sem o efeito das Americanas, está em 80%", lembra Rosana.

De acordo com ela, no entanto, quando se considera o efeito Lojas Americanas na equação a inadimplência explode e salta para mais de 1.000%.

"O que quero dizer é que entramos em 2023 com uma inadimplência muito grande. Estamos vivendo isso nos últimos quatro meses", afirma a CEO, acrescentando que o efeito das Americanas acabou puxando outras companhias.

Levantamento feito pelo Banco Central sobre o assunto mostra que mais de 30 mil empresas acabaram sendo, em maior ou menor grau, prejudicadas pela crise das Americanas.

"Os credores das Americanas que não receberam tiveram problemas de fluxo de caixa. Então a gente tem percebido um aumento de inadimplência de forma geral, o que para mim faz muito sentido porque, com uma taxa de juro de 13,75%, são poucos os negócios que conseguem gerar margem operacional suficiente para cobrir o serviço da dívida. Há esse descompasso e o consumo não está pujante como se esperava como em 2019", observa a CEO da Coface.

Ainda, segundo ela, a percepção de risco mudou e é por isso que as empresas têm buscado mais proteção. As grandes, médias e pequenas companhias estão preocupadas pelos seus recebíveis e clientes. Isso acontece porque a percepção que ficou é a de que se uma grande varejista se coloca numa situação de recuperação judicial e deixa de pagar, qualquer empresa pode vir a pedir recuperação judicial.

"Aliado a isso, dados também da Serasa, você tem hoje no Brasil perto de 70 milhões de pessoas físicas inadimplentes. O ponto é que essas pessoas não têm acesso a crédito e a economia brasileira se move muito a crédito, a carnês, parcelamentos no cartão de crédito, etc. O brasileiro hoje não tem poupança. Ele tem é uma dívida não paga. É um conjunto muito perigoso."

Bancos

Os bancos, de acordo com a presidente da companhia francesa, também têm procurado a Coface fortemente por seguros de crédito porque o risco sacado, que é uma operação boa, com esse processo do varejo, ficou em dúvida.

Todo mundo ficou com medo de operar risco sacado porque nestas operações o banco assume o risco. "Agora fica mais fácil você fazer uma operação financeira com bancos se tiver um seguro de crédito porque a taxa é mais acessível e o risco não fica mais com o banco, passa a ser nosso", diz a executiva.

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