O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começa, hoje, sua agenda oficial no Japão na reunião de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. O Brasil participa do evento como convidado, assim como representantes de outros países emergentes como Indonésia e Índia.
A ida de Haddad antecede o encontro dos líderes do clube de países ricos marcado para o próximo dia 19, também no Japão, que contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com interlocutores do governo, a expectativa é de que o ministro prepare o terreno para Lula, reforçando a relevância do país no cenário internacional, e discuta reformas necessárias para a economia, além de criar laços com os atores do G7 e seus convidados.
Segundo Felipe Queiroz, especialista em macroeconomia, dois temas centrais devem ser tratados pelo grupo: agenda econômica sustentável e acordo para pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia. "Uma das bandeiras diplomáticas do Brasil será a da preservação ambiental, do reflorestamento da Amazônia e das ações contra mudanças climáticas. Outro ponto é que o país, historicamente, defende uma posição pacifista de política externa, e esse discurso deve ser entoado do G7", afirmou.
Um ponto crucial do encontro é o reforço da imagem do Brasil como mediador de conflitos. A ida simultânea do assessor especial da Presidência, o ex-chanceler Celso Amorim, à Ucrânia, será importante, de acordo com especialistas, para retomar a percepção de neutralidade do país após uma aproximação com China e Rússia que foi criticada por Estados Unidos e países da Europa, levando adiante o plano de Lula de criar "um grupo da paz" capaz de negociar o fim do conflito no Leste europeu.
O G7 tem dado à Ucrânia ajuda financeira e militar desde que a Rússia invadiu o país. "O convite é importante para a estratégia do Brasil de fortalecer a percepção do país como mediador. Neste sentido, a ida de Celso Amorim à Ucrânia, após as declarações desastradas de Lula igualando russos e ucranianos como responsáveis pela guerra, visa servir como uma ponte. É um movimento para calibrar a posição brasileira, condição necessária para que o país possa negociar o conflito", avaliou Pedro Feliu, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
Feliu acredita ainda que o Brasil pode articular também algum tipo de negociação para tentar salvar a Argentina da crise econômica. "O presidente Alberto Fernández já sinalizou que quer ajuda na recuperação econômica argentina, e ajudar o país vizinho será uma barganha importante, pois o FMI (Fundo Monetário Internacional) é, justamente, controlado pelo G7. Isso fortalece o papel do Brasil como liderança sul-americana e é uma estratégia importante de parceria entre os dois países", observou.
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Temas
Nesta quinta-feira, Haddad viaja de trem para Niigata, cidade que vai sediar a reunião do G7. A primeira atividade será um encontro com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, para tratar da reforma do Banco Mundial, entre outros temas de interesse bilateral. Amanhã, o ministro conversa com o economista Joseph Stiglitz sobre política industrial verde. As atividades do grupo começam neste dia e Haddad tem presença confirmada em todas as sessões. O retorno para o Brasil está previsto para sábado.
"A primeira mesa, que contará também com a presença de Stiglitz, abordará o futuro do Estado de bem-estar social. A segunda sessão discutirá a macroeconomia dos países emergentes, e a terceira focará no desafio do financiamento, sobretudo na área de infraestrutura", informou o Ministério da Fazenda.
Auxiliares do presidente Lula já sinalizaram que o governo deve tentar ainda convencer os líderes do G7 de que o Brasil é a ponte ideal para reabrir algum tipo de diálogo entre o grupo e o Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Um chefe de Estado brasileiro não era convidado para o G7 desde 2009, quando o próprio Lula era presidente, e o mundo atravessava a crise financeira global desencadeada pela quebra do banco Lehman Brothers, nos EUA, no ano anterior.
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